Ex-deputado federal é suspenso da PM do Ceará por convocar paralisação

Parte dos policiais militares do Ceará aderem a motim iniciado em 18 de fevereiro. Ex-deputado Cabo Sabino convocou policiais a aderirem a paralisação, conforme documento.

Cabo e ex-deputado federal Flávio Sabino é afastado da PM por 'incapacidade moral', conforme Diário Oficial — Foto: Fabiane de Paula/SVM

Por G1 CE

A Controladoria Geral de Disciplina afastou o ex-deputado federal Cabo Sabino (Avante-CE) da Polícia Militar do Ceará por "incapacidade moral do mesmo de permanecer nos quadros" da segurança pública do estado.

Conforme portaria publicada no Diário Oficial do Ceará de sexta-feira (21), o cabo da Polícia Militar Flávio Sabino, junto com lideranças da Associação das Esposas de Militares, "convocaram os policiais e familiares para se fazerem presentes no 18º BPM [Batalhão da Polícia Militar] com o objetivo de obstruir o serviço e iniciar o movimento de paralisação" dos policiais.

O 18º Batalhão foi ocupado por homens encapuzados e familiares na madrugada de quarta-feira (19), quando o motim dos militares ganhou maior adesão.

Ainda conforme a publicação, "homens mascarados, mulheres e crianças se aglomerado no local [18º Batalhão], dando início ao movimento que se difundiu durante a noite em outras unidades policiais da capital [Fortaleza] e do interior do Estado".

Ficou determinado ainda a retirada do distintivo e da arma do ex-deputado Cabo Sabino. A decisão de afastamento afeta mais de 160 policiais, a maioria por "motim, insubordinação e abandono de posto".

O G1 tentou contato com Cabo Sabino, mas as ligações não foram atendidas até a última atualização desta reportagem. Em um vídeo divulgado em redes sociais no sábado (22), Sabino afirma que os policiais estão sendo punidos com base em artigo "restrito às forças armadas, que nãos se aplica às forças auxiliares".

"Para nós não existe crime, pode ser ilegal pelo que diz a Constituição, mas mais ilegal é o que o Governo tem feito conosco. Ele demite várias pessoas de maneira irresponsável, maneira irresponsável", completou Sabino.

Paralisação da polícia e aumento da violência

Desde o início do motim, os índices de homicídios dispararam no Ceará. O estado teve nesta semana os dois dias mais violentos do estado em relação ao número de mortes desde 2012. Nesta sexta-feira (21) foram 37 homicídios no estado; e no sábado (22), outros 34.

Os números só não maiores que o total de homicídios em 1º de janeiro de 2012, data de outra paralisação da PM, quando ocorreram 41 assassinatos no estado.

Resumo:

5 de dezembro: policiais e bombeiros militares organizaram um ato reivindicando melhoria salarial. Por lei, policiais militares são proibidos de fazer greve.

31 de janeiro: o governo anunciou um pacote de reajuste para soldados.

6 de fevereiro: data em que a proposta seria levada à Assembleia Legislativa do estado, policiais e bombeiros promoveram uma manifestação pedindo aumento superior ao sugerido.

13 de fevereiro: o governo elevou a proposta de reajuste e anunciou acordo com os agentes de segurança. Um grupo dissidente, no entanto, ficou insatisfeito com o pacote oferecido.

14 de fevereiro: o Ministério Público do Ceará (MPCE) recomendou ao comando da Polícia Militar do Ceará que impedisse agentes de promover manifestações.

17 de fevereiro: a Justiça manteve a decisão sobre possibilidade de prisão de policiais em caso de manifestações.

18 de fevereiro: três policiais foram presos em Fortaleza por cercar um veículo da PM e esvaziar os pneus. À noite, homens murcharam pneus de veículos de um batalhão na Região Metropolitana.

19 de fevereiro: batalhões da Polícia Militar do Ceará foram atacados. O senador Cid Gomes foi baleado em um protesto de policiais amotinados.

20 de fevereiro: policiais recusaram encerrar o motim após ouvirem as condições propostas pelo Governo do Ceará para chegar a um acordo.

21 de fevereiro: tropas do Exército começam a atuar nas ruas do Ceará.

22 fevereiro: Ceará soma 88 homicídios desde o início do motim. Antes do movimento dos policiais, a média era de seis assassinatos por dia. O Exército anunciou um reforço na segurança.

Atuação do Exército

Por conta da crise na segurança, o Exército passou a atuar em Fortaleza na sexta-feira, em uma aplicação da Garantia da Lei e da Ordem. Mesmo após o reforço, o Ceará teve 37 homicídios na sexta-feira.

O comandante da 10ª Região Militar do Ceará, Fernando da Cunha Mattos, afirmou que o estado ainda receberá mais tropas para reforçar a segurança. Mattos disse que o número de soldados foi "inicialmente insuficiente" e que o Comando do Nordeste enviou tropas de quatro estado. O número de soldados, porém, não foi informado pelo comandante.

Ainda conforme Mattos, o Exército começou neste domingo a exercer o poder de polícia nas ruas de Fortaleza, medida que deve reduzir os homicídios na capital cearense. Outra medida que será adotada será o uso de veículos blindados.

https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2020/02/23/ex-deputado-federal-e-suspenso-da-pm-do-ceara-por-convocar-paralisacao.ghtml