Outubro Rosa: Lilian Ribeiro celebra renascimento após sete meses de tratamento contra câncer de mama: 'Já posso sonhar de novo'

Quando descobri a doença, pensei, 'acabou, não vou fazer nada'

Por Laís Rissato

Lilian afirma que hoje vive de forma mais leve: 'os problemas ficaram menores' Léo Martins

Em relato emocionante, jornalista da Globonews que descobriu um tumor no ano passado diz aproveitar mais os pequenos prazeres da vida

"O ano de 2021 foi muito difícil para a minha família. Não apenas pelo meu diagnóstico de câncer de mama, mas porque a descoberta aconteceu ao mesmo tempo em que minha prima, Tathiana Miranda, de 36 anos, entrava no estágio terminal da doença. Ela faleceu em setembro daquele ano, e eu estava ao seu lado quando ela partiu. Fomos criadas juntas e tínhamos a mesma idade. Eu sabia que podia estar doente porque já tinha uma mamografia marcada.

Um dia, na cama, senti um nódulo no seio pelo autoexame, e o Thiago, meu marido, foi o primeiro para quem contei. Ele me apoiou, disse para eu procurar um médico. Nunca escondi de ninguém, mas até então, estavam todos lidando com o luto da morte da Tathi e dizendo para eu não me preocupar. Mas eu sentia que algo estava acontecendo. Talvez eu pudesse ter adiado a mamografia, mas aprendi com a Tathi que não podia esperar. Quando descobri a doença, pensei, ‘acabou, não vou fazer nada’. Passei semanas deprimida, muito triste, inconsolável. Mas, ao mesmo tempo, também pensava que poderia repetir uma história de morte e sofrimento, então, precisava acreditar que era possível ser diferente, inclusive, aprendendo com o que a Tathi me deixou de lição.

Lilian com a filha, Giovana, de 6 anos, e o marido, Thiago Portella — Foto: Arquivo pessoal

Meu grande estímulo foi a Giovana, minha filha. Ela entendeu que eu estava doente, e adotei uma linguagem que uma menina de 6 anos pudesse absorver. Falei: ‘a mamãe está com um dodói no peito, tomando remédio, e às vezes pode ficar mais cansada’. Quando o cabelo começou a cair, eu disse que rasparia a cabeça. Ela achou estranho, então falei: ‘você queria pintar a pontinha do seu cabelo de azul, vamos fazer isso?’. Não foi fácil, e mesmo na inocência dela, Giovana viu que tinha algo sério acontecendo. Não dá pra proteger os filhos de tudo.

Durante a químio, os médicos me aconselharam a não parar de trabalhar. Inicialmente, comprei uma peruca, mas me senti insegura, com medo que ela escorregasse e caísse no estúdio. Foi quando tive a ideia de usar lenços e turbantes. Levei para a minha chefia imediata mas achei que não fosse rolar, que talvez achassem que seria muita exposição, mas aceitaram. Tive ajuda da equipe de figurino, que pensou em novas amarrações e em qual seria melhor para o meu formato de rosto. Recebi muito apoio e carinho do público e isso foi fundamental durante todo o processo. Foram sete meses de tratamento com um combo completo: quimioterapia, cirurgia e, por fim, a radioterapia. Hoje não tenho sinal de câncer no meu corpo.

Algo importante de dizer é que as pessoas insistem nessa coisa bélica de ‘guerra contra o câncer’, ‘ah, perdeu a luta contra o câncer’. Minha prima sobreviveu cinco anos, criou as filhas e enfrentou corajosamente o que foi preciso. Não posso dizer que ela perdeu. Ela morreu. Existe um estigma, porque te olham como se você estivesse sentenciada. Além do medo da morte, o câncer traz o medo do sofrimento. O que eu costumo dizer é que chorei a minha morte. No momento do diagnóstico, descobri que vou morrer. Descobri mesmo, porque sabemos que a vida é finita num campo abstrato e, de repente, vem uma realidade para te mostrar que vai acabar.

Hoje vivo de forma mais leve. Os problemas ficam muito menores, e as pessoas e os amores ganham mais protagonismo. São todos os clichês: o vento que bate no rosto, a caminhada na praia, levar minha filha na porta da escola. Em breve vou para Alagoas e estou ansiosa, porque vai ser uma viagem para celebrar a vida. Um ano depois, realmente estou entendendo que minha vida continua, que posso viver outras histórias e sonhar de novo.”

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