Apesar de pressão do governo pela redução dos juros, Copom mantém taxa básica em 13,75%
Selic em 13,75% ao ano patamar em vigor desde o início de agosto de 2022.
Por Ana Paula Castro e Alexandro Martello, TV Globo e g1 — Brasília
Sede do Banco Central em Brasília — Foto: Raphael Ribeiro/BCB
Manutenção se deu em meio a turbulências no sistema bancário global e críticas recorrentes de Lula e aliados ao atual nível da taxa de juros. Selic está no maior patamar em seis anos.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (22), manter a taxa Selic em 13,75% ao ano – patamar em vigor desde o início de agosto de 2022.
A decisão se deu em meio a turbulências no sistema bancário global e a críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de ministros do governo ao atual nível da taxa de juros (veja mais abaixo).
Em nota, o Comitê afirmou que, embora a reoneração dos combustíveis tenha reduzido a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo, ainda permanecem alguns fatores de risco para o cenário inflacionário. São eles:
a maior persistência das pressões inflacionárias globais;
a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública;
e uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.
"Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação", apontou o Comitê em nota.
Reunião
O Copom costuma se reunir a cada 45 dias para definir a taxa básica de juros da economia. Esta é a segunda reunião do grupo durante o governo Lula.
É também a quinta vez consecutiva em que o comitê manteve a mesma taxa – o resultado já era esperado pelo mercado.
Apesar da manutenção, é o maior patamar para a Selic desde novembro de 2016, ou seja, em pouco mais de seis anos.
No comunicado divulgado após a reunião desta quarta-feira, o Copom destacou também que os passos futuros da política monetária " poderão ser ajustados" e que "não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado".
Cenário
A reunião do Copom desta semana aconteceu em meio a tensões no sistema financeiro global, com a quebra de bancos nos Estados Unidos, como o SVB e o Signature Bank, além da forte crise com o Credit Suisse — que foi comprado pelo grupo suíço UBS Group por US$ 3,2 bilhões.
A turbulência no mercado financeiro, com risco de que a crise se espalhe pelo mundo, gerou uma discussão nos bancos centrais sobre os recentes aumentos nas taxas de juros. A avaliação é que juros altos estão gerando problemas de liquidez nas instituições financeiras.
Além disso, persistem as críticas do governo federal em relação ao atual patamar da taxa de juros.
Nesta terça-feira, o presidente Lula afirmou que vai continuar pressionando o Banco Central pela redução da taxa Selic — posição que foi reforçada nesta quarta pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Para Lula, a redução da taxa de juros possibilitará a aceleração do crescimento econômico do país.
Como o BC define os juros
Para definir o nível dos juros, o Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central pode reduzir o juro básico da economia.
Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação do próximo ano, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.
Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
A meta de inflação do próximo ano é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/03/22/apesar-de-pressao-do-governo-pela-reducao-dos-juros-copom-mantem-taxa-basica-em-1375percent.ghtml
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