Isis Valverde reflete sobre vida após divórcio e ataques de ódio contra a mãe: 'Muito agressivo'

Depois da morte de seu pai, decorrente de um infarto, em 2020, a atriz criou coragem para tomar uma série de decisões difíceis.

Atriz também comentou sobre o andamento de sua carreira internacional e revelou quase ter passado em teste para filme de Hollywood

Por 

Yasmin Setubal 

— Rio de Janeiro

Longe das novelas desde 2020, atriz interpreta Ângela Diniz no filme 'Ângela', que estreia no dia 7 — Foto: Maria Júlia Magalhães

Isis Valverde se lembra bem da vez que um ex-namorado, durante uma discussão, a puxou pelo braço com mais força. Uma red flag anunciada, que a atriz, longe das novelas desde “Amor de mãe” (2020), conseguiu reparar a tempo de evitar outra violência pior. “Não nasci com essa consciência. São atitudes problemáticas muito normalizadas e que acontecem com frequência. Despertei, consegui ver o erro naquele momento e fiquei brava feito uma onça.” Ou melhor, como uma pantera. Felizmente, as semelhanças com a socialite Ângela Diniz, conhecida também pela alcunha de “Pantera de Minas”, param nas telas de cinema, onde a atriz dá vida à conterrânea que, assim como ela, era uma mulher independente e livre, mas tornou-se vítima de um dos casos de feminicídio mais emblemáticos do país, ocorrido em dezembro de 1976.

“Ângela”, que será lançado na próxima quinta-feira, dia 7, reconta a história dos quatro meses de namoro entre a socialite e Raul Fernando do Amaral Street (conhecido como Doca Street, morto em 2020 por decorrência de um infarto), que terminou com o assassinato a tiros da mineira, à época com 32 anos, numa casa na Praia dos Ossos, em Búzios. A defesa do empresário no primeiro julgamento, ocorrido em 1979, foi baseada na tese da legítima defesa da honra, declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal há apenas um mês, em agosto deste ano. “É absurdo que, até pouco tempo atrás, existisse um argumento assegurado por lei que colocava a culpa na vítima pela violência cometida contra ela. Muitas mulheres ainda sofrem em silêncio, precisamos mudar essa realidade”, diz a atriz.

Transformação, aliás, é um assunto do qual Isis entende bem. Depois de encarar o luto pela morte de seu pai, decorrente de um infarto, em 2020, a atriz criou coragem para tomar uma série de decisões difíceis. No ano passado, encerrou seu contrato com a Globo, terminou o casamento com o modelo André Resende e se mudou do Brasil com o filho, Rael, de 4 anos, para os Estados Unidos, mirando em novos desafios profissionais. “Impossível ser a mesma pessoa depois de tudo isso. Não foi fácil. Fiquei triste e chorei muito. Mas cresci e passei para um estágio interessante.”

Em uma hora e meia de conversa, a mineira de Aiuruoca, de 36 anos, faz um balanço de suas escolhas, fala sobre o namoro com o empresário Marcus Buaiz, de 44, e levanta a bandeira da liberdade sexual feminina e da luta contra o etarismo.

Como foi dar vida a Ângela Diniz, uma mulher complexa e que teve uma morte tão trágica?

Foi uma experiência forte e de grande responsabilidade, porque falamos por essa pessoa que já existiu, remexemos no passado e nas dores dela. Muito se diz sobre manifestação (espiritual) e, quando fazemos um personagem assim, parece que atraímos energias. Por coincidência, eu e o neto da Ângela nos conhecemos no aeroporto, depois das gravações. A esposa dele veio até mim e promoveu o encontro. Ficou emocionado, disse que meu cabelo estava igual ao dela. Dei um abraço e prometi fazer um trabalho à altura de sua avó.

Você já foi vítima de alguma violência?

Já aconteceu de um namorado pegar mais forte no meu braço. Fui incisiva, pedi que ele nunca mais fizesse aquilo. Também teve um outro caso na adolescência. Um cara me abordou numa festa em Belo Horizonte, pediu para me beijar, neguei e ele me derrubou no chão. Fui agredida, me senti horrível, chorei muito. Mas não cheguei a denunciar, tive medo.

Em 2022, você encerrou o contrato com a Globo e foi para os Estados Unidos investir na carreira internacional. Como foi essa mudança?

Divido minha vida entre Los Angeles e Rio. Agora, estou morando no Brasil, porque vou participar de um projeto. Sou uma pessoa curiosa e quis sair da minha zona de conforto, estudar fora do país e ampliar a minha carreira. Tive receios, precisei me apresentar como artista do zero, atuando em outra língua. Tenho uma empresária gringa e, no momento, estou prezando por fazer conexões e me tornando capaz de abraçar qualquer oportunidade que surja. Mas fiz testes para filmes de Hollywood, antes de ter ido embora. Em 2014, cheguei no fim da seletiva para um longa da saga “Star Wars”, mas sofri um acidente de carro, que me impossibilitou de continuar.

Saiu uma matéria dizendo que um dos motivos do seu divórcio com André Resende foi o desejo de sair do país. É verdade?

Quem escreveu isso estava completamente equivocado. Com o tempo, os dois elaboraram a ideia de que estariam melhor separados. Terminar meu casamento não foi fácil, acho que nunca é para ninguém. Mas aprendi que a gente precisa deixar fluir o fim como deixamos fluir o começo. Insistir só faria o outro sofrer. Passei um ano sozinha antes de me relacionar de novo.

Como foi passar esse período sozinha?

Tinha me fechado para o mundo logo depois do divórcio, porque estava vivendo o luto, e sempre fui de emendar relacionamentos. Foi muito importante aprender a curtir a minha própria companhia, porque vi que consigo ser feliz sozinha. Eu era muito dependente do outro, sequer conseguia dormir sem alguém do lado, por medo. Ligava para amigos e pedia para ficarem comigo, ou para uma funcionária.

Como ficou a vida sexual nesse período?

Não dormi nem acordei com ninguém. Mas, claro, sou um ser humano normal, como qualquer outro. Encontrei pessoas, beijei, transei... É saudável ter uma vida sexual ativa e sou muito aberta em relação a isso. Precisamos conhecer nosso corpo, nos masturbar, nos sentir. Se a mulher quiser usar um brinquedo, que use mesmo. Se quiser dançar para o parceiro, que dance. Já tentei dançar e foi um fiasco, mas divertido, rimos. No fim das contas, sexo é imaginação, criatividade e gozar à beça.

Você assumiu publicamente seu namoro com Marcus Buaiz em junho deste ano. Fazem planos juntos?

Estou feliz. É bom ver o mar tranquilo depois de passar por águas turbulentas. Nos conhecemos por amigos em comum, mas, antes do primeiro contato, um colunista tinha publicado que eu estava tendo um affair com ele. Olhei a foto, achei bonito e me interessei. Foi quando passamos a existir um para o outro. Amigos nos aproximaram e depois foi aquela coisa de “estou em tal lugar”, “vou viajar” e, enfim, o jantar aconteceu. Ao jornalista que espalhou a fofoca mentirosa: obrigada, viu?

Tem contato com a Wanessa Camargo, ex do Marcus?

Não, ainda não nos encontramos. Mas será um prazer conhecê-la. Acho evoluído. Não tem que existir mais essa questão entre atual e ex. Todo mundo tem um passado, e a história deles foi linda, deu frutos maravilhosos, educados e felizes.

Pretende dar ao Rael um irmão, em algum momento?

Eu gostaria. Mas depende do rumo que as coisas forem tomando, se estarei trabalhando... Não penso em congelar óvulos, mas agradeço a Deus por existir essa possibilidade. Eu e Marcus não conversamos sobre isso ainda. Estamos namorando só há seis meses. Muito cedo para isso.

Seu pai faleceu em 2020. O quanto essa perda mudou sua vida?

Meu mundo caiu. Não entrei em depressão, fui agraciada por Deus, porque é uma doença séria, mas tive uma tristeza muito profunda, que chegou a me machucar. Meu pai era um suporte emocional e existencial, eu tinha aquela dependência de filha única. A morte dele serviu como uma espécie de gatilho para focar nos meus desejos e inibir meus medos, porque quando você sente o baque do fim de uma vida, qualquer outro fim de ciclo se torna menor.

A passagem do tempo te preocupa?

Diante da sociedade em que vivemos, sim, pelas coisas que sei que vou encarar. Não é sobre a minha velhice, mas sobre a que foi construída socialmente e estereotipada. Fico apavorada. Até mesmo quando você vira mãe, as pessoas começam a ditar regra sobre o tipo de roupa que você deve vestir. Espero que quando eu tiver 45, 50 anos, já tenha evoluído nessa questão.

Sua mãe, Rosalba Nable, de 59 anos, foi alvo de críticas de cunho etarista por namorar um homem 24 anos mais novo. Como isso mexeu com você?

Fiquei muito chateada, porque usaram fotos da minha mãe e fizeram chamadas horríveis na internet, a julgando e colocando como se ela estivesse namorando um bebê em vez de um homem, e estamos falando da pessoa que mais amo no mundo. Então, como filha e figura pública, achei necessário fazer um vídeo sobre etarismo, para informar e empoderar mulheres da idade dela. Vivemos numa sociedade machista e misógina, que nos tira até o direito de envelhecer. É muito agressivo.

Conheceu o namorado da sua mãe? Você se dá bem com ele?

Conheci, sim. Se minha mãe está feliz, com uma pessoa que a respeita e a ama, também fico feliz. Seja com uma mulher, ou com um cara mais jovem, quem sou para ficar julgando o desejo e a sexualidade dela? Pelo amor de Deus, gente. Já se foram anos de prisão. Está na hora de libertamos as pessoas.

https://oglobo.globo.com/ela/gente/noticia/2023/09/03/isis-valverde-reflete-sobre-vida-apos-divorcio-e-ataques-de-odio-contra-a-mae-muito-agressivo.ghtml