Advogado de Dirceu afirma que ex-ministro não fará delação premiada

'O Zé morre na cadeia, mas não faz uma delação', diz Roberto Podval.

José Dirceu é preso pela PF na Operação Lava Jato (Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo) Do G1 PR Ex-ministro José Dirceu foi preso na 17ª fase da Operação Lava Jato. O advogado Roberto Podval, que representa o ex-ministro José Dirceu, disse aos jornalistas nesta quinta-feira (6), que o cliente pode até morrer preso, mas não fará acordo de delação premiada. Podval conversou com os jornalistas na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Dirceu está detido. "O Zé morre na cadeia, mas não faz uma delação. É só conhecer o Zé Dirceu para entender que ele não quer enriquecer. Esse não era o objetivo da vida dele. Ele não é um homem que admite, pela própria estrutura e história, fazer uma delação. O Zé, talvez, seja um dos dois ou três que morrerão aqui sem fazer delação", afirmou Podval. Dirceu foi detido na segunda-feira (3), quando a Polícia Federal deflagrou a 17ª fase da Operação Lava Jato. Podval participou do depoimento de Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão de José Dirceu, e que também foi preso na Lava Jato. O advogado disse que Luiz Eduardo reconheceu aos policiais ter ido a algumas empresas para pedir dinheiro. No entanto, diz Podval, não se tratava de propina, mas de ajuda. "Ele pediu, sim. Não, propina, ele pediu ajuda. Ele estava em uma situação financeira ruim, e ele foi pedir ajuda para as pessoas com quem tinha contrato, com quem já tinha trabalhado e ele fala e esclarrece", disse Podval. Conforme o advogado, os pedidos foram feitos na época em que José Dirceu foi preso após a condenação do mensalão. No depoimento, Luiz Eduardo explicou que os pagamentos foram feitos às empresas que pertenciam a Dirceu. "Daí ter recebimento, quando o Zé já não trabalhava", explicou o advogado. Segundo Podval, Luiz Eduardo afirmou que nem todas as empresas procuradas quiseram ajudar. Dinheiro para sobreviver Questionado sobre a movimentação financeira investigada pela Polícia Federal, Podval disse que os cerca de R$ 29 milhões recebidos por Dirceu estão contabilizados e foram declarados. A quantia, afirma, foi paga em cerca de 10 anos e a maior parte foi gasta em viagens para as empresas que contrataram o ex-ministro. "Ele teve, sim, ajuda, para sobreviver. A situação era essa. O Zé nunca foi dinheirista. (...) O gasto e o custo era em política. Esse homem [Dirceu] não ficou rico. Não tem sentido o irmão estar pedindo dinheiro e a gente ficar discutindo se é ético ou não pedir dinheiro. Aí, portanto, a gente vê qual é a relação dele nesse imbróglio todo", argumentou. Prisão de Dirceu José Dirceu foi preso na casa onde mora, na segunda (3), em Brasília, por ordem do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância. A prisão dele é preventiva, ou seja, por tempo indeterminado. De acordo com as investigações do Ministério Público Federal (MPF) e da PF, José Dirceu participou da instituição do esquema de corrupção da Petrobras quando ainda estava na chefia da Casa Civil, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Outras sete pessoas foram presas na ação policial da 17ª fase da Lava Jato, deflagrada na segunda-feira. Esta etapa foi apelidada de "Pixuleco" em referência a como o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, tratava os valores supostamente recebidos de propina de empreiteiras que tinham contratos com a Petrobras. Em entrevista coletiva, o delegado da PF Igor Romário de Paula disse que Dirceu ficará preso em uma cela que já abriga duas pessoas presas por contrabando. O espaço fica em uma ala na qual também estão os ex-diretores da Petrobras Renato Duque e Nestor Cerveró e o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. Os demais presos na 17ª fase, incluindo o irmão de Dirceu, estão em outra ala. Dirceu cumpria prisão domiciliar na capital federal devido à condenação na Ação Penal 470, conhecida como "Mensalão". Por esse motivo, a transferência dele para Curitiba precisou ser autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. Os outros sete presos chegaram a Curitiba na noite de segunda-feira. Do aeroporto Afonso Pena, também foram levados para a carceragem da Polícia Federal.