Especialistas apontam cenário favorável para chuvas com La Niña
La Niña é o resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial (0,5°C ou menos, abaixo da média)
Escrito por André Costa / Honório Barbosa
Os principais institutos de meteorologia do Brasil confirmam a consolidação do fenômeno que pode favorecer precipitações no semiárido nordestino. A tendência, hoje, é de boa quadra chuvosa em 2021, destacam meteorologistas
O sertanejo volta seu olhar, de fé e esperança, ao céu, na torcida por boas chuvas - Foto: Honório Barbosa
A natureza tem suas próprias verdades, é fato. Apesar de exaustivos estudos e previsões conduzidos pelo homem, é impossível afirmar com precisão matemática quando e com qual intensidade ocorrerá um determinado fenômeno natural. No entanto, é possível, com a análises de múltiplos fatores, apontar uma direção. Quando se trata de chuva, dois fenômenos - El Niño e La Niña - norteiam o cenário pluviométrico da estação chuvosa no Ceará.
Apesar de não serem os únicos sistemas indutores (ou inibidores) de pluviometria, é neles que o sertanejo se apega. Quando há ocorrência da La Niña ou neutralidade, as chances de boas chuvas no Semiárido nordestino são maiores. Em 2021, portanto, a esperança de bons índices foi renovada. Isso porque os principais institutos de meteorologia do Brasil confirmam a consolidação deste fenômeno.
La Niña é o resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial (0,5°C ou menos, abaixo da média). Essa condição é um dos indicadores à ocorrência de boas chuvas.
"É um bom indicativo para o início da quadra chuvosa", ilustrou o meteorologista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe), Diego Jatobá. Segundo ele, La Niña vai influenciar, também, "as chuvas na pré-estação, no Ceará". Apesar do tom de otimismo, ele ressaltou, entretanto, ser "necessário destacar que é um fenômeno de rápida duração e de baixa intensidade", e que ainda pode se modificar até o fim do ano.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), do governo norte-americano, segue a mesma análise do Inpe, mas aponta que o fenômeno ainda está "com fraca intensidade". Conforme o Inpe, até o momento, o estudo aponta que La Ninã deve permanecer durante o verão no Hemisfério Sul (início do ano, no Ceará), e perder força a partir da segunda quinzena de março. O meteorologista da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Humberto Barbosa, no entanto, observa que esse grau de intensidade pode mudar para melhor.
"Até o momento, temos um cenário favorável, uma La Niña moderada, mas ganhando força. Só o fato de não termos El Niño (aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico) é um bom indicador", explica.
Outro meteorologista que prevê a atuação da La Niña até os meses de março e abril é Flaviano Fernandes, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). "Olhando para o quadro, agora, está muito favorável, mas vamos depender mais uma vez do Atlântico", afirmou. "Se o Atlântico Sul ficar mais quente do que o Norte, então teremos chuvas intensas, mas essa resposta só teremos em janeiro", avalia.
Barbosa, vai além da ocorrência da La Niña. Ele chama a atenção para o aspecto da Oscilação Decadal do Pacífico (ODP), um fenômeno climático de caráter cíclico que influencia diretamente as transformações climáticas da Terra, de longa duração. A ODP está negativa, ou seja, diminuição da temperatura das águas superficiais do Pacífico Equatorial, o que é bom para o Nordeste. "É um outro dado favorável à ocorrência de chuva pois favorece a La Niña". Apesar do bom prognóstico, os institutos são uníssonos ao afirmarem ser preciso seguir o monitoramento para identificar a definição da temperatura das águas do Oceano Atlântico Tropical Sul. A Funceme, por sua vez, disse que divulgará as análises e previsões "próximo ao fim do ano".
Impacto
Após seis anos de chuvas abaixo da média, o Ceará registrou, nos últimos três anos (2020, 2019, 2018) pluviometria dentro ou acima da média histórica. Além de melhorar o cenário hídrico nos açudes e, consequentemente, reduzir o drama no abastecimento em centenas de localidades do interior, as boas chuvas convergem a uma melhor safra. Os números corroboram.
Em 2020, segundo o IBGE, a safra de grãos foi a segunda melhor dos últimos dez anos, ficando atrás apenas de 2011. Se confirmado o prognóstico de, mais uma vez, pluviometria acima da média em 2021, o cenário tende a ser ainda mais animador. "A matemática é simples, quando há boas chuvas, temos boa safra", pontuou o diretor técnico da Ematerce, Itamar Lemos. Ele, no entanto, diz não ser possível fazer nenhuma projeção de colheita para 2021. "Ainda é cedo para isso".
Comentários