Mortes por Covid-19 em Fortaleza aumentam 295% em três meses
Desde novembro, a Capital passou a registrar uma elevação no número mortes mês a mês
Legenda: O ritmo crescente no número de mortes mensais se manteve em dezembro – com 159 óbito– e em janeiro de 2021, chegando a 170. - Foto: AFP
Escrito por Barbara Câmara
Após um período de queda entre maio e outubro de 2020, a quantidade de óbitos mensais pela infecção na Capital voltou a crescer em novembro do ano passado
A tendência positiva da redução de óbitos pela Covid-19, vivenciada em Fortaleza no período entre maio e outubro do ano passado, já ficou para trás. Desde novembro, a Capital passou a registrar uma elevação no número mortes mês a mês. Os dados foram confirmados pela plataforma IntegraSUS, mantida pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
Ainda em 2020, o menor número mensal de mortes havia sido contabilizado em outubro, quando 43 pacientes vieram a óbito pela infecção na cidade. No mês seguinte, a quantidade saltou para 90. O ritmo crescente se manteve em dezembro – com 159 mortes – e em janeiro de 2021, chegando a 170, um aumento de aproximadamente 295,3% em três meses.
Por trás dos números, permanecem as vidas que convivem com a perda. Na família da autônoma Thassia Cristine Rodrigues, a lembrança remete ao seu marido Juan Ignacio, que faleceu no último dia 31 de janeiro aos 42 anos. Ela conta que, a princípio, a esperança era de que ele se recuperasse rápido, já que o único sintoma que notou foi a falta de ar e logo começou a tomar os medicamentos recomendados.
Nos primeiros dias, o quadro de Juan era estável. A pior se deu depois, aos poucos, até ser necessária a internação em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Ele precisou ficar lá, sempre em alerta de que a qualquer momento ele poderia ser intubado. Com três dias de UTI, ele precisou ser intubado, foi em uma quinta ou sexta-feira, se não me engano. No domingo, ele faleceu”, lembra Thassia.
Nesse curto período, ainda na madrugada de sábado, Juan teve uma queda brusca de pressão, e seu quadro foi estabilizado logo em seguida. Ele convivia com a obesidade. “Quando foi no domingo, por volta de 11h, a gente recebeu a notícia de que ele teve uma pneumonia e falência dos órgãos. Aconteceu tudo muito rápido”, lamenta.
“Talvez se ele tivesse com menos peso, poderia reverter. Mas essa doença tá aí pra desfazer o que os médicos falam. Não é só idoso e obeso que morre, ela tá aí pra qualquer pessoa”, afirma a autônoma. Ela acredita que, de agora em diante, o que pode fazer é redobrar os cuidados para evitar que a infecção acometa qualquer outra pessoa mais próxima.
“Além da dor, o sentimento é de tristeza. Porque a gente não pôde fazer nada. Muitas pessoas ofereceram ajuda, mas infelizmente a gente não pode fazer nada. É um sentimento de invalidez, e só quem sabe é a família”, conclui.
Descumprimento de medidas sanitárias
O cenário atual de Fortaleza é resultado de uma série de descumprimentos de medidas sanitárias, além da chegada de novas variantes do coronavírus ao Estado, conforme avalia o virologista Mário Oliveira. Segundo ele, o panorama começou a ser traçado em dezembro do ano passado, com as festas de fim de ano e as frequentes aglomerações – notadamente sem o uso de máscaras.
“Nessa parte de aglomeração, nós estamos vendo agora a problemática. Aumento no número de casos, aumento de mortes e de hospitalizações, e também já iniciou uma segunda onda e as novas variantes do coronavírus estão aparecendo. Então não tem como não ter esses aumentos, porque o vírus nunca vai deixar de circular, de um número maior, enquanto as pessoas continuarem se aglomerando, principalmente sem máscara”, detalha o médico.
Próximo do colapso
Oliveira reforça que os profissionais da saúde continuam trabalhando exaustivamente, e que o sistema está próximo de entrar em colapso. “Temos aí mais de 80% das UTIs já comprometidas em vários Estados, acima do normal. A população não caiu na real, a vacinação está um pouco atrasada, então o sistema de saúde alguma hora não aguenta. Ele vai colapsar de verdade, principalmente com esse aumento no número de casos e, infelizmente, de óbitos”, diz.
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