Brasil passa por onda de calor histórica no fim de semana
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Brasil está no quarto mês de recorde histórico de temperatura média
Previsões para o país espantam meteorologistas. Calor extremo afetará, principalmente, Centro-Oeste e Sudeste. Entenda as razões
Por Gabriel Valery, da RBA
Fernando Frazão/Agência Brasil
"O Brasil, assim, está apenas acompanhando uma tendência de aquecimento acelerado da Terra"
São Paulo – A América do Sul passa por uma onda de calor que pode ser inédita. Várias cidades podem registrar as temperaturas mais altas da história. No domingo (12), a cidade de São Paulo pode registrar até 39°C. Brasília, 36°C, Cuiabá, 45°C. A situação será pior conforme avança para o interior. De acordo com os meteorologistas, várias cidades podem ultrapassar os 45°C. Trata-se de um evento extremo que atinge o continente. A cidade de Conceição, no Paraguai, por exemplo, tem previsão de 49°C.
Esta onda de calor tem origem em um grande bloqueio atmosférico continental, que impede o ar fresco do oceano e do Sul de avançarem sobre os países. Esse evento é particularmente extremo por questões complexas que se somam. Entre elas, o El Niño mais forte da história, que aquece as águas do Pacífico e prejudica o regime de chuvas no Norte do continente. Soma-se a isso a devastação sem precedentes herdada do governo Jair Bolsonaro (PL) na Amazônia. A região enfrenta a pior seca em 121 anos.
Com a seca amazônica, a umidade da região da floresta que abastece a região central do país e desemboca no Sudeste – na chamada Zona de Convergência do Atlântico Sul – não vem. Então, o que desce no país é o ar quente que tem impacto na elevação dos termômetros nestas regiões. O resultado, como afirma a agência meteorológica Metsul, é “uma onda de calor muito fora do comum (…), temperaturas absurdamente elevadas e em níveis jamais vistos em centenas a milhares de cidades brasileiras”.
Operação de emergência
Em São Paulo, a defesa civil já emitiu alertas e governos locais iniciaram operações de altas temperaturas. Tanto a defesa civil como a estatal Sabesp iniciaram hoje alguns procedimentos de segurança. “A partir desta sexta-feira (10), agentes da Defesa Civil Estadual e equipes da Sabesp farão atendimento com caminhão com bebedouro na Praça da Sé. Também tendas no entorno do Theatro Municipal”, informa o governo estadual.
“A distribuição de água em copos e a oferta de bebedouros será feita das 11h às 15h até a próxima segunda (13), inclusive no final de semana. Com previsão de máximas de 39ºC e umidade do ar em torno de 30%, a ação da gestão paulista visa proteger a saúde da população, com prioridade para pessoas em situação de rua, idosos e crianças”, completa.
O governo alerta, então, que a situação será pior no interior. “A onda de calor será ainda mais intensa em algumas regiões do interior de São Paulo. Os termômetros devem marcar 42ºC nas regiões de São José do Rio Preto, Araçatuba, Presidente Prudente e Marília. Para Araraquara, Barretos, Bauru, Franca, Litoral Norte e Ribeirão Preto, a máxima será de 40°C.”
Sem precedentes
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Brasil está no quarto mês de recorde histórico de temperatura média. “Dentre os quatro meses consecutivos mais quentes deste ano, setembro apresentou o maior desvio desde 1961, com 1,6ºC acima da climatologia de 1991/2020 (média histórica)”, informa.
Então, de acordo com o instituto, 2023 tende a fechar como o mais quente de todos os tempos. “O cenário indica que o ano de 2023 será o mais quente desde a década de 60. Estes resultados corroboram com as perspectivas encontradas por outros órgãos de meteorologia internacional, pois, segundo pesquisadores do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia, é improvável que os dois últimos meses deste ano revertam este recorde, tendo em vista que a tendência é de altas temperaturas em todo o mundo até novembro.”
Por fim, o Inmet reforça o alerta para o fim de semana. “A partir do sábado (11), se a situação persistir, o aviso de onda calor será atualizado e poderá se expandir ou até mesmo ter o seu nível de severidade alterado. Em alguns municípios, principalmente dos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, as temperaturas máximas devem superar os 42°C nos próximos dias”
Calor espantoso
A sequência de calor no Brasil tem provocado espanto em cientistas de todo o mundo. Trata-se de um alerta definitivo sobre as consequências das ações humanas no clima, tanto global como local. A devastação de florestas afetando climas locais que criam um efeito cascata. “O que está ocorrendo no clima do Brasil não é normal e se insere em um contexto global de aquecimento acelerado do planeta, que ao mesmo tempo causa alarme entre os maiores experts do mundo em clima”, afirma artigo da Metsul.
Então, os especialistas cravam que é impossível atribuir o calor extremo apenas a eventos normais, como o El Niño. “Quatro meses consecutivos de temperatura recorde no Brasil não podem ser explicados apenas por variabilidade natural do clima ou a influência do fenômeno El Niño. O que está se testemunhando no nosso país se insere em um contexto muito maior em que os mesmos quatro meses também foram de temperatura recorde no planeta. O Brasil, assim, está apenas acompanhando uma tendência de aquecimento acelerado da Terra”.
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