CE - Manifestação termina com baderna.

O protesto realizado nas proximidades da Arena Castelão foi pacífico até os primeiros arremessos de pedras. Com gritos de "sem vandalismo", grupos de manifestantes tentavam conter os mais exaltados. Enquanto foi possível.

Com cerco fechado aos manifestantes, a Polícia respondia os ataques com balas de borracha e bombas de gás. A Polícia Militar revela que só avançou após os ataques de ativistas.

Aos olhos de defensores públicos e promotores de Justiça, a Polícia tentava pedir calma. Quando a tensão tomou contornos mais violentos, pedras de um lado e bombas do outro. Um veículo da TV Diário foi incendiado e um carro da TV Jangadeiro foi depredado. Com cerco fechado aos manifestantes, a Polícia respondia com balas de borracha e bombas de gás.

Apesar da tensão instalada desde o início, com grupo de manifestantes dizendo que iriam resistir nos confrontos com os policiais, o movimento estava pacífico e alegre, contrastando começo com o fim. Vieram movimentos sociais de vários lugares do Ceará. O agricultor Sebastião Alves, 78, saiu de Jaguaretama para reivindicar reforma agrária e também o próprio direito de protestar. Veio num grupo de 60 homens e mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). "Viemos ajudar os nossos irmãos daqui. O governo tem que saber negociar", afirmou o agricultor.

Entre os manifestantes havia enfermeiros protestando pela redução da carga horária e o aumento do piso salarial da categoria. Concentradas na Avenida Dedé Brasil, as pessoas seguiram em direção ao estádio Castelão. Com cerca de 2 Km de caminhada, já na Avenida Pedro Ramalho (continuação da Dedé Brasil), dezenas de homens do Batalhão de Choque faziam duas linhas de bloqueio. Às 13h, as ruas laterais ao movimento principal já estavam bloqueadas, fechando o cerco aos manifestantes naquela área.

Apesar dos encontros e orientações repassadas pelos ativistas nos últimos dias, o protesto, que começou pacífico, terminou em confronto.

Várias pedras e bolas de vidro e aço eram arremessadas em direção aos policiais, que revidaram a partir do momento em que, além de jogar pedras, um grupo de manifestantes furou o bloqueio de ferro colocado no cruzamento da Avenida Pedro Ramalho com a Rua Corumbá. Daí seguiram-se cenas de vandalismo. Um ônibus foi tomado, apedrejado e lançado na direção dos policiais.

O carro de reportagem da TV Diário foi arrastado para o meio da avenida e incendiado. O veículo da TV Jangadeiro foi apedrejado e por pouco seus integrantes também não foram agredidos na manifestação.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) divulgou nota em que repudia os atos de vandalismo cometidos contra veículos de emissoras de televisão em Fortaleza. "Preocupa-nos o uso de métodos violentos que buscam impedir o trabalho de cobertura jornalística e privar a sociedade do acesso à informação", afirmou Daniel Pimentel Slaviero, presidente da entidade.

Além de torcedores que iam ao estádio, clientes de um supermercado ficaram no meio do cerco. Há denúncias de abusos de policiais sendo averiguadas. Manifestantes que iam embora em uma van alegam terem sido vítimas de ação truculenta.

"A gente reconhece que, quando a tensão começou, a Polícia manteve a calma, mas quando o ´circo´ foi montado, e a imprensa achou que a culpa era nossa, eles vieram com tudo", afirma o engenheiro Pedro Diógenes, entre os manifestantes.

Delinquentes infiltrados no movimento arrastaram o carro da TV Diário do local onde estava estacionado para o meio da avenida, onde foi incendiado

Observadores

"As imagens, seja da imprensa ou dos grupos de manifestantes, são válidas para termos uma dimensão das ações e mesmo averiguar o possível excesso por parte da Polícia", afirma o promotor de Justiça Elder Ximenes, que integra a equipe de observadores do Ministério Público durante todo o protesto.

Em outra frente, defensores públicos estiveram de plantão para atender as pessoas que foram conduzidas à delegacia. "A delegada está averiguando. Algumas pessoas dizem que se manifestavam de forma pacífica e até usavam imagens para comprovar. Muitas foram liberadas em seguida", afirma a defensora pública Aline Solano Feitosa.

Vândalos tomam controle de ônibus

Os atos de vândalos na Av. Dedé Brasil assustaram os moradores da área e os torcedores que chegavam à Arena Castelão. O delegado Romério Almeida considerou que o confronto deixou uma lembrança de "cenário de guerra". Por volta das 15h, um coletivo que trazia torcedores do Shopping Parangaba para o estádio foi interceptado por delinquentes. Eles arremessaram pedras contra o veículo e deixaram os ocupantes em desespero.

O motorista foi colocado para fora do ônibus, alguns vândalos tomaram o controle do veículo e tentaram jogá-lo contra a barreira montada pelo BPChoque, da Polícia Militar.

Tropas da Força Nacional de Segurança e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) também ajudaram na contensão das pessoas que tentaram repetidas vezes avançar contra a barreira. Policiais respondiam com bombas de gás e balas de borracha.

Delinquentes também ameaçaram explodir o posto de combustível Guararapes e invadir o mercado Super do Povo, ambos na Dedé Brasil.

Grupo arremessou pedras, expulsou o motorista do veículo que levava torcedores e tentou jogar o coletivo contra barreira do BPChoque Foto: JL Rosa

Pedras e explosivos

Material diverso foi apreendido pela Polícia com os manifestantes, parte dele sugere que muitas pessoas estavam preparadas para o confronto. Os detidos portavam explosivos, estilingues, bombas, coquetel molotov (líquido inflamável feito de gasolina e cola), máscaras de gás, pneus queimados, escudos improvisados, pedras, bolas de gude e bolas de aço.

Além disso, um artefato inusitado foi arremessado contra os PMs - bolas de sinuca, cheias de pólvora e pregos, que quando eram jogadas no chão, explodiam. "Existe um grupo dentro da manifestação com o intuito de desestabilizar. O que nós queríamos era garantir a segurança e a tranquilidade. Negociamos por mais de uma hora com eles para que não avançassem, porque não queríamos o confronto", afirmou o comandante da PM, coronel Werisleik Pontes Matias, que considerou este o conflito mais violento em Fortaleza nos últimos dias. Seis PMs ficaram feridos.

A Polícia conduziu 97 pessoas ao 16ºDP (Dias Macedo). Destas, 57 adultos foram responsabilizados por algum delito e os demais liberados. Vinte e quatro adolescentes foram encaminhados à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), onde o procedimento cabível foi lavrado.

Três acusados de depredar o ônibus foram detidos. A delegada titular do 16º DP, Marília Fernandes, disse que um flagrante-delito foi lavrado contra eles, pelos crimes de dano qualificado e incitação ao crime. O trio deve permanecer preso.

Representantes da empresa Vega, a qual pertencia o coletivo, estiveram no 16ºDP para fornecer as imagens do circuito de segurança do veículo. As gravações devem ajudar na identificação dos vândalos. O coronel Weirleik disse que todo o confronto foi filmado por câmeras que estavam nas aeronaves.

MELQUÍADES JÚNIOR/MÁRCIA FEITOSA
REPÓRTERES