Túmulo mais antigo da África: pesquisadores identificam sepultura de criança de 78 mil anos atrás
A descoberta, feita em uma caverna em Panga ya Saidi, perto da costa do Quênia
Imagem mostra a posição de Mtoto na sepultura. — Foto: Jorge González / Elena Santos / Nature
A criança, apelidada Mtoto, tinha entre 2 e 3 anos e foi enterrada em uma cova rasa dentro de caverna, segundo estudo publicado divulgado nesta quarta na revista 'Nature'. O corpo foi protegido por um pano, e a cabeça estava apoiada em um travesseiro.
Por Bruna de Alencar, G1
O túmulo mais antigo da África pode ter cerca de 78 mil anos e ser de uma criança, afirmaram pesquisadores nesta quarta-feira (5). A descoberta, publicada na revista "Nature", pode ajudar os pesquisadores a compreenderem quando os rituais funerários começaram e no que se aproximam dos costumes atuais.
“Todos esses comportamentos são, é claro, muito semelhantes aos observados em nossa própria espécie hoje, então podemos nos relacionar com esse ato mesmo que as datas de sepultamento sejam de 78 mil anos atrás", disse Nicole Boivin, arqueóloga e diretora do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana, na Alemanha, à Reuters.
A descoberta, feita em uma caverna em Panga ya Saidi, perto da costa do Quênia, aponta para o desenvolvimento do comportamento social do Homo sapiens, denominação científica do homem moderno, por meio de rituais.
Os laços afetivos ficam evidentes pelo modo que foi feito o sepultamento. A criança, apelidada 'Mtoto', que significa 'criança' em suaíli, tinha entre 2 e 3 anos e foi enterrada em uma cova rasa protegida pela caverna. O corpo foi envolvido por uma pano e a cabeça apoiada em uma espécie de travesseiro.
“A criança foi enterrada em um local residencial, perto de onde vivia esta comunidade, evidenciando como a vida e a morte estão intimamente relacionadas. Só os humanos tratam os mortos com o mesmo respeito, consideração e até ternura com que tratam os vivos. Mesmo quando morremos, continuamos a ser alguém para o nosso grupo", explicou María Martinón-Torres, diretora do Centro Nacional de Pesquisas em Evolução Humana (CENIEH), da Espanha.
Primeiro túmulo da África
Os pesquisadores não sabem dizer quando o comportamento funerário começou, mas já identificaram episódios de sepultamento entre os Homo sapiens, que surgiram há mais de 300 mil anos, e seus ancestrais, os Neandertais.
Os mais antigos sepultamentos datam de 120 mil anos atrás e foram encontrados em Israel. Por enquanto, o túmulo de ‘Mtoto’ é o mais antigo já identificado no continente africano.
Os cientistas conseguiram identificar que a criança foi colocada na sepultura com o corpo deitado de lado e com os joelhos flexionados em direção ao peito, semelhante à posição fetal.
Os ossos, que já apresentavam um alto nível de decomposição, foram levados ao Centro de Pesquisa Humana, na Espanha, envoltos em gesso para evitar que sejam ainda mais degradados.
Pela avaliação da terra retirada do chão da caverna, os pesquisadores identificaram que o corpo da criança ainda estava fresco no momento do enterro. Pela posição do crânio, ossos do pescoço, ossos do ombro e duas costelas, os cientistas acreditam que a criança teve a cabeça apoiada por um travesseiro e coberta por materiais perecíveis, que sofreram decomposição ao longo dos anos.
Na mesma caverna em que foram encontrados os ossos de ‘Mtoto’, os pesquisadores também localizaram ferramentas de pedra, utilizadas para raspar e fazer buracos, e pontas de pedras, que poderiam ser usadas como lanças. Também estavam presentes restos de várias espécies de antílopes e presas.
Devido aos achados e à localização da caverna, um planalto em uma floresta tropical, os cientistas acreditam que ‘Mtoto’ pertencia a uma comunidade de caçadores e coletores.
Concepção artística do sepultamento — Foto: Fernando Fueyo/Nature
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