Projeto quer investigar por que as mulheres são mais afetadas pelo Alzheimer
Para entender o cérebro feminino
Antonella Santuccione Chadha: cofundadora e CEO do Women´s Brain Project — Foto: Divulgação
Rio de Janeiro
A coluna de domingo propôs uma reflexão sobre a ênfase na abordagem biológica da Doença de Alzheimer, quando fatores socioculturais, comportamentais e o meio ambiente têm enorme impacto na vida dos seres humanos. Esse é também o ponto defendido pelo Women´s Brain Project (Projeto Cérebro da Mulher), mistura de movimento e instituição criada em 2016, que quer aprofundar a discussão sobre as diferenças de gênero e sua relação com problemas neurológicos e psiquiátricos. Quem está na linha de frente da iniciativa é a médica Antonella Santuccione Chadha, sua cofundadora e CEO, que levanta algumas dúvidas sobre o que está por trás do fato de as mulheres serem mais afetadas pelo Alzheimer e apresentarem um declínio cognitivo mais rápido: “temos que investigar para distinguir o que é biológico e o que é social – e se temos uma combinação dos dois fatores”, argumenta.
Nas entrevistas que costuma dar, enfatiza que todos sabem que a educação é um fator de proteção contra o Alzheimer. No entanto, historicamente, o nível educacional das mulheres é menor e, em várias partes do mundo, há barreiras para impedir seu acesso à instrução. Além da questão hormonal, cuja produção declina a partir da meia-idade, há aspectos socioculturais que representam um risco extra: o estresse de ser cuidadora, função quase sempre feminina, pode estar relacionado a uma chance maior de desenvolver demência. “São muitos os desafios sociais que têm impacto na saúde mental e a comunidade científica já está bem consciente de que a maioria dos estudos não leva em conta a diversidade”, complementa.
Na prática, o que isso quer dizer é que medicamentos e tratamentos são elaborados a partir de pesquisas realizadas principalmente com homens brancos com menos de 60 anos – o que significaria que o atendimento da maior parte da população do planeta está bem longe de ser algo sob medida. Por isso o Projeto Cérebro da Mulher defende o fim do one-size-fits-all (o equivalente a uma medida para todos) e o exercício da medicina de precisão, personalizada para cada indivíduo.
Na literatura médica, muitas doenças neurológicas e psiquiátricas afetam as mulheres de forma diferente, mas, mesmo assim, tal característica não é levada em conta nas pesquisas. “Elas sofrem mais de depressão, transtornos de ansiedade, esclerose múltipla e até de alguns tipos de tumor no cérebro, mas ainda se dá pouca atenção a essas questões”, afirma a doutora Santuccione Chadha. Entre 2014 e 2018, a médica trabalhou na Swissmedic, o equivalente suíço da Anvisa, responsável pela aprovação de medicamentos. A experiência serviu para lhe mostrar como as mulheres são sub-representadas nos estudos clínicos, principalmente nos estágios iniciais, quando são obtidas informações relevantes sobre dosagem e toxicidade. As consequências? De cada dez casos de medicamentos reprovados, oito apresentavam efeitos colaterais severos para elas. Está na hora de entender melhor o que se passa no cérebro feminino.
https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2021/08/03/para-entender-o-cerebro-feminino.ghtml
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