‘Tive câncer de estômago com 5% de chance de sobrevivência. Me curei e fundei uma franquia de salões’
Descobri um câncer de estômago e me deram seis meses de vida
Michelle Wadly é co-fundadora da Fast Escova Divulgação
Por Camila Gomes, redação Marie Claire — São Paulo
Quando Michelle Wadhy descobriu um câncer de estômago, em 2013, os médicos afirmaram que ela tinha poucos meses de vida. No entanto, após passar pelo tratamento, ela ficou curada, realizou o sonho de ser mãe e deu início ao sonho de empreender
"O ano era 2009, e eu estava havia nove meses desempregada. Foi a primeira vez que eu senti a dor de não conseguir um trabalho no mercado. Comecei, então, a vender roupas e a me descobri nesse universo. Entendi que poderia gerar renda mesmo sem mesmo estar associada a uma empresa.
Finalmente, consegui um trabalho. Mas, em 2013, eu tive um problema de saúde. O corpo conta para a gente quando as coisas não estão certas. Descobri um câncer de estômago e me deram seis meses de vida. É um tumor que mata muito rápido --geralmente quando é descoberto, já está muito avançado. Mas, como eu fiz em um exame de rotina, fui diagnosticada com o tumor ainda pequeno. Vinte e cinco dias depois, quando operei, o câncer já tinha tomado todo o meu estômago. E precisei retirá-lo por inteiro.
Até então, eu agi com muita fé, muita crença. Após a cirurgia, que é muito dolorosa, eu cheguei a pesar 42 kg. Isso me debilitou muito e me deixou em depressão. Passados 22 dias, saiu o resultado da biópsia, e fiquei curada por um milagre mesmo. Foi algo sobrenatural na minha vida. Não precisei fazer quimioterapia, os médicos ficaram sem entender aquela situação.
Após quatro meses, consegui finalmente voltar às minhas atividades normais, fazer terapia e não deixar de sonhar com o propósito de ser mãe, por mais que naquele momento eu tivesse recebido um diagnóstico do médico dizendo que eu não poderia ser. Repensei a minha vida e planejei uma transição de carreira.
Depois de anos voltei a tentar engravidar, mas não conseguia. Naquele momento, o médico falou que realmente era melhor não insistir, até pela minha saúde. Em 2015, fui fazer uma fertilização in vitro, engravidei de gêmeas, porém, com cinco meses e meio eu perdi. Tive um problema no útero. Descansei e, três meses depois, fui para uma viagem de aniversário de casamento com meu marido e engravidei da Manuela, que é um presente de Deus.
Tive uma gestação tranquila, Manuela nasceu uma criança extremamente saudável, porém, no momento em que ela nasceu, eu senti que tinha algo diferente. Quando saí da maternidade, percebi que ela não fazia contato visual. Comecei a minha trajetória de buscar saber se minha filha tinha alguma coisa, passei por vários médicos. A médica bateu o olho nela e, como já tinha experiência, ela falou: 'Sua criança é especial e vou chutar que ela tem uma síndrome rara chamada palesperquial'.
Naquele momento, meu chão se abriu. Fizemos vários exames e, de fato, foi detectado que ela tinha exatamente essa síndrome. Na época, em 2016, só havia 16 casos no mundo, e o diagnóstico da minha filha era vegetativo.
Foi nesse momento que eu decidi deixar a Avon, empresa em que trabalhava havia 11 anos e onde já era uma grande executiva, com um alto salário. Abri mão disso porque, naquele momento, eu senti que precisava desse tempo para cuidar da minha filha.
Eu entendi também que o meu ciclo no universo de CLT tinha se encerrado. Quando eu fui pensar nisso, o que mais me vinha à cabeça era o seguinte: 'Eu preciso de trabalhar, mas quero escolher o meu horário. Então, vou buscar algo em que eu possa empreender'.
Fiz um acordo com a empresa, saí em janeiro de 2017. Nenhum sucesso vale o fracasso da sua família. Esse é meu princípio de vida. Eu fiquei um tempo parada cuidando da Manuela, e aquela menina que recebeu um laudo vegetativo hoje anda, brinca, está na aula de música e estuda. Ela tem as suas dificuldades, ainda não fala, mas nos ensina muito todos os dias.
Em outubro de 2017, a Márcia, que trabalhou comigo, me chamou para ser sua sócia. Ela tinha montado uma escola de estética, onde treinava e capacitava mulheres para o mercado como manicures e cabeleireiras. E me chamou para ser sócia porque não estava dando conta de cuidar de um empreendimento novo sozinha. Meu marido me ajudou financeiramente a comprar metade da empresa e fomos empreender.
Sempre foi desafiador. Nunca foi fácil, mas eu sempre tive um alvo. Eu sempre acreditei que eu podia dar um novo rumo à minha história e tinha vontade de fazer algo maior, de ter o meu negócio.
Teve um dia em que marcamos um treinamento com a equipe da escola no domingo. No sábado, foi tudo corrido e, quando tentei agendar salão, não consegui horário. Quando finalmente encontrei um que tinha horário, o preço era muito caro. Quando cheguei ao treinamento, no dia seguinte, a Márcia, minha sócia, estava do mesmo jeito que eu: desarrumada.
Durante a conversa, o rapaz falou: 'A grande virada de chave, o grande negócio que você vai fazer é quando pegar a sua dor e transformá-la em negócio. E aí vai suprir a dor do outro’.
Em 15 minutos, eu desenhei a Fast Escova, que era uma ideia justamente para resolver essa 'dor': salões com serviços rápidos, com preço acessíveis. Às vezes, você tem uma ideia, mas não adianta nada se ela não for executada. Mas eu contei para a Márcia, que virou para mim e falou 'Vamos!'.
Eu sempre falo que a boca do meu marido é a boca que fala na minha vida como um sim de Deus. Contei para ele da ideia, e ele me disse: 'A primeira coisa que vamos fazer é um plano de negócio. Vamos tentar entender se é rentável'. Fomos buscar um consultor financeiro, que fez o nosso plano de negócios, começamos a desenvolver a nossa logo e saímos em busca de profissionais.
Quando pegamos o plano de negócio, a estimativa era gastar uma média de R$ 250 mil, e nós não tínhamos esse recursos. Conseguimos um empréstimo --eu peguei R$ 30 mil, e a Márcia, R$ 30 mil. Foi com esse dinheiro que começamos a Fast Escova.
Na metade do caminho para lançar a Fast Escova, nós encontramos uma mulher que falou: 'Isso é uma franquia. Você já parou para pensar que é uma franquia?'. Deu aquele estalo, e nós fomos buscar uma advogado para entender o que era uma franquia e o que a gente precisava fazer para ter uma.
Dentro dessa caminhada, porque a inauguração foi só em outubro, a gente foi criando também propósitos para esse negócio. Vislumbramos que era um negócio que poderia gerar empregabilidade, que poderia incentivar o empreendedorismo feminino. Tinha um propósito forte por trás. Quando nós inauguramos essa primeira loja, no dia 29 de outubro de 2018, ela já nasceu como uma franquia.
Em abril de 2019, ou seja, praticamente cinco meses depois, vendemos a primeira loja. No dia 16 de março de 2020, já tínhamos uma média de 35 lojas vendidas. Veio a pandemia, que foi extremamente dolorosa e desafiadora. Nossos negócios fecharam, porque a área da beleza foi uma das mais atingidas. Mas decidimos não desistir. Pensamos nas pessoas que apostaram no nosso negócio: 'Está todo mundo em casa. Se a gente treinar essas pessoas, capacitá-las, a gente pode sair mais forte disso’.
Comecei a perceber que as pessoas queriam comprar o nosso negócio no meio da pandemia. Nós entendemos que poderíamos ter um olhar empreendedor e buscar as oportunidades em meio à crise. Começamos a montar e abrir lojas em pontos muito bons que ficaram disponíveis com a crise.
Em janeiro de 2021, chegamos ao marco de cem lojas, que era o desejo do nosso coração. Logo em seguida, batemos outro objetivo nosso, de atingir mil colaboradores. Nós decidimos vender a escola para focar 100% na Fast Escova e, hoje, temos 200 lojas vendidas, 120 lojas implantadas no Brasil e 1.700 colaboradores, falando em uma trajetória de quatro anos e meio."
https://revistamarieclaire.globo.com/eu-leitora/noticia/2023/05/tive-cancer-de-estomago-com-5percent-de-chance-de-sobrevivencia-me-curei-e-fundei-uma-franquia-de-saloes.ghtml
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