CE Obras do programa Água para Todos estão em atraso
Sem a estrutura prometida, comunidades inteiras dependem de caminhões-pipa
Em março de 2015, o reservatório que abastecia Santarém secou, mas, antes, a água já estava imprestável para o consumo; e há mais de um ano os moradores sofrem com a falta do recurso (Fotos: Honório Barbosa) Honório Barbosa - Colaborador A burocracia, o atraso e cortes no repasse de recursos do Ministério da Integração Nacional (MI) para o governo do Ceará emperram obras do programa "Água para Todos". O quadro de escassez de água se agrava no Interior, depois de cinco anos seguidos de chuvas abaixo da média. De um total de 832 poços do projeto, 532 ainda estão em fase de licitação. Um exemplo de que as obras não andam no ritmo necessário vem das localidades de Santarém, Fechado e Caldeirão, na zona rural de Orós. Desde 2012 que mais de 300 famílias aguardam o início das obras do Programa Água para Todos. O projeto deveria captar água no segundo maior reservatório do Estado, transferir para estações de tratamento e distribuir para as casas. Decorridos quatro anos, nada foi executado. Só há placas na beira de uma estrada de terra seca, em que a poeira não para de soprar, indicando valores, número de convênio entre a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), MI, nome da empresa construtora e prazo de 90 dias, que foi extrapolado. Deveriam ter sido investidos R$ 230 mil. Sede à beira da água "Sofremos à margem do Orós. Somos filhos da seca no entorno do segundo maior açude do Ceará", disse o professor Antônio Jorge Andrade. São seis quilômetros entre o ponto de captação de água e as casas. Santarém e as comunidades próximas enfrentam um descaso histórico do de mau aproveitamento do Açude Orós. Em março de 2015, o reservatório que abastecia Santarém secou, mas, antes, a água já estava imprestável para o consumo. Há mais de um ano que os moradores sofrem com a falta do recurso. "O abastecimento feito por caminhão-pipa é precário", disse o presidente da Associação de Moradores, Nilson Leandro. Havia dois caminhões, um da Prefeitura, para abastecer instituições públicas; e outro da Comissão Estadual de Defesa Civil, que foi suspenso na semana passada por atraso no pagamento ao pipeiro. Os moradores fazem fila em uma caixa d'água, que chamam de chafariz, à espera da chegada do carro com a água. "Há vários anos que a comunidade está mobilizada e vem cobrando a execução do projeto de abastecimento de água", lembra a professora Zeneuda Andrade Cândido. Recentemente, houve uma reunião com o titular da SDA, Dedé Teixeira. Os representantes da comunidade e o prefeito voltaram a cobrar do governo uma ação concreta. Um vídeo foi gravado durante a audiência. Dedé Teixeira disse que o governo federal priorizou a obra de transposição das águas do Rio São Francisco. "Essa decisão prejudicou o Água para Todos", afirmou o titular da SDA. "Temos de concluir 541 projetos, alguns com 80% das obras executadas, mas paralisadas". Teixeira disse, ainda, que iria abrir uma exceção para Santarém. "O governo está sabendo do problema e vamos priorizar a obra de abastecimento da comunidade. O certo é concluir o que está em andamento", frisou. Os moradores cobram agilidade, o governo alega contenção de recursos mediante a crise financeira. O diretor da escola da comunidade, Anderson Cândido, explica que a unidade tem água graças ao caminhão-pipa da Prefeitura. "Alguns culpam a administração municipal, mas a Prefeitura não pode sozinha resolver esse problema", disse. A moradora Martinha Andrade fala do sofrimento das famílias sem água. "A necessidade é grande", disse. O aposentado, Joaquim Batista, conhecido por Nezim, trabalhou na construção do açude que abastecia a comunidade, em 1978, na frente de serviço em um ano de seca, e, com tristeza, lembra que secou duas vezes - em 1983 e 2015. A SDA esclareceu que 832 poços do projeto "Água para Todos" estão sendo executados no Estado do Ceará. Uma vez perfurados, esses poços aguardarão a instalação dos sistemas de abastecimento, que terão recursos pelo MI sendo negociados. Desses 832 poços 532 estão em fase de licitação para execução e 172 já foram aprovados para serem executados com verba do projeto São José III, por meio do Banco Mundial, que também é vinculada à SDA. Esses 172 já têm os recursos liberados e devem ser executados até o fim deste primeiro semestre de 2016. No caso do sistema de abastecimento no município de Orós, a empresa licitada já está em fase de contratação dos operários para execução dos serviços com previsão para início e conclusão das obras até o fim do primeiro semestre de 2016.
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