Avanço na rede básica marca o Dia Mundial do Diabetes no CE
Em mais um Dia Mundial do Diabetes, celebrado hoje, é possível comemorar avanços no controle à doença, já que no Ceará a condição de atendimento na rede básica por meio dos Programas de Saúde da Família (PSF) tem melhorado consideravelmente. Além do engajamento coletivo de famílias no tratamento de pacientes, a prevenção também merece destaque, assim como iniciativas pioneiras de profissionais da área.
Locais da Capital, como a Praça Portugal, ganharam iluminação azul para celebrar a data. A iniciativa é da Sociedade Brasileira de Diabetes em parceria com Centro Estadual de Diabetes e, em Fortaleza, com a AMC
A coordenadora da Estratégia Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Julieta Pontes, revela que o PSF tem mobilizado famílias inteiras em torno do tratamento. "Todos os pacientes com a doença fazem parte de um grupo prioritário já que o tratamento precisa ser contínuo. Os agentes de saúde vão em busca dessas pessoas, por meio da visita domiciliar, e as encaminha para os postos". Julieta lembra que, com isso, em Fortaleza, houve uma redução significativa das complicações do diabetes. "Estamos com uma adesão cada vez maior ao tratamento, investimento na sistematização do acompanhamento mensal e no trabalho preventivo", destaca.
Porém a demanda de pacientes é cada vez maior no Estado, que conta com 350 mil diabéticos. Fortaleza é a cidade brasileira com o maior percentual de pacientes da doença, com 7,3%, segundo dados do Ministério da Saúde. São 200 atendimentos por dia no Centro de Diabetes e Hipertensão do Ceará.
A unidade recebe tantos pacientes porque as pessoas não costumam procurar os postos de saúde inicialmente, como afirma a coordenadora do Centro de Diabetes, Adriana Frota. "É preciso haver a redistribuição da clientela", pontua. Isso faz com que não se consiga 100% do controle efetivo, acrescenta.
No entanto, cada vez mais estratégias têm surgido na Capital para fortalecer a rede de atenção à doença. O Programa de Educação Permanente em Diabetes e Demais Doenças Endócrinas apoia médicos de família e comunidade e demais profissionais que atuam na atenção primária. O projeto tem contribuído para mudar a realidade de falta de diagnóstico e de atendimento.
Trata-se de um programa da Universidade Federal do Ceará (UFC), em parceria com a SMS, que é pioneiro no Estado. Um grupo de endocrinologistas, além de médicos residentes em treinamento, coordenados pelo endocrinologista e professor Renan Montenegro Junior, disponibiliza apoio clínico à distância (utilizando-se celulares cadastrados e e-mails) a médicos que atendem na rede básica, para discussão e auxílio na tomada de decisão em casos de pacientes atendidos com diabetes ou outros distúrbios (tireoide, obesidade, colesterol elevado, puberdade e crescimento).
Iniciativas
"O contato possibilita, ainda, maior agilidade no encaminhamento em casos necessários, além de nortear ações educativas e assistenciais nas unidades", destaca Renan Montenegro. O projeto está em fase de expansão para outras especialidades, além da endocrinologia.
Conforme o médico, é preciso mudar o paradigma atual, no sentido de investir mais na atenção às condições de assistência, capacitação profissional, educação, envolvimento e emponderamento (empowerment) dos pacientes. Atualmente, medidas imediatistas deveriam ser direcionadas para que não haja dificuldade de acesso ao atendimento, falta de medicamentos por problemas como atraso nas licitações e distribuição irregular.
Novos tratamentos e pesquisas são descobertos
Existem novas drogas em estudo voltadas, principalmente, para o tratamento do Diabetes tipo 2, que atuam em diversos sítios de ação como o rim, intestino e pâncreas, mas muitas ainda em fase experimental. "Há também novas apresentações de drogas já comercializadas, como novos inibidores de uma enzima denominada DPP-4 (que atua estimulando a secreção de insulina após o estímulo alimentar), miméticos ou análogos do hormônio intestinal GLP-1 (que estimula a secreção de insulina) que são injetáveis de posologia diária e passarão a ter uso semanal", descreve a endocrinologista-pediatra e coordenadora do Ambulatório de Endocrinologia Pediátrica do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), Ana Paula Montenegro.
Além disso, o tratamento endoscópico do diabetes (por endoscopia é colocado no duodeno do paciente um tubo de plástico de 60 cm fazendo uma ligação direta entre o final do estômago e a porção média do intestino delgado) estimula a secreção de insulina e tem impacto importante na perda de peso.
Ainda existem novas apresentações de insulina com tempo de ação mais prolongado, novas bombas de insulina com dispositivos menores e com monitoramento contínuo de glicose. Outra novidade é o pâncreas artificial (onde um sensor para medir a glicose que é instalado no subcutâneo para monitorar os níveis de glicemia está associado à uma bomba de insulina e ambos estão conectados por um programa desenvolvido para calcular a quantidade de insulina a ser liberada mantendo a glicemia dentro dos parâmetros normais).
Órgãos
O transplante de pâncreas e de ilhotas pancreáticas não trouxe grandes resultados, como revela a endocrinologista, mas ainda estão sendo realizadas novas pesquisas. "Já a terapia com célula tronco para o tratamento do Diabetes tipo 1 tem se mostrado promissora em pacientes com diagnóstico recente".
Existem os tipos 1 e 2 da doença. Em relação ao Diabetes tipo 1 (DM1), a contribuição de fatores genéticos, inflamatórios (como infecções virais - rubéola, caxumba, sarampo) e ambientais (introdução precoce do leite de vaca e do glúten) são importantes. "No que diz respeito aos fatores ambientais é importante ressaltar que o aleitamento materno tem se mostrado um protetor para o desenvolvimento do tipo 1", diz Ana Paula Montenegro. Já no tipo 2, a hereditariedade é muito importante.
Quando o diabetes não é tratado corretamente, as concentrações elevadas de glicose causam danos principalmente aos vasos sanguíneos e nos nervos. "Essas alterações predispõem à aterosclerose (formação de placas nos vasos sanguíneos tanto de grande quanto de pequeno calibre), dificultando a circulação e causando lesões no coração (infarto), no cérebro (Acidente Vascular Cerebral - AVC), nos membros inferiores (amputações), nos olhos (cegueira), nos rins (insuficiência renal e hemodiálise), dentre outros", enumera a endocrinologista Virgínia Oliveira Fernandes.
A médica acrescenta que, nos nervos, a doença causa neuropatia (que predispõe o aparecimento de úlceras). "Todas essas condições afetam profundamente a qualidade de vida do paciente e causam um impacto econômico e social importante para toda a nação", avisa.
Daí a relevância de uma mobilização, a fim de fazer com que as pessoas tomem consciência dos fatores de risco.
LINA MOSCOSO
REPÓRTER dn
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