Descontrole de armas de fogo custa caro ao SUS, que gasta cinco vezes mais com internação de feridos
Em média, a internação de vítimas da violência armada é de R$ 2.390,59 e sobe para R$ 3.804,33 no caso de alta gravidade
Instituto Sou da Paz revela que as mais de 17,1 mil internações para tratamento de vítimas da violência armada em hospitais públicos custaram R$ 41 milhões ao cofres públicos somente em 2022. Custo é maior do que investimento geral na saúde de um indivíduo
Por Redação RBA
Arquivo Agência Brasil
Gastos com a violência armada retira recursos que poderiam ser investidos em outras frentes da saúde pública, adverte o Instituto Sou da Paz no estudo
São Paulo – As mais de 17,1 mil internações para tratamento de ferimentos por armas de fogo em hospitais públicos do Brasil custaram R$ 41 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS) no ano passado. É o que aponta o estudo Custos da Violência Armada, divulgado nesta quarta-feira (1º) pelo Instituto Sou da Paz. De acordo com a publicação, a maioria das agressões por disparo de arma de fogo levam à morte, e a tentativa de salvar as vítimas que chegam ao SUS exige recursos que poderiam melhorar a saúde pública no geral.
Os gastos incluem valores desembolsados com profissionais especializados, equipamentos, procedimentos cirúrgicos e manutenção do paciente. E revelam ainda que o custo com a internação de uma pessoa atingida por arma de fogo é 3,2 vezes maior do que o valor investido pelo governo federal com a saúde de um indivíduo. O que chega a ser 5,2 vezes ainda mais alto em casos de alta gravidade. Ao considerar o gasto público total com a saúde a partir de dados do Sistema de Informações Hospitalares e do DataSUS, o levantamento também mostra que o custo da internação por arma de fogo é mais alto do que a despesa pública com saúde per capita no país.
Em média, o valor gasto com a internação de vítimas da violência armada é de R$ 2.390,59. O montante sobe para R$ 3.804,33 no caso de internações por alta gravidade. A média do custo da internação, porém, é de R$ 1.541,73, enquanto que a despesa pública federal per capita é de R$ 737,89. O instituto adverte que o Brasil ainda gasta pouco com saúde pública na comparação com países que fazem parte, por exemplo, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apesar da importância e do desenvolvimento do SUS.
Armas desviam recursos
No entanto, se diminuído o nível da violência armada, a avaliação é que esses recursos poderiam ser investidos em outras frentes da saúde pública. Com o montante, de acordo com o instituto, mais de 40,5 milhões de testes rápidos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) poderiam ser adquiridos. Assim como mais de 10 milhões de hemogramas completos e quase 1 milhão de mamografias, compara o instituto.
“O impacto da violência armada ultrapassa a conta das internações e afeta os serviços de atenção primária à saúde, conforme indica estudo de caso em um bairro no Rio de Janeiro marcado pela grande circulação de armas de fogo e altos níveis de violência. A violência armada afeta tanto a saúde física e mental de profissionais e usuários como prejudica o funcionamento da rede de atenção primária à saúde, visto que os riscos de circular e o medo de atuar em territórios conflagrados dificultam o fluxo de encaminhamento dos casos, a integração entre os diferentes serviços e até mesmo a notificação dos casos de violência por parte dos profissionais da saúde – o que resulta na subnotificação e invisibilização do problema”, destaca o estudo.
Política de controle
Os dados também indicam que os homens são maioria entre as vítimas da violência por armas de fogo. Em 2022, eles representaram 89,6% dos casos. Além disso, em média, o grupo também fica mais tempo internado, custa mais e tem a maior taxa de mortalidade hospitalar. A análise do levantamento é que a vitimização está relacionada à gravidade das lesões que vitimam mais os homens do que as mulheres. O recorte racial também apresenta as pessoas negras com 57% das internações no ano passado. Apenas 16% das vítimas são não negras, e em outros 26% dos casos não há identificação sobre raça ou cor dos pacientes.
O estudo também adverte que, no caso das vítimas negras, a diária de internação custa menos – o que pode refletir desigualdades em termos de acesso aos recursos de saúde. O Sou da Paz conclui que o diagnóstico expõe a necessidade de retomada de uma política responsável de controle de armas e de definir a obrigatoriedade do registro de todos os casos de violência armada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima
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