Entre janeiro e outubro deste ano, as importações brasileiras já cresceram 7,5% em relação a igual período de 2012, alcançando um total de US$ 202,3 bilhões. Por outro lado, as exportações tiveram queda de 1,9%, somando US$ 200,3 bilhões. Com isso, o déficit na balança comercial brasileira já é de US$ 1,83 bilhões, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Este é o pior resultado para o período desde 1998, quando foi registrado um saldo negativo de US$ 5,08 bilhões.
Por um lado, o aumento das importações traz benefícios para setores como o metalmecânico e a construção civil, além de representar também a aquisição de máquinas e equipamentos para a implantação de investimentos no País que irão incrementar a economia.
No caso do Ceará – que já importou US$ 2,8 bilhões neste ano (de janeiro a outubro) e exportou pouco mais de US$ 1 bilhão, com um saldo negativo na balança de US$ 3,9 bilhões –, o aumento das importações tem a influência de empreendimentos como a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), em construção no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).
No entanto, por outro lado, há setores que já amargam prejuízos devido às importações crescentes, com destaque para têxtil e confecção, cuja cadeia produtiva é uma das que mais gera empregos no Brasil.
O setor vem sofrendo com a maior entrada no Brasil de produtos oriundos da China e de outros países asiáticos que, por possuírem políticas de produção diferentes das nacionais, ofertam itens com preços menores, ainda que com qualidade inferior, abocanhando boa parte do mercado consumidor interno.
Aliado a problemas internos, o aumento das importações dificulta ainda mais a recuperação do setor aos níveis anteriores à crise econômica mundial iniciada em 2008. De acordo com o Mdic, de janeiro a outubro deste ano, as importações brasileiras de produtos têxteis e confeccionados somam US$ 6,2 bilhões.
“O empresariado brasileiro tem competência para disputar mercado em qualquer lugar do mundo. A indústria têxtil do Brasil é um setor forte, com um faturamento médio anual em torno de US$ 55 bilhões, investimentos de US$ 2 bilhões, 1,7 milhão de trabalhadores e uma participação entre 3% e 5% no PIB (Produto Interno Bruto) da indústria de transformação. É uma indústria de porte e relevante, e as competições com outros países se dão. No entanto, estamos vivendo um cenário complicado e enfrentando países que não têm as mesmas regras que as nossas. O que nós questionamos são as importações de países asiáticos, que não possuem a mesma regulação que a nossa, a mesma carga tributária, o mesmo regime trabalhista e leis ambientais, por exemplo”, destaca o superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel.
Concorrência desleal
De acordo com ele, essa disparidade em aspectos que impactam diretamente o setor cria uma concorrência desleal entre os produtos brasileiros e os asiáticos. “Na China, por exemplo, nós não enfrentamos só as empresas, mas também o governo”, diz, acrescentando que já foram identificados mais de 27 subsídios passíveis de serem questionados na Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Existem políticas em países asiáticos que distorcem completamente as relações de competitividade que devem existir entre os países. Na China, por exemplo, o governo devolve (às empresas) 17% de tudo que a indústria exporta. Ou seja, de cada dólar exportado, 17 centavos voltam para a empresa. Assim, você pode até exportar perdendo dinheiro que vai ser lucrativo. Esse tipo de incentivo é o principal fator que distorce as relações (comerciais entre os países). Por isso, com relação à China, não dá nem para fazer uma análise, pois a base de comparação está completamente distorcida e pode-se ter equívocos sobre a competitividade do Brasil”, emenda o diretor de Marketing da Santana Textiles, Raimundo Delfino Neto.
Câmbio depreciado
Outro fator que favorece os países asiáticos é a manutenção do câmbio depreciado, o que contribui para ampliar suas exportações. Além disso, segundo Fernando Pimentel, a regulamentação da produção asiática e o regime trabalhista que eles adotam também pensam nessa balança.
“Eles (os países asiáticos) utilizam regras de produção que nós não concordamos aqui (o governo brasileiro), mas nós importamos produtos feitos com essas regras que não aceitamos. Isso leva a um crescimento das importações. Hoje, 1/3 do que é consumido no Brasil em produtos têxteis (fios e malhas, por exemplo) vem do exterior. No segmento de vestuário, o volume de importações cresceu 22 vezes em dez anos, e a participação no consumo nacional saltou de 3% para cerca de 15%, no mesmo período”, destaca.
Dháfine Mazza
Repórter




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