Pacificação de cracolândia agrada a pessoas em Quixadá

SERTÃO CENTRAL

Quixadá. Quase cinco anos após ganhar destaque na mídia através de reportagem feita pelo Diário do Nordeste, o mutirão do Campo Velho, uma área residencial popular de Quixadá, no Sertão Central do Ceará, naquela época conhecido como "Cracolândia do Sertão", volta a receber a atenção das autoridades de segurança pública. Dessa vez, o comando do 9º Batalhão Policial Militar (BPM) resolveu criar uma espécie de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) naquele local. Desde o início do mês, equipes se revezam dentro do bairro para coibir o tráfico, o confronto entre traficantes e dar segurança à população.

As viaturas estacionam em locais estratégicos, atendendo a população e abordando suspeitos, diuturnamente, no Campo Velho, no Município. Saem do "Posto de Pacificação" somente no momento de alguma ocorrência 

Para os moradores, a iniciativa funciona realmente como uma UPP volante. As viaturas estacionam em locais estratégicos, atendendo à população e abordando suspeitos, diuturnamente. Saem do "Ponto de Pacificação" somente no momento de alguma ocorrência. Os resultados estão agradando a vizinhança pacata, principalmente os pais e contrariando traficantes e usuários de drogas. "Revoltados com a dificuldade para consumirem crack, viciados quebraram algumas luminárias a pedradas", afirma um policial militar.

Segundo o comandante do 9º BPM, coronel Francisco Paiva, a estratégia foi utilizada para prevenir a ação dos criminosos, principalmente em relação ao tráfico, e reduzir os índices de violência naquela área da cidade.

Efeito positivo

Somente com o policiamento ostensivo está sendo possível inibir os traficantes. A onda de crimes registrados nos últimos meses no mutirão habitacional levou a PM a tomar essa medida. Ao invés de causar impopularidade e desconfiança a presença das patrulhas está realmente agradando a população, ressalta Paiva.

Pedindo para não ter seu nome revelado, com receio de represálias, uma aposentada de 73 anos informou ter visto a antiga favela se transformar num conjunto, em lares dignos para morar, há mais de 15 anos.

O único problema naquela época era a cachaça e mesmo assim, quando havia problema, os cachaceiros se enfrentavam na faca. Para evitar os excessos a Polícia Militar instalou um posto na esquina da casa dela.

A qualquer sinal de briga os policiais agiam, mas o ponto de apoio foi desativado. Nos últimos anos, com esses outros tipos de droga, a violência se tornou maior. A expectativa dela é o retorno do posto, agora em forma de UPP.

Para o autônomo Alberto Moreira, a presença constante dos policiais alivia a tensão do dia a dia. Outro aspecto interessante é o da relação dos policiais com a comunidade. Como passam mais tempo observando o movimento vão distinguindo quem é cidadão dos malfeitores.

Receptividade

No começo, as abordagens estavam incomodando, mas quando passaram a perceber a intenção das patrulhas, os moradores passaram a receber a presença da PM com mais simpatia. "Alguns estão inclusive começando a se aproximar dos PMs, principalmente crianças", completa.

Enquanto a Polícia Militar trabalha na pacificação do mutirão, a Polícia Civil de Quixadá mapeia mais pontos de venda de drogas e identifica os traficantes. Os delegado George Monteiro e Rosane Brasil realizam a varredura na área. Todavia, conforme Monteiro, além de contarem com um número cada vez maior de "aviões", como é conhecido quem leva a droga para os viciados, os traficantes mudam constantemente de lugar. Além de portarem sempre pequenas quantidades de drogas a qualquer sinal de risco abandonam a "boca de fumo". Esses fatores dificultam as prisões.

Mesmo assim com o apoio do Poder Judiciário e do Ministério Público os traficantes estão sendo acuados. Sem dinheiro circulando, com lucros muito abaixo do esperado, estão pressionando a clientela devedora. Alguns casos terminam em morte; um aviso para quem não paga sua dívida com o tráfico. Todos os homicídios registrados tiveram autoria identificada. "Agora, a Polícia procura os assassinos. Mas é preciso a comunidade colaborar também, denunciando anonimamente pelos telefones", explica o delegado.

Outras alternativas apontadas pelas autoridades de segurança no município são a formação de equipes multifuncionais, com assistentes sociais, psicólogos e agentes de saúde, atendendo às famílias em suas residências e a implantação do monitoramento eletrônico das áreas consideradas de risco, como o mutirão. Há mais de dois anos, policiais civis sugeriram aos lojistas e a administração municipal a instalação de câmeras e a estrutura de monitoramento na cidade, todavia, até então nenhuma providência foi tomada.

Um dos incentivadores dessa ideia é o inspetor Renato Cosmo Barbosa. Ele cita a cidade de Diadema, em São Paulo, como exemplo. Após a implantação da vigilância através das câmeras, os índices de violência reduziram acentuadamente. Além de auxiliarem a Polícia na identificação dos criminosos as filmagens podem ser utilizadas como prova. "Outra demonstração da eficiência da tecnologia no combate ao crime está na divulgação feita pela assessora especial de Políticas Sobre Drogas, Socorro França, neste domingo, no Diário do Nordeste. As câmeras ajudarão no combate ao tráfico de drogas na Capital", diz o policial.

Ponto de drogas

No início de dezembro de 2008, a reportagem do Diário do Nordeste sobre a "cracolândia" na maior cidade do Centro do Estado levou à tona a preocupação das autoridades em relação a expansão do consumo desse tipo de droga no Interior.

Na época, foram identificados 18 pontos de venda de drogas. Havia concorrência entre microtraficantes, como a Polícia define criminosos especializados em vender pequenas quantidades de narcóticos. A estratégia é utilizada por eles para evitarem a autuação por tráfico. Com poucas pedrinhas e quantidade reduzida de papelotes de cocaína, alegam ser usuários.

Houve combate e conforme as forças de segurança pública da cidade oito traficantes foram presos. Todavia, passados cinco anos, a rede de tráfico voltou a se estruturar no mutirão do Campo Velho. Na opinião do inspetor Renato Cosmo Barbosa, a preferência por aquele condomínio popular ocorre em razão do perfil dos moradores, na maioria de famílias em situação de miséria.

Os criminosos se aproveitam dessa vulnerabilidade social para recrutarem os jovens, hoje, na maioria adolescentes, para seus exércitos de narcotráfico. Melhor estruturação policial e penas maiores para os traficantes, são as outras soluções, aponta o Renato Cosmo.

ENQUETE

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"Agora, a gente se sente até mais seguro, com certeza. Os mais jovens, inclusive, estão aprendendo que a Polícia não é a nossa inimiga. Moradores têm aprovado"

José Carlos da Silva França
Servente

"Fiquei muito feliz quando os policiais passaram a ficar dia e noite aqui no bairro. Todo mundo passou a dormir com mais tranquilidade. Foi melhor para gente"

Maria das Graças da Silva
Aposentada

Mais informações

Polícia Militar do Ceará
Rua Tenente Cravo, 521
(88) 3445.1042 ou 190

Polícia Civil de Quixadá
Rua Basílio Pinto, 1445
(88) 3445.1047

ALEX PIMENTEL
COLABORADOR