Agricultura feita pelo pequeno produtor é maioria no NE

Juazeiro do Norte De um total de 5,2 milhões de estabelecimentos agropecuários, 3,9 milhões (75,9%) são geridos pelos próprios proprietários, correspondendo a 69% da área total dos estabelecimentos. Desse contingente, 39% são analfabetos ou sabem ler e escrever sem terem frequentado escola e 43% não completaram o ensino fundamental. A agricultura familiar predomina no Nordeste, em relação ao Sul e Sudeste do Brasil, onde prevalece a agricultura mecanizada. Os dados constam do Atlas do Espaço Territorial Brasileiro, que o Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de lançar. A publicação integra o Censo Agropecuário de 2006 e traz a complexa realidade territorial do campo no Brasil.

A mecanização no vale do Rio Jaguaribe está entre os destaques no levantamento do IBGE, que aponta que a utilização de tecnologias no cultivo do solo está diretamente relacionada ao nível de escolaridade dos produtores

O levantamento demonstra as disparidades existentes no País, relacionadas às condições de produção, escolaridade e mecanização do setor agrícola, além dos reflexos na economia. Nos levantamentos são incorporados dados relacionados às pesquisas populacionais, sociais e ambientais.

As mulheres, respondendo por cerca de 13% dos estabelecimentos agropecuários, têm a maior taxa de analfabetismo (45,7%), contra 38,1% dos homens. As maiores taxas de analfabetismo, tanto para os proprietários quanto para os ocupantes, se concentram nos municípios das regiões Norte e Nordeste do País. A modernização da agropecuária no Brasil, diante dos dados fornecidos pela pesquisa, estão diretamente relacionados ao índice de escolaridade. E nesse quesito, o Nordeste sai perdendo. Máquinas e insumos agrícolas marcaram a modernização da agricultura, mas, na atual fase do processo, há um destaque maior para o capital intelectual, que reúne desde aquisição de novas tecnologias, a exemplo das técnicas de irrigação, dentre outras competências relacionadas ao aprimoramento da produtividade no campo.

Mecanização

Uma das referências feita ao Ceará, no Censo, é quanto ao uso combinado das técnicas mais rudimentares ao uso da mecanização, com destaque em áreas periféricas, como a do vale do Rio Jaguaribe, no Ceará; do vale do Rio Apodi, no Rio Grande do Norte; e do município de Irecê, na Bahia, entre outras, na Região Nordeste; além do norte de Minas Gerais e do vale do Rio São Francisco. O uso de tratores se concentra principalmente no Sul e Sudeste, com tendência de expansão nas novas áreas de produção agropecuária, como o Centro-Oeste.

Em relação ao Sul e Sudeste brasileiros, a agricultura familiar tem maior predominância no Nordeste. As maiores taxas de analfabetismo se concentram nos municípios dessa região, assim como no Norte FOTO: ANTÔNIO CARLOS ALVES

No oeste da Bahia, sul do Maranhão e no Piauí está sendo apontada no censo a introdução do plantio direto no sistema de preparo do solo e o uso de sementes certificadas e transgênicas na cultura de grãos. É visível um padrão contínuo em áreas de alta intensidade de lavoura e pecuária para abastecimento de grandes centros urbanos do País e para exportação, que abrange os Estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Mas, o uso de sementes certificadas e transgênicas se destaca em municípios das regiões Sul e Sudeste.

A adoção de colheitadeira em grandes estabelecimentos (100 hectares e mais) permite observar uma seleção de áreas com contornos bem definidos nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso e também Goiás.

Meio ambiente

A publicação também destaca que a agropecuária é uma das atividades humanas que causam maior impacto sobre o ambiente natural. Dos seis biomas encontrados no território nacional, o que mais sofre pressão dessa atividade é o pampa, com 71% da sua área ocupada com estabelecimentos agropecuários, seguido pelos biomas pantanal (69%), mata atlântica (66%) e cerrado (59%). O Atlas mostra as bacias hidrográficas do País, onde há concentração de 53% da água doce do continente, e sua relação com os estabelecimentos rurais. Embora o Brasil conte com mais de 29 mil km de rios navegáveis, o transporte de cargas ainda depende primariamente de rodovias (70%).

Pesquisa mostra disparidade entre as regiões

Juazeiro do Norte A agricultura familiar, apesar de abranger 4,4 milhões de estabelecimentos agropecuários do País (84,4%), cobria apenas 80 milhões de hectares, 24,3% da área. A área média dos estabelecimentos com agricultura familiar era de 18,3 hectares, enquanto a dos com agricultura não familiar era de 330 hectares.

As mulheres respondem por cerca de 13% dos estabelecimentos agropecuários e têm a maior taxa de analfabetismo (45,7%).

Do percentual total no País relativos ao pequeno produtor, 50% estavam no Nordeste, de acordo com o Censo Agropecuária 2006.

A concentração dos maiores percentuais de produtores proprietários com nível médio de instrução, conforme o Censo, tanto regular como profissionalizante, ocorre nas áreas de maior dinamismo da produção agrícola, com destaque no Centro-Sul, especialmente na região de domínio do complexo agroindustrial da soja e de outras commodities de exportação.

Isto demonstra a correlação entre o aprimoramento técnico da agricultura e o nível de instrução do produtor rural.

Desigualdades regionais marcam a agropecuária. O Atlas do IBGE mostra uma realidade que corresponde às ações de políticas estatais e privadas, especialmente as de incentivo à pesquisa científica, relacionadas à adaptação de espécies vegetais ao Cerrado brasileiro.

Essas políticas facilitaram o deslocamento dos investimentos no setor agrícola da região Sul em direção ao Centro-Oeste. Mais recentemente, a fronteira agrícola brasileira avançou em direção aos cerrados do Oeste baiano, Sul/Sudeste do Maranhão e Piauí, acompanhada por investimentos na infraestrutura e na logística portuária.

Porém, observam-se enormes extensões territoriais onde praticamente inexistem cadeias produtivas organizadas, em especial no Norte e Nordeste. Na Amazônia, seguindo um padrão histórico de economia de exportação, há extensas áreas supridoras de matérias-primas para os grandes portos exportadores, enquanto as cidades ou núcleos permaneceram concentrando escassos serviços essenciais à população local.

A produção agrícola no Nordeste, conforme o mapa, também teve um declínio nos últimos anos, em estados como Alagoas e Bahia. Houve um declínio de 45,1 mil toneladas em 1990, para 19,3 mil toneladas em 2009. A produção baiana também diminuiu de 10,6 mil toneladas em 1990, para 4,6 mil toneladas em 2009, o que aconteceu devido à expressiva redução da área plantada no estado (-71,2%). Já a exploração de fumo em Sergipe, terceiro maior produtor do Nordeste, evoluiu de 1,7 mil toneladas em 1990, para 2,3 mil toneladas, em 2009, elevando assim a sua participação na produção regional de 3,7% para 11,9% no período.

No Nordeste, onde o cultivo do feijão constitui uma das práticas agrícolas mais arraigadas, sua importância pode ser avaliada quer pelo tamanho da área plantada, a maior dentre todas as regiões. Mesmo assim, apresentou uma pequena retração (-6,2%) no período, quer pela evolução da produção que passou de 580,0 mil toneladas em 1990, para 844,5 mil toneladas em 2009. O maior produtor de feijão continua sendo a Bahia, contribuindo, em média, com 40% da produção nordestina.

A produção nacional de mandioca ficou praticamente estagnada ente 1999 e 2009, passando de 24,3 milhões de toneladas para 24,4 milhões de toneladas. Contribuiu para isso declínio de um terço da produção no Nordeste (acompanhado de perda de 27,6% na área plantada).

Agropecuária

84,4 pontos percentuais dos estabelecimentos rurais no Brasil são de agricultores familiares

24,3 pontos percentuais correspondem à área de pequenos produtores em todo o País

39% dos proprietários rurais são analfabetos ou não aprenderam a ler e a escrever fora da escola


ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER