Manaus vive emergência climática com tempestade de areia

Há semanas Manaus enfrenta problemas climáticos, o que já colocou a cidade por dias em listas das piores qualidades do ar no mundo

Ventos de mais de 70 km/h provocaram a tempestade. A situação em Manaus preocupa especialistas, que temem efeitos do desmatamento e das mudanças climáticas

Por Redação RBA

Ventos de mais de 70 quilômetros por hora na região levaram as partículas que tomaram conta da cidade. Contudo, não foram apenas os ventos os responsáveis

São Paulo – Os moradores de Manaus viveram ontem (5) cenas apocalípticas durante a tarde. Uma tempestade de areia atingiu a capital amazonense. Ventos de mais de 70 quilômetros por hora na região levaram as partículas que tomaram conta da cidade. Contudo, não foram apenas os ventos os responsáveis. A região vive, nos últimos meses, um período de seca histórico, em meio a queimadas generalizadas. O solo ressecado em contato com o vento provocou o fenômeno.

É o que afirma a agência meteorológica Metsul. “As rajadas de vento geradas pela tempestade, formada pelo calor e pela umidade, provocaram o levantamento da poeira e da terra mais arenosa devido ao solo mais ressecado. Como resultado, uma gigantesca nuvem de poeira se formou na cidade”, informa. Na noite anterior, de sábado, aeroportos da região já registravam problemas de visibilidade por conta das fumaças de queimadas. O cenário de eventos atmosféricos culminou no evento que assustou moradores.

Há semanas Manaus enfrenta problemas climáticos, o que já colocou a cidade por dias em listas das piores qualidades do ar no mundo. Contudo, a “tempestade de areia” de domingo pode não significar algo necessariamente ruim. O Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) avalia que os ventos têm relação com a mudança de estação, do verão amazônico para o inverno, que acontece nesta época. Na prática, significa que as chuvas devem voltar a cair com intensidade.

Perspectivas para Manaus

Então, com a volta das chuvas, a qualidade do ar deve voltar e as queimadas tendem a reduzir. Contudo, até o momento as águas ainda não vieram. Durante o evento climático de ontem choveu pouco, menos de 10 milímetros em 24 horas. Entretanto, os ventos foram os responsáveis pelos maiores estragos. Foram três ocorrências de destelhamento; dois na zona Oeste e um no Centro. Também houve prejuízo à rede elétrica.

Embora o inverno comece a dar seus primeiros sinais, os próximos dias anda não têm previsão de chuvas. Então, permanece o alerta na região para a baixa qualidade do ar, que provoca, sobretudo, prejuízos à população relacionados às doenças respiratórias. Para alterar o cenário, as chuvas devem ser volumosas. “Pelo menos nos próximos dias não terá chuva e quando começar a chover o alívio só será imediato, apenas durante a chuva”, afirma pesquisadora Karla Longo, responsável pelo monitoramento de queimadas do Inpe, ao portal Amazônia Real.

“Ao longo do rio Amazonas tem queimadas e muito perto de Manaus também. As queimadas estão transformando fumaça transportada para Manaus. Mas é no Pará que a situação está pior. O estado está queimando por inteiro”, completa a cientista. O alerta reflete um cenário de seca que é o pior em 121 anos. De acordo com o Inpe, são mais de 15 mil focos de incêndios nos últimos três meses.

Mudanças climáticas

Estudos indicam que Manaus tende a ser uma das cidades mais afetadas pelas mudanças climáticas no mundo. O aquecimento global pode colocar a capital amazonense entre as mais quentes do planeta, acarretando em riscos à vida. A previsão é de que a cidade ultrapasse o limite de 32°C por 258 dias no ano.

“Hoje, o que nós sofremos é uma injustiça climática. Não somos nós os causadores dos problemas que nós estamos enfrentando neste momento”, afirmou o governador do Amazonas, Wilson Lima (UniãoBrasil). “O Estado do Amazonas e o Brasil não são os maiores poluidores do mundo. Nós estamos pagando um preço por conta da poluição de países ricos, que muitas vezes tentam colocar a Amazônia no banco dos réus”, completou.

Herança do mal

O fato é que, além das mudanças climáticas, o Amazonas colhe os frutos podres do desmatamento desmedido durante os anos de governo Jair Bolsonaro (PL). Os recordes sucessivos nas queimadas e práticas ilegais de madeireiras e garimpeiros agora explodem. O governo atual, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), retomou programas de proteção, como o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal  (PPCDAm).

Embora o desmatamento já tenha sido reduzido na Amazônia, especialistas cobram mais. “Já gerou uma redução do desmatamento, mas ainda precisamos fazer mais e isso implica mudarmos a visão de que atividades produtivas que geram desmatamento e queimadas na região podem avançar sem controle”, explica o geógrafo Carlos Durigan, diretor da WCS Brasil, para a Amazônia Real.

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