Investigadora morta a tiros por dono de mansão em SP estava na polícia havia 7 anos; ela deixa filha de 5 anos
"Estamos todos destruídos. Era brilhante como policial, como amiga e como mãe", disse Thiago Delgado
Milene Estevam, investigadora, o empresário Rogério Saladino tinha 56 anos, e Alex James Gomes Mury — Foto: Reprodução/Redes sociais/Abramed
Empresário matou Milene Estevam a tiros após confundi-la com assaltante. Um policial civil que estava com ela revidou e matou o autor dos disparos e um funcionário do empresário. O caso ocorreu no sábado (16) nos Jardins, área nobre de São Paulo.
Por Kleber Tomaz, Bruno Tavares, Walace Lara, Fernando Mancini, TV Globo e g1 SP — São Paulo
Uma investigadora da Polícia Civil, um empresário e um vigilante particular morreram durante um tiroteio neste sábado (16) em frente a uma mansão nos Jardins, área nobre de São Paulo. Câmeras de segurança gravaram o que ocorreu.
A policial civil era Milene Bagalho Estevam, de 39 anos, sendo que passou sete deles na corporação. Ela deixa uma filha de 5 anos. A investigadora e o colega dela, o também investigador Felipe Wilson da Costa, foram confundidos com assaltantes pelo dono do casarão, que atirou na direção deles.
Entidades questionam uso de armas por população civil
Eles foram até a residência pedir imagens de câmeras de segurança que pudessem ter gravado ladrões que invadiram uma casa vizinha no dia anterior. Chegaram a se identificar como policiais, levavam distintivos presos a cordões, mas Rogério Saladino, dono da mansão, não acreditou.
Em seguida, o empresário baleou e matou a investigadora. Felipe reagiu e atingiu Rogério, que morreu. O funcionário dele, o vigilante particular Alex James Gomes Mury, tentou pegar a arma do patrão. Em seguida, ele também foi baleado pelo investigador e morreu no local.
Felipe, que atirou em legítima defesa, não se feriu. Milene nem sequer conseguiu pegar a arma dela para reagir. A investigadora foi enterrada no domingo (17) num cemitério da Zona Leste da capital paulista. Na cerimônia de despedida, diversas viaturas da Polícia Civil ligaram suas sirenes em homenagem a Milene.
Tiroteio deixa 3 mortos nos Jardins, bairro nobre de São Paulo
Ela atuava no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Além do diretor do Deic, Fábio Pinheiro Lopes, o secretário da Segurança Pública (SSP), Guilherme Derrite, foi ao velório da policial morta em serviço.
"Estamos todos destruídos. Era brilhante como policial, como amiga e como mãe", disse Thiago Delgado, delegado da Divisão de Roubos e Latrocínios do Deic, que trabalhava com Milene.
Por meio de nota no X (antigo Twitter), a Polícia Civil lamentou a morte da investigadora.
Segundo ele, a investigadora fez várias operações importantes na Polícia Civil, esclarecendo diversos crimes. Numa delas, entrou num aplicativo de relacionamento para se aproximar de um criminoso procurado por roubo seguido de morte. Ela fingiu estar interessada nele e marcou um encontro. Depois, com o apoio de outros policiais, ajudou a prendê-lo.
"É com imenso pesar que a Polícia Civil informa que a investigadora Milene Bagalho Estevam faleceu ontem, 16/12, no cumprimento da função", informa trecho do comunicado. "A Polícia Civil presta os mais sinceros sentimentos de solidariedade à família e aos amigos."
O caso é investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e foi registrado pela Polícia Civil como "homicídio" e "morte decorrente de intervenção policial".
A polícia informou ter encontrado "porções de maconha" e outras drogas na residência de Rogério. O Instituto Médico Legal (IML) também fará testes para saber se o empresário estava sob efeito de alguma droga ou bebida quando atacou os policiais.
Dono de mansão que matou policial tinha laboratório médico e respondeu por homicídio
Segundo a Polícia Civil, Rogério tinha autorização para ter armas em sua casa, já que era CAC (sigla para Caçador, Atirador e Colecionador de Armas). Apesar de policiais terem dito que as duas armas do empresário estavam regularizadas, o boletim de ocorrência do caso informa que uma delas estaria irregular: uma pistola calibre .45. A outra pistola: a .380 está legalizada.
Rogério era sócio-presidente do Grupo Biofast, empresa brasileira que desde 2004 atua no mercado de medicina diagnóstica, entregando resultados de exames médicos para os setores público e privado. Entre as análises realizadas estão as clínicas, anatomia patológica e biologia molecular.
O empresário namorava a modelo e arquiteta Bianca Klamt, de 37 anos. Ela chegou a postar vídeos e fotos do casal nas suas redes sociais com mensagens como "muita saudade". Rogério deixa um filho, de 15 anos, fruto de um relacionamento anterior.
Homicídio, agressão e crime ambiental
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que Rogério tinha passagens criminais anteriores pela polícia por "homicídio, lesão corporal e crime ambiental".
Por meio de nota, enviada ao g1 pela assessoria de imprensa da família de Rogério, os parentes do empresário lamentaram as mortes dele e das outras duas pessoas. E rebateram as acusações de crimes atribuídos ao empresário no passado.
Rogério foi enterrado na segunda-feira (18) num cemitério da capital.
"Nós não sabemos ao certo qual informação ele [Rogério] recebeu, não temos noção de qual informação ele recebeu que explicasse essa reação que ele teve [de atirar nos policiais]. De maneira que, com a impossibilidade de ele pode explicar o que aconteceu, é muito dificil discutirmos sobre os fatos", falou o advogado da família de Rogério, Marcelo Martins Oliveira.
A reportagem não localizou representantes ou parentes do vigilante para comentarem o assunto. Segundo o DHPP, ele "não ostentava antecedentes criminais".
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/12/19/investigadora-morta-a-tiros-por-dono-de-mansao-em-sp-estava-na-policia-havia-7-anos-ela-deixa-filha-de-5-anos.ghtml
Comentários