SP tem novo recorde de mortes por Covid-19, com 365 óbitos em 24 hs
São Paulo já passa de 190 mil casos e mais de 11 mil mortes nesse período de pandemia
Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo, durante pandemia do coronavírus — Foto: Andre Penner/AP
Após anunciar estabilidade, SP tem novo recorde de mortes e casos de Covid-19, com 365 óbitos e 8.825 confirmações em 24h
Registros costumam ser maiores às terças-feiras devido ao atraso nas notificações do fim de semana. Embora tenha anunciado na segunda (15) primeira semana de estabilidade de novas mortes semanais, governo não descarta que número possa voltar a subir.
Por Marina Pinhoni, Patrícia Figueiredo e Renata Bitar*, G1 SP — São Paulo
O estado de São Paulo registrou nesta terça-feira (16) novos recordes de casos e mortes por coronavírus confirmados em 24h. Foram 8.825 casos e 365 mortes pela doença contabilizados neste período, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde. O total no estado desde o início da pandemia é de 190.285 casos e 11.132 mortes.
As novas confirmações não significam, necessariamente, que as infecções aconteceram de um dia para o outro, mas que foram contabilizadas no sistema. Tradicionalmente os números são menores no final de semana e na segunda-feira, e maiores às terças.
Nesta segunda-feira (15) o governo do estado de São Paulo anunciou que, pela primeira vez, houve um número menor de novas mortes semanais por coronavírus em comparação com a semana anterior. A diferença, no entanto, foi de apenas 3 óbitos. Entre os dias 7 a 13 de junho, o estado registrou 1.523 novas mortes por coronavírus. Nos sete dias anteriores (31 de maio a 6 de junho), o valor havia sido de 1.526.
Com o novo recorde registrado nesta terça, o governo não descarta que a média de mortes semanais possa voltar a subir. "Vamos aguardar essa semana pra ver como é que fica, pode ser que tenha um pequeno aumento. Esse processo é dinâmico, sempre dinâmico, e nós vamos medir diariamente e se necessário nós vamos tomar as medidas de diminuição, de restrição de mobilidade social", disse João Gabbardo, coordenador-executivo do comitê de saúde do estado, nesta terça.
O número de pacientes internados com suspeita ou confirmação de Covid-19 subiu para 13.735 nesta terça (16). Desses, são 5.339 em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e 8.396 em enfermaria. Na segunda (15), eram 13.327, sendo 5.309 em UTIs e 8.018 em enfermaria.
A taxa de ocupação de leitos de UTI caiu ligeiramente para 77,1% na Grande São Paulo e 70,6% no estado. Na segunda, o índice era de 77,8% na Grande São Paulo e 70,8% no estado inteiro.
Recordes anteriores
O recorde de casos registrado nesta terça supera o verificado no dia 2 de junho, quando foram confirmados 6.999 casos da doença.
Já o ápice de mortes por Covid-19 havia ocorrido no dia 10 de junho, com 340 mortes confirmadas em 24h.
Às terças-feiras os números geralmente são mais altos que em outros dias porque são contabilizados casos do final de semana. No entanto, esta terça (16) foi a que teve o maior total desde o início da pandemia.
O atual coordenador do comitê de saúde do estado, Carlos Carvalho, disse que o número de hoje era esperado.
"Como era esperado, tivemos um número menor na avaliação de domingo, ontem foi menor ainda e hoje dá um pequeno salto. Apesar de ontem para hoje termos um numero grande, isso não está diferente do que esta sendo observado nos últimos tempos", disse Carlos Carvalho.
Apesar disso, o antigo titular do comitê, o médico Dimas Covas, disse que a pandemia em São Paulo "não está sob controle, estava com uma velocidade diminuída". Ele vê com preocupação o resultado da reabertura dos comércios em algumas cidades do estado e avalia que a proposta estabelecida pelo governo estadual não foi compreendida pela população.
Ex-coordenador do comitê de saúde, Dimas Covas comenta desenvolvimento de vacina contra o novo coronavírus e situação da doença no estado de SP
Nesta terça, Carvalho, que substituiu Covas na coordenação contra o coronavírus em SP, disse que o comitê de saúde está preparado para adotar medidas mais duras caso os dados do estado piorem.
"Cabe a nós manter um olhar com bastante cuidado. Percebendo uma volta de alguns casos, além do que seria esperado, de tomarmos as medidas necessárias, inclusive, eventualmente, voltar a uma restrição maior em relação à liberação que estava sendo encaminhada", disse.
João Gabbardo, coordenador-executivo do comitê, disse que os números desta terça refletem um espalhamento do vírus em direção ao interior do estado.
"Tem que analisar que há um espraiamento do vírus para municípios que ainda não tinham apresentado casos, ou tinham um número pequeno de casos, e isso é um fenômeno esperado", disse Gabbardo.
Ele afirma ainda que os dados não são reflexo de medidas de relaxamento da quarentena porque "o número de óbitos é alterado por alguma coisa que aconteceu há 20 dias, há 30 dias atrás", e não há uma semana.
"À medida que novos municípios aumentam o número de casos, e isso está acontecendo no interior do estado, há uma tendência nesta elevação no total. O número de óbitos não reflete alguma mudança de atitude que tenha acontecido na semana passada", completou Gabbardo.
Testagem da população
A equipe do Comitê de Contingência atribuiu parte do aumento no número de casos confirmados no estado à ampliação da testagem na população.
Conforme anunciado na semana passada, os testes sorológicos (testes rápidos) passaram a ser utilizados pelo governo de São Paulo na notificação de confirmação de casos, o que não é recomendado pela OMS. Antes, só os testes de RT-PCR, que são mais precisos, eram considerados na contagem oficial da secretaria.
Coleta de secreções do nariz e da garganta com swab é necessária para exame do tipo RT-PCR — Foto: Divulgação/SRS Uberaba
O governo também passou a incluir a rede particular de laboratórios na capacidade total de testagem no estado.
De acordo com Paulo Menezes, o estado ampliou para 602.384 o total de testes já realizados para detectar o novo coronavírus. Mas esse valor inclui tanto testes sorológicos como PCR, e rede pública e particular. Portanto não é possível mensurar a ampliação, já que antes só eram divulgados dados da rede pública e de RT-PCR.
“Hoje a situação é de ter testado mais de meio milhão [525.666] de pessoas com suspeita de Covid-19 com sintomas leves, chamadas síndromes gripais. 76.718 pessoas com casos suspeitos de Covid-19 internadas, casos mais graves, totalizando mais de 600 mil testes [602.384] realizados entre PCR e teste rápido, o que realmente mostra um volume bastante maior do que vinha sendo divulgado até então”, disse Menezes.
Em maio, o governo também anunciou que ampliaria a testagem de RT-PCR para caso leves, já que até então os testes só eram feitos em pacientes graves. Os municípios, no entanto, enfrentaram dificuldade para cumprir a determinação, já que havia falta de kits de amostras para coleta de material. Nesta terça, o governo voltou a prometer que os materiais serão distribuídos.
“Nós estamos distribuindo, essa semana e a semana que vem, 250 mil kits de ‘swab’ com tubo, aqueles cotonetes para fazer coleta de amostra de PCR, pra que todos os municípios do estado de são Paulo aumentem o volume de pacientes com sintomas mais leves testados com o RT-PCR”, disse Menezes.
Teste PCR tem resultado mais confiável do que o teste sorológico
Três meses da primeira morte
A primeira morte por Covid-19 no Brasil completou três meses nesta terça (16). A primeira vítima foi um homem de 62 anos que estava internado no Hospital Sancta Maggiore, da Rede Prevent Sênior, no Paraíso, Zona Sul da capital paulista.
Ele morava na cidade de São Paulo e tinha histórico de diabetes e hipertensão, além de hiperplasia prostática — um aumento benigno da próstata que não é uma doença, mas uma condição comum em homens mais velhos e que pode causar infecções urinárias.
Homem de 62 anos é primeiro caso de morte pela Covid-19 no Brasil
Na época, o infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência para o coronavírus no estado de São Paulo, informou que a vítima teve os primeiros sintomas da doença no dia 10 de março, sendo internada quatro dias depois, dia 14, e falecendo às 16h03 de segunda-feira, 16 de março.
Dias depois da morte do filho, a mãe estava isolada em casa com sintomas da doença e disse que estava preocupada com o marido e os outros dois filhos, também idosos, que estavam internados.
Procurado pelo G1 nesta segunda-feira (15), o sobrinho da senhora não respondeu às mensagens. Há um mês, preferiu não gravar entrevista: "Minha família e eu precisamos de paz e sossego nesse momento. 🙏", disse. O advogado da família também não respondeu aos questionamentos do G1.
*Sob supervisão de Cíntia Acayaba
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