Restos mortais de Jango serão levados a Brasília para perícia

Peritos podem constatar suspeita sobre causa da morte do ex-presidente.

Os restos mortais do ex-presidente João Goulart (1919-1976) serão levados a Brasília para serem periciados no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, segundo decisão tomada nesta terça-feira (9) pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), pela Secretaria de Direitos Humanos e pelo Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul, estado onde Jango foi sepultado, no município de São Borja.

A exumação e perícia são elementos da investigação conduzida pela Comissão da Verdade para apurar a causa da morte do ex-presidente. Oficialmente, a morte é atribuída a um ataque cardíaco sofrido por Jango quando estava exilado na Argentina. Nos últimos anos, porém, cresceram suspeitas de que ele teria sido vítima de envenenamento a mando da Operação Condor, cooperação entre ditaduras da América do Sul nos anos 70.

Ainda não há data certa para a realização da exumação do caixão em São Borja, conforme a assessoria de imprensa da comissão, mas há expectativa de que ocorra ainda neste ano. A família Goulart acompanhará todo o processo.

No dia 8 de agosto, peritos visitarão o cemitério municipal de São Borja para fazer um escaneamento 3D do local com o objetivo de reconhecer o local e as condições de trabalho da equipe que irá desenterrar o caixão, composta por peritos da Polícia Federal, do Instituto João Goulart, do Ministério Público e também da Argentina e do Uruguai. Um perito do Comitê Internacional da Cruz Vermelha também acompanhará o trabalho como observador.

Em 3 de setembro, os peritos farão nova reunião para definir detalhes técnicos da perícia e definirão a data oficial da exumação, segundo o neto de Jango e advogado da família, Christopher Goulart.

Para a coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso, a exumação e a perícia são meios de prova necessários para esclarecer a morte do ex-presidente. Mesmo que o resultado seja inconclusivo, a investigação terá continuidade, uma vez que a comissão tem outras provas documentais que comprovam a intenção do assassinato, informou assessoria.

“A exumação deve ser um capítulo de uma investigação mais ampla”, afirmou Rosa Cardoso.

A decisão de se levar a Brasília o caixão do ex-presidente foi tomada durante reunião nesta terça-feira entre a comissão, a Secretaria de Direitos Humanos, o MP e o Instituto João Goulart. A exumação foi solicitada publicamente pela família em março deste ano e a perícia será realizada no laboratório do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal.

Priscilla MendesDo G1, em Brasília