Anvisa informa à CPI que venda de ivermectina, ineficaz contra Covid, cresceu mais de 600% em 2020

A ineficácia da ivermectina para tratar a Covid já foi declarada até por fabricantes da droga.

Agência diz que venda de caixas do produto subiu de 7,8 milhões em 2019 para 56,8 milhões no ano passado. CPI apura se agentes públicos e privados lucraram ao divulgar 'kit Covid'.

Por Camila Bomfim, TV Globo — Brasília

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) infirmou à CPI da Covid no Senado que, em 2020, a comercialização de ivermectina – um antiparasitário comprovadamente ineficaz contra o coronavírus – cresceu 628% em 2020 na comparação com o ano anterior.

O documento é assinado pelo secretário-executivo substituto da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos da Anvisa, Fernando de Moraes Rego. A informação foi dada em resposta a um pedido do senador Humberto Costa (PT-PE), que pediu dados sobre a venda, nos últimos cinco anos, de medicamentos que passaram a ser alardeados, sem respaldo científico, como tratamento da Covid.

De acordo com a Anvisa, em 2019 foram vendidas 7.853.050 embalagens de ivermectina. Naquele momento, antes da pandemia, o medicamento era usado normalmente para combater infestações de parasitas como piolho, sarna e filariose.

No ano passado, já no contexto da pandemia, o número saltou para 56.831.926 embalagens – 623,8% a mais. A ineficácia da ivermectina para tratar a Covid já foi declarada até por fabricantes da droga.

O documento enviado à CPI pela Anvisa aponta, ainda, a alta na comercialização de outro insumo sem eficácia para tratar a Covid. As vendas de cloroquina subiram 47% entre 2019 e 2020, passando de 1.553;878 para 2.296.693 embalagens.

Pesquisa realizada pela Associação Médica Brasileira aponta que a maioria dos médicos brasileiros reconhece a ineficácia da cloroquina e da ivermectina no enfrentamento à Covid. A entidade recomendou que o uso de medicamentos sem eficácia, como esses, seja banido.

Os profissionais alertam que o uso de medicamentos do chamado "kit Covid" tem provocado, inclusive, outras doenças graves.

Pacientes que usam remédios sem eficácia contra Covid estão desenvolvendo outras doenças

CPI apura favorecimento

A CPI da Covid no Senado investiga se agentes públicos se aliaram a agentes privados para lucrar com a pandemia a partir da disseminação de medicamentos sem eficácia.

De acordo com o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), os trabalhos entram agora em uma "terceira e decisiva fase", voltada para a coleta de provas e depoimentos ligados a essa suspeita.

Na última segunda (21), veio à tona um documento enviado à CPI pela empresa Vitamedic, uma das fabricantes nacionais da ivermectina. A firma disse à comissão que, considerando apenas as caixas com quatro comprimidos, as vendas do insumo aumentaram 2.489% entre 2019 e 2020.

Os dados enviados pela Anvisa à CPI confirmam informações que já haviam sido obtidas pela GloboNews, em maio, junto ao CFF (Conselho Federal de Farmácia) e ao Datatox - que reúne dados de 32 Centros de Informação de Assistência Toxicológica no Brasil.

Esse levantamento também incluiu estatísticas de medicamentos como a hidroxicloroquina, a azitromicina e a flutamida

https://g1.globo.com/politica/cpi-da-covid/noticia/2021/06/23/anvisa-informa-a-cpi-que-venda-de-ivermectina-ineficaz-contra-covid-cresceu-mais-de-600percent-em-2020.ghtml