Luiza Trajano pede a Galípolo que não antecipe novos aumentos de juros: 'atrapalha desde o começo'
A pequena e média empresa não aguenta mais sobreviver com isso, não tem condição. Disse Trajano.
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, e Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, durante evento na Fiesp, em SP. — Foto: ALOISIO MAURI-CIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Presidente do conselho de administração do Magazine Luiza participou ao lado do presidente do BC de evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) nesta sexta-feira (14).
Por Isabela Bolzani, g1- 14/02/2025
Luiza Trajano pede a Galípolo que não antecipe novos aumentos de juros
A presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, pediu ao presidente do Banco Central do Brasil (BC), Gabriel Galípolo, que não antecipasse novos aumentos de juros.
Durante um evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Trajano afirmou que as pequenas e médias empresas do país não conseguem mais "sobreviver" com os juros elevados.
"Quero falar em nome do setor varejista, porque o varejo é o primeiro que sofre e o primeiro que demanda. A pequena e média empresa não aguenta mais sobreviver com isso, não tem condição. E é ela que gera emprego", disse a executiva.
Trajano também afirmou que é necessário que o BC "pense fora da caixa" para encontrar novas formas de controlar a inflação que não envolvam a elevação da taxa de juros.
"[Quero] pedir para ele por favor não comunicar mais que vai ter aumento de juros, porque aí já atrapalha tudo desde o começo", completou a executiva.
Em resposta, Galípolo reconheceu a preocupação de todos com o país, mas destacou que, apesar de existirem problemas estruturais que precisam ser endereçados, "dificilmente problemas antigos vão ser resolvidos com as mesmas soluções que podem não ter dado certo no passado".
"Acho que muitas vezes somos críticos ao Brasil porque muitas vezes as transformações não ocorrem na velocidade e com a linearidade que a gente gostaria que acontecesse", disse o presidente do BC.
Galípolo ainda reiterou que o BC entende os impactos que os juros e a inflação têm nas diversas camadas da sociedade de maneiras distintas, destacando que "tem alguém que não tem qualquer tipo de proteção à perda do poder aquisitivo da moeda, é a população".
"E essa é a preocupação que todos temos quando a gente vê falar sobre porque é tão importante zelar pela inflação e pela defesa da moeda. Esse é o mandato do Banco Central e é o mandato que o Banco Central não vai se desviar", completou.
Essa não foi a primeira vez que Luiza Trajano fez um pedido público de redução de juros a um presidente do BC. A executiva fez o mesmo apelo em junho de 2023, durante um evento com o então mandatário, Roberto Campos Neto.
Trajano afirmou que os empresários não estavam suportando a taxa elevada e reiterando que continuaria a fazer esse pedido até que os juros diminuíssem.
Na ocasião, Campos Neto desconversou e respondeu que representa apenas um dos nove votos necessários para aprovar a redução da taxa, que se trata de uma avaliação técnica e que ele se preocupa muito com a inflação.
Para Galípolo, tarifas dos EUA podem ser mais prejudiciais para outros países
Tarifas e quadro fiscal
Durante sua fala, Gabriel Galípolo se concentrou em outros problemas, como as recentes ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele afirmou que elas podem ser menos prejudiciais ao Brasil do que a outros países.
Segundo ele, isso ocorre porque o Brasil tem uma relação comercial menor com os EUA em comparação a outros países, como México, Canadá e outros do sudeste asiático.
"Não estou dizendo que as tarifas serão melhores para o Brasil [...], mas que, comparativamente, talvez [as tarifas] sejam menos prejudiciais para o Brasil do que para o México, por exemplo", afirmou o presidente do BC.
Galípolo também comentou sobre o quadro fiscal do país e os efeitos da política monetária na atividade econômica.
Segundo o presidente do BC, a instituição levará tempo para avaliar se os efeitos da alta de juros na economia são efetivos e não apenas uma "volatilidade" momentânea, para então reagir conforme a atividade econômica mostrar uma tendência de desaceleração.
"Esse é um mandato do BC, de colocar os juros em um patamar restritivo o suficiente, pelo tempo que for necessário, para que a inflação possa fazer a convergência para a meta. Isso não tem dúvida", afirmou.
Questionado sobre os efeitos da crise das contas públicas nos juros, Galípolo reconheceu que há incerteza no mercado sobre como o governo reagirá à desaceleração da economia e se poderia haver outro tipo de estímulo à economia por parte do governo.
"Tenho visto que o governo e o ministro Fernando Haddad reforçam sempre, de maneira incansável, seu compromisso com a questão fiscal", disse.
"Mas, do ponto de vista do BC, isso oferece um certo desafio no endereçamento, porque uma coisa é você ser preventivo quando há uma atividade econômica acelerando ou desacelerando [...], e outra coisa é você reagir a algo que é visto ou percebido pelo mercado como uma possibilidade", completou.
https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/02/14/luiza-trajano-galipolo.ghtml
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