De brownie a pipoca doce: consumo de doces cresce durante quarentena
Google Trends, de 14 a 28 de março, a busca pelo termo “brownie” no Brasil cresceu 277%.
O número de pedidos de bolos cresceu 61% no aplicativo de entregas Ifood Foto: Frederico de Souza Filico
Letycia Cardoso
Sem poder sair de casa, a nova diversão de muitos brasileiros passou a ser cozinhar receitas que, muitas vezes, não são tão saudáveis. De acordo com um levantamento feito pela plataforma digital interativa Nutricuca, 43% das pessoas avaliam que sua alimentação piorou. A mudança de hábito também foi sentida nos mercados. O Prezunic, por exemplo, registrou umaumento de 30% nas vendas de leite condensado, farinha de trigo e mistura para bolo desde o início do período de isolamento, por conta do avanço do novo coronavírus no Brasil. No Guanabara, o incremento na venda dos mesmos itens foi de 20%.
A professora Tatiana Braga, de 39 anos, conta que antes da pandemia, costumava comer crepioca de manhã e lanchar frutas. Agora, trabalhando em casa, além de acordar tarde, passou a consumir mais chocolate e pipoca doce.
— O leite condensado não entrava na minha casa há muito tempo. Mas, na Páscoa, compramos para fazer receitas e estamos inventando doces desde então. É um problema sério. Difícil fugir das guloseimas — revela.
A produtora de vídeo Thaís Caselli, de 29 anos, resolveu se aventurar na cozinha para fazer um bolo de aniversário e animar o marido, que não pôde comemorar a data. Para isso, comprou itens que não fazem parte da rotina da casa, como leite condensado e chantilly:
— Se fosse ter festa, eu iria encomendar um bolo e gastar, aproximadamente, R$ 100. Para poupar essa despesa, experimentei uma receita da minha mãe mesmo, de bolo de chocolate.
Quando não há receita de família, a própria internet serve de guia. Segundo dados do Google Trends, de 14 a 28 de março, a busca pelo termo “brownie” no Brasil cresceu 277%. A procura por “pipoca doce”, no mesmo intervalo, foi ainda maior: 384%.
O site Receitas Nestlé também registou um aumento de tráfego no período. A marca, inclusive, teve o melhor crescimento trimestral de vendas em quase cinco anos. Somente o Leite Moça, que está prestes a completar 100 anos no mercado brasileiro, teve aumento de 50% nas vendas do varejo on-line. A gerente do produto, Stephanie Arnesen Biekarck, destaca a importância do item informando que 60% dos doces brasileiros são feitos à base de leite condensado.
— As primeiras compras aconteceram de forma racional, para estoque e alimento. Depois, percebemos compras orientadas pelo emocional — analisa: — As pessoas estão fazendo mais doces como acalento.
A Nestlé ainda aproveita o momento para entrar no segmento de alimentos de passar, que inclui mel, geleias e pastas de amendoim, lançando o Moça de Passar, nos sabores avelã, churros e doce de leite.
— O produto tem como base o Leite Moça e deve chegar aos mercados ainda nesta semana — explica Stephanie.
Alta até no delivery de doces
A busca por guloseimas também cresceu nos aplicativos delivery. Segundo dados do iFood, as compras de doce e bolos aumentaram 61%, entre fevereiro e março deste ano. Os itens de padaria tiveram incremento ainda maior, de 78%. Também merecem destaque as categorias açaí, com elevação de 60%, e sorvetes, com crescimento de 56% no volume de vendas.
A propagandista Fernanda Thuswohl, de 37 anos, confessa que tem recorrido bastante ao delivery para matar a vontade de comer doces:
— Tenho comprado todos os tipos de bolo devido à ansiedade do momento.
A nutricionista Lauriane Barbosa explica que as pessoas que não têm, em geral, uma boa relação com a comida tendem a buscar prazer nos alimentos em momentos de tensão e ansiedade. Outro motivo que, segundo ela, justifica o aumento no consumo de doces é uma rotina desregulada.
— À noite, a serotonina sofre uma leve redução. Ao dormirem mais tarde, as pessoas sentem mais fome e, com o hormônio do bem-estar baixo, elas têm mais vontade de consumir doces — esclarece.
https://extra.globo.com/noticias/economia/de-brownie-pipoca-doce-consumo-de-doces-cresce-durante-quarentena-rv2-2-24392599.html
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