SAÚDE PÚBLICA: Epidemia de dengue ameaça cidades de serra e sertão

Quixadá. Os três municípios apontados no último levantamento feito pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa) com situação de risco de dengue - Quixadá, Baturité e Tejuçuoca - enfrentam realidades bem diferentes no combate ao mosquito transmissor, o Aedes aegypti, diante da ameaça de uma epidemia.

Em Quixadá, o trabalho de combate aos possíveis focos de proliferação do mosquito é feito com frequência. Índice de infestação caiu de 11,9 para 6,2%, porém ainda está acima da média estipulada pelo Ministério da Saúde. 

Enquanto em Quixadá são intensificadas as ações de prevenção, nas outras duas cidades o quadro é considerado caótico, a começar pela falta de comunicação da população com os órgãos de Saúde. Os telefones não atendem. A reportagem do Diário do Nordeste procurou manter contato com as secretarias de Saúde de Baturité e Tejuçuoca. Entretanto, até o encerramento desta edição nenhum representante dos órgãos foi localizado para se manifestar sobre o problema.

Em Quixadá, segundo o coordenador da Vigilância Ambiental em Saúde do Município, biólogo Clemilson Paiva, os índices de infestação estão bem abaixo dos números alarmantes registrados no início do ano nesta cidade do Sertão Central.

Caíram de 11,9 para 6,2 %. O técnico reconhece ser ainda bem acima da média tolerável de 1% estipulada pelo Ministério da Saúde. Uma epidemia não está descartada, principalmente em razão da circulação do sorotipo 4 no Estado. Todavia, sua equipe trabalha para reduzir ainda mais os riscos. Essa foi a resposta do técnico à divulgação da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), apontado o Município como um dos 28 com risco de surto de dengue no Estado.

Conforme o biólogo, recentemente, em parceria com técnicos do Estado, o município realizou capacitação para todos os agentes de endemias. A ação envolveu principalmente a educação em saúde, motivação e trabalho em equipe.

O objetivo é fornecer cada vez mais subsídios para os agentes poderem atuar no convencimento da população. Na avaliação de Clemilson Paiva, o uso de inseticida não vai eliminar o mosquito transmissor. Na sua opinião, a conscientização é a melhor forma de eliminar os riscos.

Para evitar a epidemia, alguns projetos deverão ser desenvolvidos já no início de 2013. A intensificação das ações educativas com participação dos agentes de endemias, agentes comunitários de saúde e alunos do curso de Ciências Biológicas, da Faculdade de Educação Ciências e Letras do Sertão Central (Feclesc), é um deles. Outra ação preventiva será a distribuição do peixe Betta para a população. Conforme o coordenador, esse tipo de peixe já foi comprovado em laboratório ser eficaz na redução da infestação por Aedes aegypti, uma vez que elimina as larvas.

Atualmente, o bairro com maior índice de infestação é o Campo Novo, considerado o mais populoso de Quixadá. Pelos levantamentos da Vigilância Ambiental do município, 12% dos domicílios apresentam focos do mosquito transmissor.

Na zona rural, Tapuiará e Juatama apresentam os números mais preocupantes. Mesmo assim, bem abaixo dos registrados na região urbana de Quixadá.

O ponto positivo nas áreas distantes da cidade está relacionado ao parentesco dos moradores. Geralmente são da mesma família. Elas mesmas se preocupam com a saúde dos vizinhos, mantendo os recipientes de água sempre limpos.

Segundo o especialista, é preciso ocorrer três fatores para o surgimento de uma epidemia de dengue. Um deles são pessoas suscetíveis ao vírus; o segundo é a presença do vetor, o Aedes aegypti ; o terceiro é o agente etiológico, o vírus. "No caso de Quixadá, temos os dois primeiros e, possivelmente, o vírus circulante não seja ainda o tipo 4, pois quando este chegar à cidade, se a infestação não estiver abaixo de 1%, a epidemia será inevitável", reconhece.

Entretanto, com a intensificação das ações de prevenção, o nível tolerável poderá ser alcançado ainda no primeiro semestre do próximo ano.

Neste mês, a Secretaria de Saúde de Quixadá estará convocando dez agentes, aprovados no último concurso público. Após capacitação e efetivação, eles reforçarão o plano de prevenção da dengue.

"Mesmo assim, ainda haverá carência de, pelo menos, 25 agentes de endemias", acrescenta o coordenador. Por esse motivo, ele espera a contratação de mais profissionais concursados pelo futuro gestor do Município, João Hudson Bezerra.

Quem já sofreu com a dengue na cidade, como a dona-de-casa Maria Auxiliadora, moradora do Campo Novo, aguarda a chegada dos agentes de endemias com expectativa. De vez em quando, a agente de saúde aparece em sua casa. Ensina a evitar o surgimento do mosquito transmissor na casa dela, mas diz que somente fica mais atenta quando o agente de endemias lhe visita. No município de Baturité, os moradores também têm grande parcela de culpa. Essa é a avaliação da radialista Maria Lins, da Rádio Maciço de Baturité.

Na opinião dela, o problema deve se agravar, pelo menos até a posse do novo prefeito. A atual gestora municipal, Silvana Vasconcelos, não conseguiu se reeleger. Foi obrigada pela Justiça do Trabalho a dispensar todos os servidores temporários, dentre eles boa parte dos agentes de endemias do município.

Proliferação

"Além da nossa região ser muito propícia para proliferação do Aedes aegypti, a população local não colabora com as ações preventivas, apesar da intensa campanha realizada pela Prefeitura nestes quatro anos" explicou a comunicadora, destacando a campanha gratuita de combate à dengue, realizada pela sua emissora de rádio.

Em Tejuçuoca, o clima também é de preocupação. Conforme uma moradora do Centro da cidade, Fernanda dos Santos, não há qualquer informação sobre a situação da dengue onde ela mora. Apenas boatos de pessoas chegando ao hospital, com os sintomas da doença. Recentemente, ela ouviu falar de três casos. Conta que os agentes de endemias aparecem, mas apenas de vez em quando. Mesmo assim, não visitam todas as casas. Para piorar, ninguém informa em quantas casas são encontrados focos do inseto transmissor. "Mas por aqui tem muito mosquito da dengue. Para quem é mãe e tem filho pequeno, a aflição é maior ainda", desabafa a moradora, criticando a omissão dos gestores públicos.

Campanha

34 agentes de endemias atuam em Quixadá no combate à dengue. 25 mil é a quantidade de residências trabalhadas na cidade durante a ação sistemática

Mais informações:

Secretaria de Saúde de Quixadá
(88) 3412.3245, Secretaria de Saúde de Baturité, (85)3347.1565
Secretaria de Saúde de Tejuçuoca
(85) 3323.1187

ALEX PIMENTEL
COLABORADOR