Morador encontra fósseis em muros de residências no Recife
Quinze peixes e uma asa de inseto foram achadas num único muro. São fósseis extraídos do Sertão de Pernambuco, Ceará e Piauí.
0
Compartilhar
167
Visualizações
Professora da UFPE diz que fósseis têm mais de 110 milhões de ano (Foto: Alberto Campos/ Acervo Pessoal)
Thays EstarqueDo G1 PE
Morador da Zona Norte do Recife, o veterinário Alberto Campos, 45 anos, irá provocar o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) ainda nesta semana sobre um fato inusitado que constatou, ao caminhar pelo bairro dos Aflitos com os filhos. Alberto identificou centenas de fósseis em muros de residências e edifícios da região. A última descoberta - 15 peixes e uma asa de inseto encontrados em um muro de um dos prédios - foi a gota d`água. Segundo professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), são fósseis extraídos do Sertão, e de outros estados como Ceará e Piauí. “Estamos extraindo a história da humanidade para decorar nossos muros e casas”, lamenta o veterinário.
Em um só quarteirão, no bairro dos Aflitos, Alberto encontrou cinco residências com fósseis
(Foto: Alberto Campos/ Acervo Pessoal)
Tudo começou com uma brincadeira, que se estendeu aos três filhos. A graça era passear pelas ruas da Zona Norte e encontrar quantos fósseis conseguissem pelos prédios dos bairros. Porém, ao pesquisar, estranhou que um patrimônio da União fosse usado tão facilmente na construção civil. Segundo Alberto, só no quarteirão da Rua Doutor Malaquias, no bairro dos Aflitos, há cinco residências com fósseis.
“Era divertido, virou algo nosso, interno, sabe?! Eu não fazia ideia da proporção daquilo. Como é proibido e acontece descaradamente? Isso me incomodou de uma forma tão grande. A ideia agora é chamar a atenção do poder público porque o dono do prédio não sabe, não tem culpa. Temos que ir atrás é das mineradoras para que parem de extrair essas pedras. Não adianta punir quem venda se não punir quem extrai”, salienta o veterinário.
Fósseis estão incrustados numa Pedra Cariri (Foto: Alberto Campos/ Acervo Pessoal)
De acordo com a professora do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Alcina Barreto, os fósseis estão encrustados numa Pedra Cariri e pertencem ao período Cretáceo Inferior, com aproximadamente 110 milhões de anos. Mesmo com o inquestionável valor histórico das peças, a docente lamenta que esse achado seja comum de acontecer.
“Essas pedras são usadas, principalmente no Nordeste, como pedras ornamentais. A Pedra Cariri é um calcário laminado. Essas rochas representam uma decomposição de um grande lago que existiu no Sertão do Cariri, no Ceará. Existe lá uma excepcionalidade incrível de fósseis e todo mundo sabe disso”, explica Barreto.
Professora da UFPE alerta para fiscalização deficiente (Foto: Alberto Campos/ Acervo Pessoal)
No entanto, essa extração, desenfreada e com uma fiscalização deficiente, não ocorre apenas com as Pedras Cariri. A professora ainda alerta para a vazão de gipsita na região. De lá, sai 90% da produção de gesso de todo Brasil. Essa extração acaba carregando fósseis de espécies que viveram há 100 milhões de anos no Araripe Pernambucano.
“Eu entendo que é preciso fazer essa extração, mas podia ter um técnico de paleontologia para acompanhar. As coisas poderiam ser amenizadas, poderia ter um controle. Isso precisa ser protegido e preservado para as gerações futuras”, completa.
O G1 entrou em contato com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), responsável pela fiscalização nas regiões do Sertão do Cariri e do Araripe Pernambucano, mas ainda não obteve resposta.
Comentários