A estudante Sabrina Cabral afirma que utilizar a expressão 'Ruma' foi para promover a 'cearensidade' — Foto: Arquivo pessoal

Criado pela estudante de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará (UFC), o projeto 'Ruma' foi vencedor do prêmio 'Mude o Mundo como uma Menina', promovido pela plataforma Força Meninas.

Por Cindy Damasceno, G1 CE

A cearense Sabrina Cabral, 22, estudante de engenharia civil da Universidade Federal do Ceará (UFC), está entre as cinco vencedoras da categoria 'Juntas somos Fortes', uma das divisões do prêmio 'Mude o Mundo como uma Menina'. Com projeto 'Ruma', que pretende levar capacitação na área de tecnologia para alunas, pessoas LGBT+ e estudantes da rede pública de ensino, ela recebeu o reconhecimento da plataforma Força Meninas, com foco no empoderamento feminino. Após a vitória, a estudante contará com a mentoria da SiliconHouse, hub de negócios do Vale do Silício e deve lançar o projeto em 2021.

A plataforma ‘Ruma’, ressalta Sabrina, receberá de forma gratuita interessados pela área STEM. "É uma sigla para referenciar disciplinas de ciências e tecnologia. Muita gente pensa que são diferentes mas elas trabalham de forma integrada", explica a estudante. Além da proposta didática, o 'Ruma' também deverá ser rede de acolhimento. Isso porque o público-alvo do programa, mulheres e pessoas LGBT+ têm pouco espaço dentro das ciências exatas. “Existe muito discurso de ódio e preconceito. Também observei isso em experiências de amigos e colegas que sofreram violência por ser parte desse público”, avalia a estudante.

Por isso, a formação oferecida pelo ‘Ruma’ também colocará como base as experiências individuais de cada participante. “A primeira fase será a capacitação em grupo, inicialmente online por conta da pandemia. Depois disso, elas vão receber mentoria individual de acordo com seus projetos de vida e suas áreas de interesse. Muitos jovens fazem muitos artigos, mas quase nunca chegam a se tornar produtos, como a pesquisa da pele de tilápia”, elabora Sabrina.

A estudante, egressa da escola pública, atribui o funcionamento do projeto à experiências pessoais. “Participei de muitos projeto gratuitos de faculdades públicas e particulares que ajudaram a entender o meu caminho, entre eles um acompanhamento na Rede Cuca. Sempre rodei a cidade para esse tipo de oportunidade. Isso foi decisivo. Talvez se eu não tivesse feito todos esses projetos e não teria conseguido entrar na minha área”.

‘Ruma’

Embora o projeto tenha ‘ganhado corpo’ ao longo da pandemia de Covid-19, a ideia base para a iniciativa surgiu no começo do ano, em um projeto ligado à Prefeitura de Fortaleza, o Bolsa Jovem. “Estava procurando formação na minha área e participei do treinamento Peace Leaders, um programa sueco de ensino com a Prefeitura. Queria fazer, primeiramente, uma plataforma de ensino para meninas e pessoas LGBT”, recorda a estudante.

Esse objetivo de trabalhar a coletividade desde o princípio está expresso no nome da causa, conta Sabrina. “Ruma é um agrupamento de qualquer coisa. É agrupar jovens em direção a um desenvolvimento sustentável e humano”, reforça. Apaixonada pela cultura do estado, a estudante salienta que utilizar a expressão cearense foi caso pensado para promover a “cearensidade”.

“Tive uma infância tipicamente cearense. Gosto da nossa cultura, a gente não valoriza tanto isso. Eu queria deixar o projeto eternizado na cultura cearense para que as pessoas, ao baterem o olho, percebam que é do Ceará, feito por cearenses para pessoas do nordeste”, conta.

A iniciativa segue os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), como pré-requisito para participar da premiação. “São 17 no total e eu escolhi os que mais se encaixavam no que eu pretendia fazer: igualdade de gênero, redução das desigualdades, cidades e comunidades sustentáveis e parcerias e meios de implementação para o desenvolvimento sustentável”, enumera.

Internacional

Além da premiação brasileira, Sabrina já alcançou reconhecimento internacional neste ano. Em outubro, antes de ser contemplada pelo programa 'Mude o Mundo como uma Menina', a estudante foi uma das lideranças juvenis do país no London Leadership Competition. A vitória deve levá-la para fora do Brasil, em 2021, com um ciclo formativo em Londres. “Vamos fazer uma imersão em inglês antes de ir para Londres. E lá, a gente vai fazer uma imersão em ciência e tecnologia e liderança durante sete dias. Essa formação vai desde visitas às universidades até a sede do Google que está em construção por lá”, comemora Sabrina.

Agora, a jovem organiza, junto a outros estudantes finalistas do projeto, uma arrecadação virtual para custear a viagem. Interessados podem tirar dúvidas sobre contribuições no e-mail contato@jovensemlondres.org.