Metade da população brasileira está incluída no mundo digital, diz FGV

Em ranking global de inclusão digital, o Brasil está no 72º lugar.

Lilian QuainoDo G1, no Rio

Mais da metade da população brasileira está incluída no mundo digital, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, o que coloca o Brasil próximo à média mundial. No Brasil, 51,2% da população pesquisada tem acesso a celular, telefone fixo, computador e internet em casa, enquanto a média global marca 49,1%. No ranking global de inclusão digital, o Brasil está no 72º lugar, entre 156 países pesquisados, diz a pesquisa da FVG, realizada em parceria com a Fundação Telefônica Vivo, divulgada nesta terça-feira (31), na FGV.

Para o economista Marcelo Neri, coordenador da pesquisa, com 51,2% de acesso digital, o Brasil fica no meio do mundo.

“O Brasil ficar no meio do mundo é uma situação recorrente nas pesquisas, seja em renda, em inclusão digital. Isso pode ser entendido como o copo meio cheio ou meio vazio. Esperemos que o copo encha”, disse o pesquisador, explicando que a pesquisa usou dados estatísticos do Instituto Gallup e do Censo 2010.

Entre 156 países pesquisados, os dez que têm população com mais acesso ao celular, ao telefone fixo, ao computador e à internet em casa são Suécia (95,8%), Islândia (95,5%), Singapura (95,5%), Nova Zelândia (93,5%), Holanda (92,5%), Irlanda (92,3%), Luxemburgo (92%), Taiwan (91,8%), Suíça (91,3%), e Austrália (91%).

Favelas digitais

Os dados da pesquisa trazem informações que chamaram a atenção dos pesquisadores como o índice de inclusão digital das favelas do Rio. Complexo do Alemão, Maré e Rocinha são comunidades que têm os mais baixos índices do município do Rio, mas são percentuais que ultrapassam a média do Brasil e a média global.

No Alemão, 50,8% dos moradores acima dos 15 anos têm acesso a telefone fixo e celular e a computador e internet em casa, o mais baixo índice registrado no município do Rio, que tem 71,5% de sua população incluída no mundo digital. Jacarezinho (54,5%), Maré (55,9%), e Rocinha (57,5%) são os outros três piores índices. Os percentuais mais baixos registrados nas comunidades do Rio são maiores que a média do Brasil (51,2%) e que a média mundial (49,1%).

“O Complexo do Alemão, que é uma favela grande, é bom retrato do Brasil e do mundo. O Alemão situado numa região rica, que tem economia de escala, com um mercado do lado. Existem muitos ‘gatos’, práticas que a pesquisa não pode computar e que podem influenciar nos índices”, explicou Marcelo Neri.

Enquanto as favelas cariocas ficam com níveis de inclusão abaixo dos 60%, a região administrativa da Lagoa (Lagoa, Ipanema, Leblon, Gávea e São Conrado) registra o índice mais alto da cidade, 88,9%. Que não bate a região administrativa de Moema, em São Paulo, a recordista, com 93% de moradores com acesso a celular, computador, internet e telefone fixo. O Jardim Paulista é outro campeão: 92,3%.

Segundo Marcelo Neri, nove entre os dez bairros com maior índice de inclusão social ficam na cidade de São Paulo.

Capitais e municípios
As capitais brasileiras com maior inclusão digital são Florianópolis (77%), Vitória (76,6%), Curitiba (75,8), Belo Horizonte (74%), Porto Alegre (72%), São Paulo (71,7%) e Rio de Janeiro (71,5%). Já os municípios em que os moradores mais têm acesso a celular, telefone fixo e internet em casa são São Caetano do Sul (82,6%), Santos (78,1%), Florianópolis (77%), Vitória (76,6%), Niterói (76%), Curitiba (75,8%), e Santo André (74,8%).

São Paulo (71,7%), Rio (71,5%) e Brasília (71,2%) aparecem nos lugares 19, 20 e 21, respectivamente.

Para o economista, as cidades com altas taxas de inclusão social têm tradição em bons indicadores de qualidade de vida e educação, por serem menores, ficarem próximas a capitais e aproveitarem uma economia de rede, e investirem em educação.

É nos estados de Maranhão, Piauí, Pará e Roraima que estão os piores índices de inclusão digital. As três últimas cidades do ranking são Fernando Falcão (MA), com apenas 3,7% da população com acesso digital; Chaves (PA), com 3,7%; e Uiramutã (RR), com 4,51%.

Metas do Milênio
A pesquisa da FVG, segundo o economista Marcelo Neri, coordenador do trabalho, visa a ser uma ferramenta para subsidiar os trabalhos para a conquista do objetivo 8 das Metas do Milênio para o período de 2000 a 2015, que contém indicadores de inclusão digital
Para elaborar a pesquisa da FGV, foi proposto um indicador de acesso aos meios digitais, o Itic global, que foi aplicado a 156 países e a 5.550 municípios brasileiros.

Celular, ferramenta de inclusão
Segundo a pesquisa, o celular é o grande veículo de inclusão. Entre os dez primeiros países a fazerem mais uso do celular, sete são árabes, o que para o economista, representa a verdadeira primavera árabe.

Com 99% de indivíduos acima de 18 anos com acesso a celular, estão Islândia, Singapura, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Finlândia, Barein, Kuwait, Qatar e Arábia Saudita. No décimo lugar, com 98% da população fazendo uso do celular, vem Omã. O Brasil aparece em 74º lugar, com 87% da população com acesso a celulares.

A base dessa pirâmide é na África, com menos acesso a celular, mas mesmo assim, esses países ainda aparecem na lista, diz o economista, ressaltando a capacidade do celular de chegar a comunidades pobres e distantes.

Congo (44%), Mali (40%), Burkina Faso (34%), Libéria (31%), República Africana Central (20%), Burundi (20%) e Etiópia (9%) são os piores entre os países pesquisados sobre acesso a celular, todos no continente africano.

“Celular é uma tecnologia que está onde os pobres estão. Por isso, tem que levar conteúdo educacional pela plataforma do celular móvel, que está nas mãos das pessoas que se quer incluir. O celular está onde as pessoas estão. É uma plataforma que gera inclusão social”, diz o economista, explicando que dois terços dos pobres do Brasil têm celular.

Celular não traz felicidade
Mas para os brasileiros, celular não traz felicidade, diz a pesquisa. Nos países pesquisados, o Brasil é um dos raros em que não foi registrado um salto no grau de felicidade declarada quando o cidadão passa a ter acesso a um celular, o que para o economista. Os dez países em que o nível de felicidade mais sobe a partir do acesso ao telefone celular são Chipre, Arábia Saudita, Romênia, El Salvador, Singapura, Uruguai, Cambodja, Polônia, Israel e Argélia.

No Brasil, a cidade que mais usa celular é Chapadão do Céu, em Goiás, com 97,9% habitantes usando o aparelho, seguida das cidades gaúchas de Tio Hugo (97,1%) e Capivari do Sul (96,9%). Entre as capitais, as campeãs em uso do celular são Palmas, no Tocantins (95,7%), Brasília (95,4%) e Goiânia, em Goiás (94,6%). O Rio fica em 24º lugar com 90,2%.

Para Marcelo Neri, essa posição de menor destaque pode se dever pelo fato de o Rio concentrar grande população de idosos, mais apegados às plataformas tradicionais como o telefone fixo.