Com 1.840 mortes em 24h, Brasil bate novo recorde de óbitos por Covid-19

Microbiologista explica que a segunda onda parece mais letal porque o vírus está acometendo mais pessoas

Cemitério Nossa Senhora Aparecida em Manaus, Amazonas, estado que registrou maior crescimento de mortes em 2021. Foto: MICHAEL DANTAS / AFP

País contabiliza mais de 259 mil vidas perdidas para o novo coronavírus, segundo o boletim do consórcio de veículos de imprensa

Evelin Azevedo

RIO — O Brasil bateu, pelo segundo dia consecutivo, o recorde de mortes por Covid-19 notificadas em 24h. Foram 1.840 óbitos contabilizados pelas secretarias estaduais de saúde. O país totaliza 259.402 vidas perdidas para o novo coronavírus. A média móvel também bateu um novo recorde: 1.332. É o quinto dia consecutivo que isto ocorre. O cálculo está 29% maior do que duas semanas atrás.

Veja os dez dias com maior número de mortes por Covid-19:

3/3/2021 com 1.840 mortes

2/3/2021 com 1.726 mortes

25/2/2021 com 1.582 mortes

29/7/2020 com 1.554 mortes

4/6/2020 com 1.470 mortes

11/2/2021 com 1.452 mortes

28/1/2021 com 1.439 mortes

24/2/2021 com 1.433 mortes

18/2/2021 com 1.432 mortes

4/8/2020 com 1.394 mortes

Desde as 20h de terça-feira, 74.376 novos casos foram registrados, elevando para 10.722.221 o total de infectados pelo vírus Sars-CoV-2 no país. A média móvel foi de 56.602 diagnósticos positivos, 27% maior do que o cálculo de 14 dias atrás.

A "média móvel de 7 dias" faz uma média entre o número do dia e dos seis anteriores. Ela é comparada com média de duas semanas atrás para indicar se há tendência de alta, estabilidade ou queda dos casos ou das mortes. O cálculo é um recurso estatístico para conseguir enxergar a tendência dos dados abafando o ruído" causado pelos finais de semana, quando a notificação de mortes se reduz por escassez de funcionários em plantão.

Na avaliação da epidemiologista Ethel Maciel, este número alto de mortes por Covid-19 no Brasil é o resultado de erros consecutivos.

— Erros na condução da pandemia, do que deixamos de fazer, da falta de informação ou da desinformação que o próprio governo propagou. Todas essas medidas nos fizeram chegar até aqui. Nunca terminamos uma primeira onda, nunca tivemos controle da pandemia. Emendamos uma segunda onda sem termos terminado uma primeira. Isto foi muito ruim para o Brasil, pois não implementamos medidas de desaceleração. Nunca fomos um país que fez uma política forte de utilização de máscaras, de distanciamento social. Muitas aglomerações, inclusive promovidas pelo governo.

A microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, explica que a segunda onda parece mais letal porque o vírus está acometendo mais pessoas:

Nós estamos estamos vendo mais pessoas adoecendo e, portanto, morrendo. Isso não quer dizer que o vírus é mais letal, quer dizer que ele é mais transmissível e que estamos transmitindo mais. Por causa do comportamento humano, transmitimos mais a doença e criamos novas variantes com maior capacidade de transmissão. O que era ruim ficou pior.

Maciel explica que com muitas pessoas adoecendo ao mesmo tempo, o sistema de saúde colapsa com maior rapidez e ao mesmo tempo, o que explica o pico de mortes neste momento.

— Reino Unido, Portugal, França, Espanha e Israel, por exemplo, viveram piores momentos nesta segunda onda. E justamente por isso não ser uma exclusividade do Brasil, nós deveríamos estar melhor preparados, porque tivemos quase dois meses entre a segunda onda na Europa e no Brasil. Poderíamos ter nos preparado melhor, fechado as nossas fronteiras mais rápido, ter feito mais sequenciamento genômico — enumera a epidemiologista.

De norte a sul do país, cidades e estados estão adotando novas medidas de lockdown para frear o crescimento de casos da Covid-19 e evitar novos colapsos no sistema de saúde. Toques de recolher e restrições de circulação em alguns horários, fechamento do comércio de atividades não essenciais e proibição de acesso a parques e praias são algumas das medidas adotadas pelas autoridades. São Paulo e Minas Gerais são exemplos.

São Paulo deveria ter feito uma gestão da mais agressiva da pandemia, mas não fez. Precisava ter esperado chegar a este ponto para implementarmos um lockdown? Se tivéssemos feito isto antes, de forma controlada, talvez não tivéssemos chegado até aqui (ponto de colapso). Um lockdown nacional seria muito bem vindo agora por pelo menos 14 dias para conseguirmos reduzir a transmissão da doença e ter um impacto significativo nas hospitalizações desafogando, assim, o nosso sistema de saúde.

As especialistas destacam que, além das medidas restritivas contra o coronavírus, é preciso também acelerar a vacinação.

— Neste momento, o Brasil deveria estar negociando novas doses de vacinas, negociando com países do G7 que têm mais doses do que população, vendo se haveria possibilidade de compra do excedente. O Brasil deveria estar atrás das doses, porque só vamos controlar essa pandemia com a vacina — afirma Maciel.

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Após afirmar a membros da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), na tarde desta quarta-feira, que gostaria de fechar contrato com a Pfizer ainda hoje, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou em vídeo que o tema ainda está em negociação. Segundo ele, "a partir de agora a gente segue nos trâmites de fazer esse contrato o mais rápido possível."

Se não planejarmos bem essas compras (de vacinas), o Brasil corre o risco de ser um país de não vacinados entre vizinhos e outros países vacinados. Isto pode nos tornar um pária internacional, abalar turismo, relações internacionais, ou seja, gerar uma crise geopolítica e social, além da crise sanitária. E sem vacinas e sem medidas de prevenção, vão surgir novas variantes, o que pode agravar o problema internacional e sermos banidos de visitar outros países — analisa Pasternak.

Mais de 9 milhões de doses aplicadas

Vinte e dois estados atualizaram seus dados sobre vacinação contra a Covid-19 nesta quarta-feira. Em todo o país, 7.351.265 pessoas receberam a primeira dose de um imunizante, o equivalente a 3,47% da população brasileira. A segunda dose da vacina, por sua vez, foi aplicada em 2.303.850 pessoas, ou 1,09% da população nacional.

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Os dados são do consórcio formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo e reúne informações das secretarias estaduais de Saúde divulgadas diariamente até as 20h. A iniciativa dos veículos da mídia foi criada a partir de inconsistências nos dados apresentados pelo Ministério da Saúde.

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