ORÓS-CE: Jovens de comunidade rural mantêm viva a arte popular
Orós. Jovens da localidade de Aroeira, zona rural deste município, localizado na região Centro-Sul do Ceará, apreendem diversas manifestações de arte e mantêm viva a cultura regional.
Há oito anos, crianças, adolescentes e adultos da localidade de Aroeira participam das ações do programa, ao longo do ano, com uma série de atividades artísticas, capoeira e cultivo de horta orgânica
Neste fim de semana, as atividades também incluíram oficina de teatro e festejos a São João Batista, com tradicional fogueira, danças típicas e culinária da época. O santo abençoou o sertão cearense com as chuvas que alegraram os produtores rurais do Estado.
As atividades artísticas e culturais integram o projeto Sertão Vivo, organizado por uma Organização Não Governamental (ONG), coordenada pelo cantor e compositor, Zé Vicente.
Ações
Há oito anos, crianças, adolescentes e adultos participam das ações do programa, ao longo do ano, que oferecem oficinas e capacitação em música, capoeira, pintura, plantio de horta orgânica, teatro, massoterapia, homeopatia e artes visuais.
Neste fim de semana, as ações estiveram voltadas para oficina de teatro e celebração de São João. O professor e educador teatral, Antonio Pinto, ministrou noções de técnicas de formação de ator, com ênfase em três conteúdos básicos: conhecimento próprio, imaginação e construção de personagens.
"Trabalhamos com a linha do teatro do absurdo, que propõe o inesperado", explicou Pinto. "Ao fim da oficina, teremos uma esquete", afirmou.
Para os jovens participantes, a experiência é ímpar na arte cênica. "É uma das melhores oficinas que já tivemos", disse a estudante, Mônica Moreira de Lima. A pedido dos alunos, o professor prolongava as aulas. "A turma está motivada", confirma a estudante, empolgada.
Público beneficiado
As oficinas de arte e cultura são ofertadas periodicamente e os moradores dos sítios vizinhos e do distrito de Guassussê têm a oportunidade de participar do projeto na localidade.
"O nosso objetivo é oferecer experiências de vida e convívio no semiárido, para a comunidade local", disse Zé Vicente.
O projeto propõe aos moradores cultivar a cultura do encantamento e do cuidado com a natureza, como uma sagrada matriz. Em suas músicas, Zé Vicente assume uma postura ecológica, mística e de valorização da cultura popular.
Neste ano, houve o 5º Encontro dos Guardadores de Experiências Populares de Chuva e de Sementes no Sertão. Um grupo de agricultores faz previsões sobre a quadra invernosa.
Plantas, animais e ventos podem indicar características do período de chuvas. A iniciativa objetiva manter a tradição e a memória dos antepassados.
Ocorreu também mais uma etapa da Jornada Arte na Roça, que neste ano priorizou a dança de capoeira e a prática de cultivo de horta orgânica popular com a técnica de irrigação localizada.
Os produtores aprenderam sobre uso de defensivos naturais e a importância da produção de frutos saudáveis, sem veneno. "Enfatizamos o plantio de hortaliças adequadas e mais consumidas na região", disse o instrutor, Cícero Chagas, da Associação Raízes Culturais da cidade de Altaneira, no Cariri.
Homeopatia
Moradores também participaram da primeira etapa do curso de homeopatia, sob a coordenação da Associação Brasileira de Homeopatia Popular.
"Tivemos momento de sensibilização, história, técnicas de tratamento, fórmulas, entrevista com o grupo e discussão de caso", explicou Zé Vicente.
No fim da tarde deste domingo, véspera de São João, a tradição foi mantida e a fogueira foi acessa para celebrar a cultura regional. Os mais idosos acendem o fogo e ao redor todos dão às mãos em momento de prece, agradecimento e de confraternização entre amigos e a família.
Os galhos e paus queimados são resultado de podas, de corte ecológico, sem agredir a natureza. Nos últimos dois anos, a seca castiga o sertão, mas as últimas chuvas caídas em maio e junho reanimam os produtores.
HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER
Mais informações:
Projeto Sertão Vivo
Município de Orós, Centro-Sul
Zé Vicente
(zvi@uol.com.br)
Festa da cultura movimenta distrito
Orós. A 4ª Mostra de Arte e Cultura do Sertão mais uma vez movimentou o distrito de Santarém, zona rural de Orós, na região Centro-Sul do Ceará. Neste ano, o evento teve como tema central ´Asa Branca vem, canta e encanta os vaqueiros do sertão´.
Apresentações foram realizadas nas ruas da comunidade do distrito de Santarém e findaram com diversas atrações culturais. Todos os anos, a Mostra de Arte e Cultura do Sertão atrai milhares de pessoas ao município FOTO: HONÓRIO BARBOSA
Promovido pela Organização Não governamental (ONG) Realeza Nordestina, as atividades artísticas e culturais têm por objetivo resgatar a tradição local, valorizar artistas e moradores em um espaço de reencontro das famílias. São gerados centenas de empregos diretos e mais de 100 técnicos e músicos participam do evento.
Neste ano, a mostra cultural começou na quinta-feira, dia 4, e terminou ontem, sábado. Foram três dias de festividades. O vaqueiro é o personagem central da festa com destaque para a valorização da sua musicalidade, canções de vaquejada, repentes e aboios que retratam em poemas a luta diária no sertão, nas pegas de boi, seu trabalho, os amores, a fé e a sua vida em contato direto com a natureza da Caatinga.
As apresentações foram realizadas nas ruas da comunidade e findando com diversas atrações culturais de artistas locais e regionais. A programação inclui dança, dramatização, canto coral, feira livre de artesanato e relatos de vaqueiros. José Roque, 64, apresentou depoimento sobre sua vida como agricultor e vaqueiro. São narrativas que prendem a atenção de crianças e adolescentes sobre o trabalho bravio, no sertão, para reunir, alimentar, e, no tempo, certo abater o gado. Vestido com gibão, chapéu de couro, peitoril, perneiras e chicote, José Roque representa um personagem vivo na memória dos moradores.
"É bem verdade que hoje se tange o gado pelas estradas em cima de uma moto, mas até um passado recente o serviço era feito no meio das matas fechadas, em montaria de cavalo", comparou. "Muitas coisas mudaram no sertão, nas pequenas localidades, mas a cultura e a sua história precisam ser preservados pelas futuras gerações".
O distrito de Santarém é a terra da família e onde nasceu o cantor Raimundo Fagner. A mostra traz também exposição de fotos, quadros e textos sobre o vaqueiro, o sertão e a luta diária nas fazendas.
A ONG Realeza Nordestina desenvolve atividades de arte e cultura para um grupo de 180 crianças e adolescentes. Quem já chegou também à terceira idade é assistido e participa das ações. É o caso da aposentada, Francisca Andradeno, 85 anos. "O distrito fica movimentado, muitas pessoas vêm de outras cidades para o reencontro com os amigos e a família", disse. "Mesmo com a seca, esse é um tempo bom de celebração da vida", contou.
A Mostra de Arte e Cultura do Sertão atrai milhares de pessoas do distrito de Santarém e de localidades vizinhas. A programação sempre faz uma homenagem a um personagem histórico e de relevância para cultura tradicional. No ano passado, as ações comemoraram o centenário de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que em parceria com o compositor Humberto Teixeira, criou o baião e abriu as portas para que o conhecido forró (música e ritmo) conquistasse o Nordeste e o Brasil.
As composições musicais da dupla ainda hoje são executadas e estão vivas na memória de sua gente ao falar da natureza , da vida, do amor, do sofrimento, da alegria do povo sertanejo.
"A energia da arte emana para cada um que povoa o distrito de Santarém e todos nós estamos mobilizados com o objetivo de resgatar a cultura regional, promover ações artísticas e festivas na comunidade", disse o presidente da ONG, Realeza Nordestina, Antonio Jorge. "Abraçamos os visitantes dos sítios e das cidades de Orós, Icó, Iguatu e Fortaleza".
Resgate cultural
As crenças, hábitos, tradições, a fé, gastronomia regional, danças folclóricas e a música integram o rico e variado acervo do patrimônio material e imaterial da cultural nordestina.
Esse conjunto de bens é resgatado e valorizado durante a mostra. Além das apresentações, anualmente, o evento abre espaço ações sociais em atendimento na comunidade.
Há capacitação para artistas locais, estudantes, produtores culturais, professores das escolas municipais e estaduais e interessados na cultura popular e nas artes integradas. Aproximando o ato de criar nas suas diversas linguagens, numa região que nos últimos dois anos enfrenta grande estiagem que assola mais de 170 municípios do Estado entre eles, Orós, a mostra representa um espaço de alento para os moradores, homens e mulheres, cuja vida depende das atividades agropecuárias.
Mais informações
ONG Realeza Nordestina
Distrito Santarém - Orós
Telefones: (85) 97185506 e (88) 97387997
(realezanordestina@yahoo.com.br).
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