O melanoma afeta os homens bem mais do que as mulheres; explicamos o porquê

Saiba como hábitos básicos de precaução fazem diferença para evitar esse câncer

Proteja-se do sol: pessoas de pele clara e mais velhas correm maiores riscos — Foto: Liu Anno

Por Emily Laurence - 29/10/2024 

Embora ninguém consiga controlar totalmente sua saúde, seria ingênuo pensar que, neste momento, as probabilidades de contrair câncer são uma completa questão de acaso. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 30% e 50% de todos os casos da doença são evitáveis. Existe um tipo específico que se pode, em grande parte, prevenir, mas estima-se que mais de 5.000 homens morram por causa disso neste ano — mais que o dobro de mulheres.

Estamos falando do melanoma. De acordo com a American Cancer Society, ele é de longe o tipo mais comum de câncer nos Estados Unidos e se tornou o responsável pela maioria das mortes por câncer de pele. Pronto para as boas notícias? Você consegue reduzir drasticamente o risco de sua incidência ao adotar alguns hábitos básicos.

Por que eles morrem mais do que elas

Se tudo o que você sabe sobre o melanoma é que se trata de um câncer de pele que virou uma das razões pelas quais os dermatologistas pregam o uso do FPS, aqui estão mais algumas infor-mações importantes. Nandini Kulkarni, oncologista cirúrgica da Inspira Health, explica que, embora nem sempre seja fácil identificar sua causa, a mutação genética aparece na raiz do desenvolvimento desse câncer. “Os raios UV podem danificar o DNA das células da pele, o que afeta a forma como elas crescem e se dividem, um componente-chave do câncer”, diz.

Existem algumas razões pelas quais o melanoma atinge mais os homens do que as mulheres. Rosanne Paul, professora assistente de dermatologia na universidade Case Western Reserve, aponta que os homens têm a pele mais grossa e com menos gordura. “Dá para pensar que uma pele espessa traria proteção, mas, na verdade, trata-se de um fator de risco, porque significa que há mais pele que pode ser potencialmente danificada”, afirma. Além disso, a tez feminina se repa-ra melhor dos danos UV.

Há ainda motivos comportamentais para os homens correrem maior risco de morrer de melanoma do que as mulheres. Jeremy Brauer, cirurgião dermatológico e fundador da Spectrum Skin and Laser, ressalta que o público masculino é menos propenso a usar produtos para a pele ou maqui-agens que contenham FPS.

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, a probabilidade de as mulheres aplicarem protetor solar é duas vezes maior. Brauer explica também que os homens estão menos inclinados a consultar um dermatologista para exames anuais e demoram para perguntar ao mé-dico sobre sintomas apresentados, como uma pinta suspeita.

Como diminuir o risco

Embora todos devam fazer o possível para reduzir o risco de melanoma, há pessoas que precisam ficar especialmente atentas, pois correm maior perigo. Os principais alvos são aqueles que possuem histórico familiar da doença, têm pele clara, exibem diversas pintas, passam bastante tempo fora de casa, moram perto da Linha do Equador ou em altitude elevada, ou já tenham sofrido queimaduras solares graves no passado. Brauer acrescenta que, quanto mais avançada a idade, maior será o risco, porque os danos à pele são cumulativos.

Para constar, indivíduos de todos os tons de pele podem ter melanoma, mas a cor clara aumenta as probabilidades. “A maioria das ocorrências desse câncer se dá no peito ou nas costas, no caso de homens claros. Para aqueles com pele mais escura, fica difícil perceber as lesões, o que pode levar à detecção tardia. Além disso, estes últimos têm maior possibilidade de desenvolver mela-noma em locais incomuns, como sob as unhas”, afirma Nandini.

Os especialistas indicam que as duas melhores maneiras de reduzir o risco de melanoma são consultar um dermatologista uma vez por ano e proteger a pele do sol. Isso significa vestir roupas com proteção solar, aplicar FPS 30 quando sair ao ar livre (mesmo em dias nublados) e se manter longe do sol no período próximo ao meio-dia, quando os raios UV são mais intensos. Rosanne alerta para a importância de passar protetor também nas orelhas, área onde o melanoma costu-ma aparecer. Se você é calvo, proteja sempre a cabeça.

Caso note alguma pinta mudando de cor ou formato, Brauer recomenda marcar uma consulta com seu dermatologista para que ele possa verificá-la. Outros sintomas desse câncer incluem uma ferida que não cicatriza, vermelhidão ou inchaço além da borda de uma pinta, alteração em sua superfície ou dor e coceira ao tocá-la.

Digamos que você descubra que tem melanoma. E agora? “Quando detecta- do precocemente, o melanoma é altamente curável, e o prognóstico se mostra muito bom”, afirma Rosanne. Ele é tratado com uma cirurgia dermatológica, procedimento bastante bem-sucedido, no qual as células cancerígenas são removidas. “De acordo com a American Cancer Society, para pacientes nos EUA, a taxa de sobrevivência após cinco anos do diagnóstico no estágio inicial é de cerca de 99%”, diz Brauer. Aprenda com o ator Hugh Jackman: o câncer de pele é altamente tratável quando detectado precocemente.

É quando a doença se espalha que o tratamento se torna mais complicado. “No caso de um diag-nóstico de melanoma da mucosa, mais difícil de detectar e muitas vezes percebido em uma fase posterior, a taxa de sobrevivência de cinco anos para todas as fases do diagnóstico cai para 25%”, segundo Brauer. Aí, são necessárias formas de tratamento mais agressivas, a exemplo da imunoterapia.

Não há razão para que milhares de homens morram em decorrência do melanoma todos os anos. Aplique protetor solar de FPS 30, marque uma visita anual a um dermatologista e verifique qualquer coisa estranha em sua pele. Afinal, esses três hábitos podem literalmente salvar sua vida.

https://gq.globo.com/saude/noticia/2024/10/melanoma-afeta-homens-mais-mulheres.ghtml