Kassab e desembargador tiveram sigilo telefônico violado, aponta PF
Na mesma investigação, Polícia Federal descobriu crimes financeiros.
Do G1 São Paulo
Investigação da Polícia Federal (PF) descobriu que o sigilo telefônico do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e do desembargador Júlio Roberto Siqueira (TJ-MS) foram quebrados por uma quadrilha especializada em violar informações. Reportagem do Jornal Nacional mostrou que a PF já começou a notificar as 180 vítimas identificadas e que o total de pessoas afetadas pelo esquema pode chegar a 10 mil (veja vídeo ao lado).
A PF diz que 27 suspeitos de integrar a quadrilha foram presos na “Operação Durkheim”, que foi iniciada na segunda-feira (26). A ação da PF descobriu que outros políticos e desembargadores também tiveram dados pessoais acessados.
A investigação durou quase dois anos. A PF afirma que os criminosos se apresentavam como detetives particulares e agiam em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Pará, Goiás e no Distrito Federal.
Segundo o inquérito, o chefe do esquema era Itamar Ferreira Damião, atual vice-prefeito eleito da cidade de Nazaré Paulista pelo PSC. Ele é suspeito de usar policiais civis, militares e federais, além de funcionários públicos, empregados de empresas de telefonia e o gerente de um banco para obter informações sigilosas de forma ilegal.
O advogado de Itamar Ferreira Damião disse que o cliente dele não é chefe de nenhuma organização criminosa e que ainda não conseguiu fazer uma análise completa das acusações.
A PF afirma que um extrato bancário vendido pela quadrilha custava R$ 30, enquanto o valor de uma escuta telefônica clandestina podia chegar a R$ 7 mil. A investigação apontou que, em uma das ações, Itamar teria pedido ao comparsa Hélio Cardoso da Silva que quebrasse o sigilo telefônico do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
Em um e-mail para Itamar, Hélio fala da dificuldade de conseguir os dados com o funcionário de uma operadora de telefonia. Mas o sigilo foi, de fato, quebrado. "É muito perigoso por se tratar de quem é, pois são monitorados. Ele tirou, mas cobrou caro, e informou que não vai fazer mais."
Segundo a polícia, quadrilha consultou também extratos do imposto de renda do senador Eduardo Braga, líder do governo no senado, do ex-ministro da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, e do desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo Luiz Fernando Salles Rossi.
Os criminosos venderam ainda extratos de clientes de um banco e quebraram o sigilo do celular de uma emissora afiliada de uma rede de TV. A estimativa é de que tenham sido acessados os sigilos bancário, fiscal, telefônico e de dados de mais de dez mil vítimas. Desde segunda, a PF cumpre 87 mandados de busca e apreensão e outros 33 de prisão temporária. Vinte e sete pessoas já estão na cadeia.
Crimes financeiros
Enquanto monitoravam o chefe do grupo, os investigadores descobriram uma segunda quadrilha que praticava crimes financeiros. De acordo com a PF, Itamar e o suspeito de atuar como cúmplice, José Carlos Ayres, agiam como intermediadores de sete grupos de doleiros.
O dinheiro arrecadado com a venda de informações sigilosas e o de outros clientes iam principalmente para 20 contas em Hong Kong, na China, e de lá para diversos países.
Os advogados de Hélio Cardoso da Silva e José Carlos Ayres não foram localizados.
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