Inundações repentinas na Espanha deixam dezenas de mortos na pior catástrofe natural em décadas no país
Rei Felipe VI disse que ainda não era possível estimar o dano total provocado pelas chuvas.
Regiões sul e leste do país, especialmente área de Valência, receberam um volume torrencial de chuvas em 24 horas; equipes de busca ainda tentam resgatar sobreviventes
Por O Globo, com agências internacionais — Valência, Espanha - 30/10/2024
Homens correm ao lado de um carro coberto de lama em uma rua inundada em Alora, perto de Málaga — Foto: JORGE GUERRERO / AFP
Carros afetados por enchentes em Picuana, em Valência — Foto: AFP
Carro ficou coberto de lama em uma rua alagada em Alora, perto de Málaga, após temporal atingir o sul da Espanha — Foto: JORGE GUERRERO / AFP
Ao menos 72 pessoas morreram após chuvas torrenciais varrerem o sul e o leste da Espanha entre a segunda e a terça-feira, provocando inundações repentinas que deixaram carros, ruas e casas embaixo d'água. Cerca de 2 mil soldados e equipes de resgate e segurança foram mobilizados para auxiliar operações emergenciais de busca, resgate e salvamento, principalmente na região de Valência — a mais atingida pelo que já é um dos piores desastres naturais a atingir o país em décadas e a Europa nos últimos anos. O governo espanhol decretou três dias de luto oficial, enquanto os trabalhos de busca continuam e autoridades locais e meteorológicas se preparam para possíveis novas enchentes em regiões como a Catalunha.
Quase todas as mortes confirmadas pelas autoridades até o momento — o serviço de busca segue mobilizado a procura de desaparecidos — ocorreram na região leste de Valência. A província vizinha de Castela-La Mancha também foi duramente afetada, com a confirmação de ao menos uma morte. Um conselho de ministros se prepara para declarar a zona uma área "altamente afetada por fenômeno natural" para facilitar administrativamente o envio de recursos, enquanto já estão sendo empregados na operação de resgate 344 veículos e helicópteros, além de um avião. Cães- farejadores também foram levados para a região para auxiliar o trabalho das equipes de emergência na localização de pessoas perdidas e de cadáveres.
Inundações repentinas na Espanha deixam ao menos 51 mortos
Chuvas torrenciais e fortes ventos atingiram a Espanha desde o início da semana, com inundações em Valência e na região da Andaluzia. Mais de um mês de chuva caiu em menos de 24 horas em algumas áreas, deixando pessoas ilhadas e interrompendo serviços de transporte ferroviário, terrestre e aéreo, e provocando o fechamento de escolas. Águas da enchente varreram casas, fizeram carros flutuar por ruas submersas e interromperam acessos ao leste do país.
A Agência Estatal de Meteorologia da Espanha (Aemet) emitiu, nesta quarta, alertas de novos temporais no nordeste e no sudoeste, com previsão de uma tempestade preocupante perto da cidade de Cádiz.
O governo regional da Catalunha também emitiu alertas para a população civil em um momento em que há previsão de mais chuva e foi registrado um aumento preocupante no volume do rio Ripoll e do riacho Rubí, que cruzam municípios da região de Barcelona. Autoridades alertaram para o risco de uma subida abrupta do nível das águas, pedindo que evitem deslocamentos para a região.
Na Comunidade Valenciana, algumas áreas permaneciam sem serviço de telefonia e energia elétrica nesta quarta-feira, e partes da região estavam inacessíveis, segundo o presidente regional, Carlos Mazón, que solicitou que a população evitasse pegar a estrada.
— As pessoas que estão agora mesmo paradas ou bloqueadas, saibam que a ajuda vai chegar e que, se não tiverem chegado, não é por falta de meios, nem por falta de predisposição, nem por falta de capacidade. Conseguir acesso ainda é um problema — explicou Mazón .
Uma linha telefônica criada para que a população pudesse ter acesso a serviços de emergência havia recebido 30 mil chamadas, de acordo com um balanço divulgado por Mazón por volta das 13h (9h em Brasília). Há algumas situações críticas em andamento, como na Penitenciária de Picassent, onde cerca de 2 mil presos e 140 agentes penitenciários estão ilhados pela chuva.
A catástrofe, que é a maior em número de vítimas na Espanha desde que uma enxurrada matou 86 pessoas e destruiu um camping na província de Huesca, em 1996, provocou uma onda de comoção e solidariedade. O governo espanhol decretou luto oficial de três dias, enquanto o Congresso respeitou um minuto de silêncio em homenagem às vítimas.
—Toda nossa solidariedade e carinho às famílias das pessoas que morreram nesta tragédia e para aqueles que, neste momento, continuam procurando seus entes queridos. A Espanha chora com todos vocês — disse o primeiro-ministro Pedro Sánchez, em uma declaração no Palácio de La Moncloa. — A administração pública está trabalhando. Estamos trabalhando de forma coordenada para fazer o possível e vamos disponibilizar todos os meios necessários hoje, amanhã e pelo tempo que for necessário para que possamos nos recuperar desta tragédia, não vamos deixá-los sozinhos.
A família real da Espanha também disse estar "desolada" com o desastre, enviando uma mensagem de solidariedade ao público. Em uma declaração separada, a partir das Ilhas Canárias, o rei Felipe VI disse que ainda não era possível estimar o dano total provocado pelas chuvas.
— Houve uma enorme destruição de infraestruturas e bens materiais de muitas pessoas. Não há, porém, informações completas do impacto, do alcance e dos efeitos, incluindo das possíveis vítimas — disse o monarca.
Crise climática
Valência, que costuma ter cerca de 77 mm de chuva no mês de outubro, excedeu muito a média esperada. Dados de serviços meteorológicos da Europa apontam que só a localidade de Chiva, à leste da cidade de Valência, registrou 320 mm de precipitações em quatro horas. A agência meteorológica estatal AEMET declarou alerta vermelho na região e o segundo nível de alerta em partes da Andaluzia. Em ambas as regiões, há estradas bloqueadas pelas inundações.
Cientistas alertam que fenômenos meteorológicos extremos, como ondas de calor e tempestades, estão se tornando cada vez mais intensos devido às mudanças climáticas. No continente europeu, fenômenos extremos estão mais comuns.
O atual desastre espanhol, por exemplo, é o episódio com mais vítimas desde julho de 2021, quando as inundações na Alemanha e na Bélgica provocaram mais de 200 mortes e danos avaliados em bilhões de euros. (Com AFP e NYT)
https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/10/30/inundacoes-na-espanha-deixam-ao-menos-51-anos-dizem-servicos-de-resgate.ghtml
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