Alckmin critica plebiscito e diz que protestos não são só questão eleitoral

Segundo ele, agora as \'coisas estão numa correria enorme e confusas\'.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), criticou nesta quarta-feira (3) as propostas de realização de constituinte e de plebiscito para realização da reforma política que, para ele, deveria ter sido feita no primeiro ano do governo e da legislatura. Segundo o governador, com a reforma não ocorreu a tempo, "agora as coisas estão numa correria enorme e

A presidente Dilma Rousseff apresentou as propostas como parte da resposta aos protestos que tomaram as ruas do país em junho.  O governador afirma que os protestos não reivindicam apenas a reforma política, mas mudanças relativas à vida das pessoas. "É preciso entender melhor esse novo Brasil que nasceu das ruas, de uma enorme participação da sociedade. Não é só uma questão eleitoral", afirmou.

Alckmin afirmou que ideia de criação da assembleia constituinte é uma proposta sem sentido. "Só se faz uma assembleia constituinte ainda que específica quando você jogou fora a constituição, [quando houve uma] ruptura, [quando]  você rasgou a constituição. Não tem o menor sentido isso. A Constituição precisa ser respeitada, acatada e aprimorada. Para isso existe emenda constitucional", afirmou.

Para o governador paulista, a questão do plebiscito é complexa, por causa dos custos, estimados por ele entre R$ 400 milhões a R$ 500 milhões, e da falta de amadurecimento sobre os temas a serem respondidos.

"Muitas perguntas são muito difíceis de serem respondidas porque pressupõem outras questões que não estão claras e nem estão colocadas", afirmou.

Alckmin citou como exemplo o financiamento público de campanha. "Se o Brasil tiver quatro ou cinco partidos, com fidelidade partidária, programáticos e com cláusula de desempenho, até pode se discutir o financiamento público. Agora, com mais de 30 partidos políticos como é que vai se aprovar financiamento público de campanha?", questionou.

Na avaliação de Alckmin, os protestos dizem respeito a questões de vida das pessoas. "Há uma questão política que precisa ser enfrentada, mas é a questão da saúde, da mobilidade urbana, da impunidade, da eficiência do gasto público, a questão econômica (de um lado inflação e de outro o baixo crescimento), a preocupação em relação ao dia de amanhã, enfim, um conjunto de questões mais profundas. Me preocupa porque da forma como está sendo colocado  parece que com quatro ou cinco perguntas vai se resolver tudo. E mesmo as perguntas, como é que as pessoas vão responder?  Elas pressupõem outras questões. Não é assim tão simples", afirmou.

Alckmin afirmou que a reforma política deveria ter sido feita no primeiro ano do governo e da legislatura, quando os eleitos podem invocar a legitimidade de quem ganhou a eleição. "Tem de fazer no primeiro ano. O presidencialismo tem problemas. A campanha é dura, um dá canelada no outro, sai machucado, mas ele tem uma grande vantagem. Porque aquele que se elege vem aí com 80 milhões, 100 milhões de votos. A legitimidade das urnas, das ruas é muito forte. E isso precisa ser aproveitado para, no primeiro ano, fazer as reformas que precisam ser feitas. Isso não ocorreu."

O governador afirma que sempre defendeu que a reforma política não fosse válida para a eleição seguinte. "Sempre defendi que na reforma política você não precisasse fazer para valer na eleição em seguida. Poderia ser um pouco mais para a frente. Mas a rigor, se não houver um empenho do Executivo junto ao Legislativo, somando esforços, não sai."

Alckim disse ter dúvidas em relação ao estatuto da reeleição. "A reeleição também tenho minhas dúvidas sobre qual o melhor modelo. Não são questões simples de serem analisadas. Tem país que tem reeleição, tem outro país que não tem. Nós meio que copiamos o modelo norte-americano, de uma reeleição. Isso tem aspecto positivo, de governos aprovados poderem continuar o trabalho, e um aspecto negativo. O  modelo americano é muito descentralizado. O prefeito não precisa ser amigo do governador e o governador não precisa ser amigo do presidente. É uma federação para valer. O Brasil é uma federação de papel, onde tudo depende de Brasília. Extremamente centralizado. Por isso que a questão da reeleição não é uma unanimidade."

Do G1 em São Paulo