Vulcão mais perigoso da Europa pode ficar ativo após 485 anos sem erupções

A última vez que o vulcão entrou em erupção foi em 1538.

Supervulcão Campos Flégreos, na região italiana da Campânia, entrou em erupção pela última vez em 1538; estudo prevê que nova explosão possa estar prestes a ocorrer

Por Redação Galileu

Simulação da erupção do vulcão dos Campos Flégreos, no sul da Itália INGVvulcani/Reprodução

De acordo com um estudo publicado na última sexta-feira (9) na revista Communications Earth & Environment, o supervulcão Campos Flégreos — conhecido por ser o mais perigoso vulcão da Europa — poderá entrar em erupção depois de terremotos elevarem o solo onde ele fica, no sul da Itália.

Um novo derramamento de lava é mais provável porque o vulcão ficou mais fraco e propenso a fraturas, segundo a pesquisa, conduzida por especialistas da University College London (UCL), na Inglaterra, e do Instituto Nacional de Pesquisa Geofísica e Vulcanologia da Itália (INGV).

Em vez de ficar em uma tradicional montanha, o vulcão Campos Flégreos tem a forma de uma depressão suave de 12 a 14 km de diâmetro, conhecida como caldeira. Em seu topo vivem 360 mil pessoas.

Indícios de nova erupção

A última vez que o vulcão entrou em erupção foi em 1538. De lá para cá, não ocorreu mais nenhum derramamento de lava. Contudo, a formação está inquieta há mais de 70 anos, com picos de agitação de dois anos nas décadas de 1950, 1970 e 1980, e uma fase mais lenta de agitação na última década.

Durante estes períodos, dezenas de milhares de pequenos terremotos ocorreram e a cidade costeira de Pozzuoli foi levantada em quase 4 metros. Mais de 600 tremores foram registrados só em abril de 2023 — o maior número mensal até agora.

Para entenderem o que está ocorrendo, os autores do novo estudo usaram um modelo de fratura vulcânica, desenvolvido na UCL, para interpretar os padrões de terremotos e elevação do solo. “Nosso novo estudo confirma que Campos Flégreos está se aproximando da ruptura”, conta o professor de vulcanologia Christopher Kilburn, principal autor da pesquisa, em comunicado.

“No entanto, isso não significa que uma erupção seja garantida”, contrapõe Kilburn. “A ruptura pode abrir uma rachadura na crosta, mas o magma ainda precisa ser empurrado para o local certo para que ocorra uma erupção”, explica.

Os pesquisadores dizem que o efeito da agitação do supervulcão é cumulativo desde a década de 1950, o que significa que uma eventual erupção pode ser precedida por sinais relativamente fracos, como uma taxa menor de elevação do solo e menos terremotos.

Isso ocorreu também em 1994 com a caldeira Rabaul em Papua Nova Guiné, cuja atividade foi precedida por pequenos terremotos com um décimo da taxa de uma crise uma década antes. De modo similar, a resistência à tração atual do Campos Flégreos é provavelmente cerca de um terço do que era em 1984.

“É o mesmo para todos os vulcões que estão quietos há gerações”, diz Stefano Carlino, do Observatório do Vesúvio. “Campos Flégreos ainda pode se estabelecer em uma nova rotina de subir e descer suavemente, como visto em vulcões semelhantes em todo o mundo, ou simplesmente retornar ao repouso”.

Embora os cientistas não tenham 100% de certeza sobre o que poderá acontecer, o estudo marca a primeira vez que eles aplicam seu modelo baseado na física de como as rochas se quebram em tempo real para qualquer vulcão, segundo Kilburn.

O professor e seus colegas aplicarão seu método a outros vulcões que despertaram após um longo tempo, buscando estabelecer critérios mais confiáveis para decidir se uma erupção é provável.“Teremos agora que ajustar nossos procedimentos para estimar as chances de novas rotas serem abertas para o magma ou gás chegar à superfície”, diz Kilburn.

https://revistagalileu.globo.com/ciencia/meio-ambiente/noticia/2023/06/vulcao-mais-perigoso-da-europa-pode-ficar-ativo-apos-485-anos-sem-erupcoes.ghtml