Praga ameaça safra de mandioca em Salitre, na região do Cariri

O inseto é classificado como uma praga secundária da mandioca, e a larva ataca a parte interna da planta.

Legenda: Agricultores de Salitre, na Região do Cariri, identificaram a larva que vem dizimando as plantações de mandioca no município. A praga foi identificada como broca-da-haste. Foto: Antonio Rodrigues

Escrito por Antonio Rodrigues

Com cerca de 16 mil habitantes, o Município tem mais de 57% de sua população vivendo na zona rural. A grande maioria sobrevive do cultivo da mandioca, que agora está ameaçada por conta de uma praga incomum

Maior produtor de mandioca do Estado com 12 mil hectares do tubérculo plantados e mais de 100 casas de farinha, Salitre vê sua safra de 2021 ameaçada por uma praga até então desconhecida pelos seus moradores. Alguns agricultores temem perder 60% de sua produção. O problema foi identificado há aproximadamente cinco meses quando a mandioca, sobretudo do tipo "pretinha", espécie mais comum da região, que foi plantada em 2020 para ser colhida no próximo ano, começou a secar. Ao ver as folhas caindo, intrigados, os agricultores descobriram uma larva dentro da rama, conforme descreve o agricultor Francisco Auricélio Albuquerque.

A pedido do Sistema Verdes Mares, o agrônomo Rudiney Ringenberg, doutor em Entomologia e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Mandioca e Fruticultura, identificou que se trata da broca-da-haste (pappista granicollis), uma espécie de besouro que perfura a rama de cima para baixo, põe seus ovos e gera a larva que ataca a parte interna da planta.

O inseto é classificado como uma praga secundária da mandioca, já que não ocorre todo o ano, mas eventualmente por alguma condição ambiental. "No Nordeste é bastante comum", ressalta.

Com um aparelho bucal em formato de bico, o inseto consegue fazer a inserção na haste da mandioca e depositar seus ovos. A espécie adulta não chega a prejudicar o mandiocal, mas a larva se alimenta da parte interna da maniva.

"Onde começa a se alimentar, seca a planta. Pode ser no ramo, na metade ou planta inteira. Quanto mais próximo ao solo, maior será o prejuízo", completa Rudiney.

Outro problema é que as plantas atacadas não servem para um novo plantio, impedindo o uso das ramas no próximo ciclo. Por isso, uma das formas de controle sugeridas pelo agrônomo é que os produtores evitem o transporte da rama de uma região para outra. "Deve ter entrado alguma rama nova. Alguém trouxe, em algum momento, de uma região que tenha praga e se estabeleceu no local", especula Ringenberg.

Controle

Sem defensivos químicos, o técnico da Embrapa sugere que sejam colocadas armadilhas utilizando raízes cortadas ao meio, protegidas por uma telha. Diariamente, o agricultor pode recolher e eliminar os insetos presentes ou aplicar inseticidas sobre as raízes.

Outra sugestão é que, após a colheita, sejam retirados os restos do plantio do solo, justamente para evitar a perpetuação das pragas. "Termina a colheita e ficam as ramas no chão. O ideal seria triturar ou tratar para as criações e não deixar jogado no mandiocal", sugere o agrônomo.

O diretor técnico da Empresa de Assistência Técnica Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Itamar Lemos, após pedido da Secretaria de Desenvolvimento Agrário de Salitre, enviou o agrônomo Francisco Marcílio de Melo ao município para identificar o inseto. Ele confirmou se tratar da broca-da-haste.

"Não tem controle. A mandioca não tem defensivo químico registrado. Quando o ataque é grande, não tem jeito, é arrancar e queimar e fazer armadilhas", conta.

Após a identificação, a Secretaria de Desenvolvimento Agrário de Salitre iniciou um plano de ação no combate à praga. Já foi realizado uma visita técnica, feito um mapeamento da área e coletadas algumas amostras do inseto. "A gente conversou com produtores e muitos não têm tido problema. Alguns relatam, mas não era nessa proporção grande. Vamos descobrir se tem relação com a espécie (de mandioca)", comprometeu-se Valquiria Alves, titular da Pasta.

O problema também foi percebido por agricultores da cidade vizinha de Araripina, em Pernambuco, onde o tubérculo também é forte.

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