Remédios antigripais não combatem os vírus; saiba as diferenças entre resfriado, gripe e alergia e o que fazer

De repente, o nariz começa a ficar entupido, a garganta dói e você se sente febril. Será um resfriado? Uma gripe? Ou uma alergia?

Por Marina Pagno, g1

Se usados de forma correta e com orientação médica, remédios específicos ajudam a aliviar os sintomas de infecções respiratórias. — Foto: Claudio Fachel/Palácio Piratini

No outono e no inverno, há uma tendência forte de aumento na circulação de vírus respiratórios. Doenças provocadas por esses vírus causam sintomas que incomodam no dia a dia, mas não há solução mágica que os faça desaparecer de uma hora para outra.

De repente, o nariz começa a ficar entupido, a garganta dói e você se sente febril. Será um resfriado? Uma gripe? Ou uma alergia? Os sintomas são bem parecidos nos três casos e, infelizmente, podem aparecer com mais frequência a partir de agora, com a chegada dos meses mais frios do ano.

Com as temperaturas mais baixas, os ambientes ficam mais fechados e úmidos, formando o cenário perfeito para infecções causadas por vírus respiratórios ou por alergias. Por isso, no outono e no inverno, há uma tendência forte de aumento na circulação desse tipo de vírus.

Uma infecção respiratória geralmente vem acompanhada de sintomas bem chatinhos, que incomodam no dia a dia, mesmo na forma mais leve. Mas não há uma solução mágica que faça os sintomas desparecerem de uma hora para outra. O que existe são remédios que, se usados de forma correta e com orientação médica, podem ajudar a aliviar o desconforto.

Na busca por uma cura ou uma solução rápida, a primeira reação das pessoas é correr para as farmácias que, nessa época do ano, colocam de forma bem exposta dezenas de remédios antigripais, todos com nomes muito parecidos, que prometem combater resfriados e gripes.

Só que não é bem assim.

"De uma maneira geral, esses antigripais fazem uma combinação de vários tipos de medicamentos para dar a cobertura dos sintomas. São uma mistura de antitérmico, anti-inflamatório, analgésico e até antialérgico, que não combatem o vírus, mas sim os sintomas", disse o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Apenas medicamentos da classe dos antivirais são eficientes para matar vírus como a influenza, causadora da gripe, e o Sars-Cov-2, causador da Covid-19.

Confira abaixo as diferenças entre resfriado, gripe e alergia - e o que fazer em caso de uma infecção.

Resfriado

O resfriado pode ser causado por mais de 100 tipos de vírus respiratórios diferentes, como o rinovírus e o metapneumovírus. Um conjunto de sintomas leves é a principal marca de um resfriado: ele te deixa meio para baixo, mas não chega a te derrubar.

Sintomas: febre baixa, tosse, dor de garganta, espirro, coriza, dor de cabeça leve e fadiga moderada.

Os sintomas começam a se manifestar de uma forma mais branda e aos poucos. Por exemplo: pode começar com uma dor de garganta e evoluir, no dia seguinte, para coriza e febre baixa.

Tratamento: é sintomático, ou seja, os remédios indicados pelo médico vão tratar o sintoma que mais incomoda o paciente naquele momento.

Analgésicos e antitérmicos, como paracetamol e dipirona, são eficientes para febre e dor no corpo, assim como o soro fisiológico pode ser indicado para lavagem nasal, caso o nariz esteja entupido.

O resfriado pode durar de 3 a 14 dias. E fique atento: remédios que prometem combater o resfriado não existem, apesar de serem facilmente encontrados em farmácias com essa finalidade.

“Nenhuma dessas medicações têm ação direta contra o vírus. Elas combatem os sintomas. E devem ser guiados a depender do que mais incomoda o paciente”, disse Alexandre Naime Barbosa. “Dizer que combate o resfriado não é uma verdade científica", afirmou o médico.

Sobre a vitamina D: estudos mostraram que a vitamina D pode ser uma aliada contra infecções respiratórias, ajudando na prevenção e na resposta imunológica. Mas o ideal é buscar ajuda médica para verificar como estão os níveis de vitamina D no corpo e se há necessidade de suplementação (tomá-la de forma individual). Nunca faça isso por conta própria.

Síndrome gripal

A síndrome gripal é como se fosse um resfriado muito forte. Os sintomas são bem mais intensos e chegam de uma vez só. Na classe dos vírus, os mais comuns são o Influenza e o Sars-Cov-2. Com isso, o paciente pode ser diagnosticado com gripe ou com Covid-19, respectivamente.

Sintomas: febre alta e repentina, dor de garganta e de cabeça, tosse, coriza, calafrios e/ou alterações no olfato e no paladar.

Nesse cenário, pacientes mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com imunidade baixa ou comprometida, devem procurar um médico de forma imediata.

"É importante fazer o diagnóstico, saber qual vírus está causando a síndrome gripal, porque a síndrome gripal pode levar a quadros graves”, disse o infectologista Alexandre Naime Barbosa.

Sem orientação médica, a síndrome gripal pode evoluir para uma Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com necessidade de internação e até uso de oxigênio.

Tratamento: além do tratamento do sintomas, existem remédios específicos que combatem vírus causadores de síndromes gripais. A classe de medicamentos dos antivirais interrompem o processo de infecção causado por um vírus e devem ser usados sob recomendação médica.

Para a gripe, existe o oseltamivir (no comércio, vendido como Tamiflu). É um medicamento que reduz a multiplicação da influenza A e B.

Para a Covid-19, há os antivirais como o nirmatrelvir e ritonavir (remédio conhecido como Paxlovid), o molnupiravir e o remdesivir, que tratam os pacientes nos primeiros sintomas.

"Esses, sim, combatem o vírus, combatem a doença", afirmou Barbosa.

Lembrando que há vacina contra a gripe e da Covid-19: ela é uma ótima ferramenta para evitar formas graves das doenças, principalmente no público mais vulnerável.

Rinite alérgica

Diferentemente do resfriado e da síndrome gripal, a rinite alérgica não é causada por um vírus. Porém, possui sintomas parecidos e também é mais comum nas estações mais frias do ano.

"A reação alérgica geralmente é causada por substâncias presentes no ar, como pólen. No outono e no inverno, o ar também fica mais seco. Isso deixa as mucosas do nariz mais propensas a processos alérgicos", disse o infectologista.

Outro gatilho para uma alergia pode estar dentro da nossa própria casa, como mofos (fungos) e ácaros, presentes em cobertores guardados por muito tempo e que não foram lavados adequadamente antes do uso.

Sintomas: congestão nasal, espirro e tosse. Não há febre. Dor de cabeça é menos provável.

Tratamento: antialérgicos ajudam a aliviar os sintomas.

"Para um leigo, é impossível saber se ele está tendo uma rinite alérgica, um resfriado comum e uma gripe. A conclusão óbvia é de que precisa uma recomendação médica, principalmente em pessoas vulneráveis. A automedicação deve ser desencorajada, porque você não sabe realmente o que está acontecendo, qual é o diagnóstico", disse Alexandre Naime Barbosa.

https://g1.globo.com/saude/noticia/2023/05/12/remedios-antigripais-nao-combatem-os-virus-saiba-as-diferencas-entre-resfriado-gripe-e-alergia-e-o-que-fazer.ghtml