Fuzis e metralhadoras das Farc chegaram aos criminosos do Ceará

Farc tem rota estratégica no Ceará

[caption id="attachment_134714" align="alignleft" width="300"]-01 Fuzis e metralhadoras das Farc chegaram aos criminosos do Ceará crédito diariodonordeste[/caption] O Primeiro Comando da Capital (PCC) dominou uma rota estratégica para a chegada do armamento. Conforme uma fonte da SSPDS, pelo menos, três rotas de tráfico internacional chegam ao Ceará por Márcia Feitosa - Editora Fuzil e metralhadora em Redenção, metralhadora em Fortaleza, fuzis em Missão Velha e em Porteiras. Estas são algumas das muitas notícias de apreensões de armas, que aconteceram nos últimos meses, no Ceará. A razão da acessibilidade a elas está geograficamente distante de nós: o acordo de paz entre os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Governo e a execução do 'Rei da Fronteira' Brasil/Paraguai. Conforme uma fonte da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), por conta dos acontecimentos o Primeiro Comando da Capital (PCC) dominou uma rota promissora. No dia 15 de junho de 2016, Jorge Rafaat Toumani, um brasileiro, de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, que morava em Pedro Juan Caballero, na fronteira do Paraguai com o Brasil, foi assassinado. Um carro roubado na Argentina interceptou o Jeep Hammer blindado que ele dirigia e vários tiros de uma metralhadora ponto 50 foram disparados. Um ex-militar do Rio de Janeiro foi preso, suspeito de ser um dos atiradores. Disfarçado de grande empresário, Jorge Rafaat seria na verdade um grande fornecedor de droga do Comando Vermelho (CV) e do Primeiro Comando da Capital (PCC). Porém, havia notícias de que ele estaria se desentendendo com as facções, por conta das negociações. O título de 'Rei da Fronteira' teria sido herdado de 'Fernandinho Beira Mar', quando ele foi preso, no ano de 2002. Em tom profético, José Mariano Beltrame, então secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, antecipou praticamente tudo o que aconteceria ao Brasil com a execução do traficante, em entrevista concedida ao Jornal O Globo, em 17 de junho de 2016. "Ele era antigo fornecedor de drogas e armas do Paraguai, não permitia e não gostava que brasileiros se estabelecessem no País. Foi morto de forma cinematográfica. Temos relatórios informando que uma facção de São Paulo está no Paraguai há bastante tempo. Se isso está acontecendo, teremos brasileiros deste grupo de traficantes trazendo armas e drogas até São Paulo. De lá serão distribuídas para o País todo. É algo muito sério. O Brasil, como nação, precisa tomar uma providência", disse Beltrame. Quando ainda se davam os desdobramentos do assassinato, a Colômbia selou um acordo de paz entre o Governo e as Farc, no qual os guerrilheiros deveriam entregar suas armas. Este processo foi oficialmente iniciado, no último 3 de março, porém muitos revolucionários se desfizeram antes do armamento. Seriam estes os fuzis e metralhadoras que estariam chegando ao Brasil, inclusive ao Ceará, pela rota que era de Jorge Rafaat e hoje é do PCC. Ligações Conforme a fonte da SSPDS, ao dominar a fronteira ficou muito mais fácil para o PCC adquirir as armas das Farc e dos antigos fornecedores de Rafaat. "Mataram para controlar a rota de tráfico de droga, mas onde existem grandes esquemas de droga, existe tráfico de armas. Isso, infelizmente, não acontece a longo prazo. Eles dominam a rota e já começam a operar. As armas das Farc já chegaram, estão aqui". O PCC já tinha uma rota pela Bolívia, que chegava ao Brasil pelo Mato Grosso; outra que partia da Colômbia e entrava no Brasil por Tabatinga, no Amazonas. Agora, tem a do Paraguai que entra aqui por Foz do Iguaçu. Um militar, que há anos trabalha nas Células de Inteligência da SSPDS, disse que o Ceará é um ponto importante no tráfico de drogas e, como as armas vêm nos mesmos carregamentos, tem chegado muita coisa aqui. "Pela posição geográfica, a Capital mais próxima da Europa é Natal, mas Fortaleza tem um porto mais estruturado, então a logística sai mais barata. Arrisco dizer que mais da metade da cocaína que sai do Brasil para a Europa e a África está em contêineres que saem do porto cearense. Depois que as fiscalizações foram intensificadas no Aeroporto de Guarulhos, viramos o plano A dos traficantes", pontuou. Conforme o militar, as facções têm meios organizados para fazer com que a droga e as armas cheguem a seus aliados, em todos os estados. "Aqui no Ceará até em alto-mar já foi flagrado gente recebendo arma e droga de facção". Ele explica que as gangues menores fazem uma espécie de consórcio para adquirir armas junto às facções que são aliadas. "Geralmente, as 'bocas de fumo' de uma comunidade se juntam e compram um fuzil ou uma metralhadora, para o caso de ser preciso se defender de um possível ataque de outra facção. Aqui tem arma pesada no Lagamar, Sapiranga, Edson Queiroz, Paupina, Bom Jardim, Conjunto Palmeiras. E tudo isso é comprado por intermédio do PCC ou CV. Enquanto policial, nunca imaginei ver uma situação dessas. Nunca imaginei que essas armas pesadas fossem chegar às mãos de tanta gente", declarou. Desvalorização A fonte de SSPDS diz que chegou tanto fuzil em Fortaleza que o preço caiu. Um fuzil que custava, em média R$ 50 mil, agora custa R$ 30mil, conforme o servidor. As metralhadoras ponto 50 que pertenceram ao Exército da Bolívia, capazes de furar blindagem e derrubar helicóptero, são as mais almejadas atualmente, mas custam em média R$ 250 mil. "Tem quem compre arma para si, mas a maior parte desse armamento pertence à facção e é rotativo, ou seja, pode ser alugado. Quando os bandidos estão organizando alguma ação fazem um consórcio e dividem os gastos, inclusive com o aluguel das armas. O Ceará tem duas ponto 50 fixas, mas no Nordeste tem cerca de 10 delas para serem alugadas e podem acabar sendo usadas aqui". O servidor lembra que o Ceará não foi o único Estado atingido pelas negociações do PCC, mas ressalta que aqui os reflexos já são perceptíveis. "As negociações estão sendo feitas porque além do PCC ter o controle das rotas, é uma facção extremamente bem capitalizada. Aqui no Ceará tem criminoso com representação nacional no PCC e eles conseguem fácil o armamento, basta ter o dinheiro para pagar. O que vemos no Ceará, hoje, são os traficantes e assaltantes de banco armados, no mínimo com um fuzil AK-47, que é uma arma de guerra. Esse fuzil era a arma preferida do Bin Laden, aquela que ele aparecia em todos os vídeos. É fácil de manusear, tem alto desempenho, pode molhar, cair na areia, nada impede dela atirar. É uma arma excelente". Presos no controle A fonte diz que a Polícia tem feito seu trabalho, mas o Sistema Carcerário acaba virando uma "grande reunião para criminosos". "São eles que dão ordens no tráfico de armas. Parece piada, mas são os presos que decidem o que vai acontecer aqui fora. Não adianta prender, porque lá dentro eles se reúnem, planejam grandes ações e dão ordens aos subordinados que estão aqui fora para executarem", revela. O servidor afirma que o crime organizado é um ciclo: assaltam banco para se capitalizar e comprar droga, entregam a droga para pequenos traficantes, que vedem aos usuários e na cobrança desses entorpecentes matam quem fica devendo. "Eles têm dinheiro, têm poder, têm influência em quase toda Instituição. Fazem o que querem porque não respeitam a legislação. Passam por cima de tudo e fazem o que achar conveniente para a facção. Em contrapartida, o trabalho da Polícia é burocrático. Um policial que entrar hoje na PM ou Polícia Civil do Ceará, talvez se aposente sem ver um fuzil novo chegar para ele trabalhar. Coisa que o crime não precisa enfrentar, para eles terem um fuzil e apontarem para a cara da Polícia basta pagar". PF já investiga as rotas das armas "As rotas são reais e existe a hipótese de tudo isso estar acontecendo. Não é uma coisa descabida, consideramos bem plausível. Já é constatável que essas armas estão entrando aqui em quantidade bem maior que outrora", afirmou o delegado Francisco Martins, da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio (Delepat), da Polícia Federal, a respeito da morte do 'Rei da Fronteira' e do acordo das Farc estarem refletindo no Brasil, e no Ceará. Segundo ele, a PF já tem investigações neste sentido, aqui no Estado. "Geralmente, as armas chegam aqui em caminhões. Partem das Fronteiras em barcos para superar limitações geográficas regionais, mas dentro do Brasil se espalham por via terrestre. Eles preferem cargas de difícil manuseio e colocam cinco, seis fuzis. São várias pessoas que estão trazendo", explicou. Francisco Martins revela que este não é o primeiro momento em que é potencializada a chegada de armas ao Ceará. Segundo ele, com as ações das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro, muitos criminosos nordestinos que viviam lá voltaram. "Eles voltaram trazendo uma bagagem muito grande, que obtiveram nos morros cariocas. Trouxeram armas e isso também representou um impacto". O delegado lembra que as fronteiras brasileiras são extensas, em sua maioria secas e na selva e isto dificulta as fiscalizações realizadas nestas áreas. "São milhares de quilômetros. Não tem, infelizmente, uma solução a curto prazo. Existe mecanismos de controle e nós estamos fazendo isso. A PF tem programas em calhas de rios e se consegue muita apreensão e muita informação por lá". Farc Francisco Martins diz que não acredita em uma parceria duradoura entre PCC e os antigos integrantes das Farc, mas acha que eles podem agir de forma pontual. "Os guerrilheiros vão vender o que têm. Embora as quantidades sejam grandes, não são perenes. Essa negociação uma hora vai acabar. O que pode acontecer é que esse comércio gere outras ações planejadas. Porque não gerenciar um grande assalto, ou sequestro? Tememos que esse elo de comunicação entre esses organismos criminosos dos dois Países fomente outros tantos crimes", declarou.

destaque1