Mito ou verdade: o óleo de coco é saudável?

O óleo de coco adquiriu uma fama de superalimento saudável e muitas pessoas acreditam que é real

Jane Brody, do New York Times

Coconut and coconut oil Foto: Apesar de ser vendido como um superalimento, o óleo de coco oferece riscos à saúde / Banco de Imagens / Unsplash

Cientistas dizem que não, pois o produto aumenta os níveis sanguíneos de colesterol LDL, que danifica as artérias

O óleo de coco é amplamente divulgado como um alimento milagroso. Os defensores, incluindo uma série de celebridades, afirmam que ele promove a perda de peso, reduz a pressão arterial e a glicose no sangue, protege contra doenças cardíacas, aumenta a energia, diminui as rugas e até combate a doença de Alzheimer. Além disso, o gosto é ótimo, então o que poderia dar errado?  

— Quando vejo um produto com uma longa lista de benefícios, sei que não pode ser verdade. O óleo de coco adquiriu uma fama de superalimento saudável e muitas pessoas acreditam que é real. Elas são culpadas por esse pensamento de que é um produto mágico, mas precisam parar e pensar: “Eles estão tentando me vender alguma coisa”. Uma pesquisa realizada em 2016 descobriu que 72% dos americanos viam o óleo de coco como um alimento saudável — diz Marion Nestle, especialista em nutrição e política alimentar da Universidade de Nova York. 

É preciso abolir o óleo de coco de uma categoria que ele não merece estar, segundo as evidências científicas, e dar aos consumidores a chance de usar o dinheiro que gastam nesse produto para investir em alimentos que podem realmente melhorar a saúde. Espero que os indicadores abaixo o convençam de colocar o óleo de coco no mesmo grupo que o sorvete — um deleite ocasional ingerido em quantidades modestas porque você gosta de seu sabor e textura.

Primeiramente, vamos examinar o óleo de coco. Ele não é realmente um óleo, pelo menos não em temperatura ambiente para a maioria das pessoas que vivem no Hemisfério Norte. É mais como uma manteiga ou gordura de carne, sólida quando está fria. Essa é a primeira pista para o fato de que, ao contrário da maioria dos outros óleos derivados de plantas, que contêm principalmente ácidos graxos insaturados, o óleo de coco é uma gordura altamente saturada, com 87% de saturação, muito maior que a da manteiga (63%) ou a gordura da carne (40%). Vale ressaltar que a maioria dos especialistas recomenda limitar as gorduras saturadas, porque elas podem aumentar os níveis de colesterol e levar ao entupimento das artérias.

O óleo de coco também não é um alimento dietético. Como outros óleos vegetais, uma colher de sopa de óleo de coco fornece 117 calorias, 15 a mais do que uma colher de manteiga. 

Talvez você já tenha ouvido que o ácido graxo primário do óleo de coco, chamado ácido láurico, não age como uma gordura saturada no corpo, mas isso não é verdade. Sua ação imita a do sebo bovino e da manteiga, os quais podem promover doenças cardíacas como a aterosclerose, a principal causa de morte nos Estados Unidos. 

Para entender melhor como o óleo de coco se comporta quando ingerido, consultei Frank Sacks, especialista em nutrição e doenças cardiovasculares da Escola T.H. Chan de Saúde Pública da Universidade de Harvard, e Philip Greenland, professor de cardiologia na Escola de Medicina Feinberg da Universidade de Northwestern, em Chicago. 

— Já se sabe há muito tempo que o óleo de coco aumenta os níveis sanguíneos de colesterol LDL, que danifica as artérias, mas as pesquisas mais recentes ressaltaram essas evidências. Ao preparar um editorial publicado na revista Circulation, não encontrei nada na literatura científica para apoiar as alegações publicitárias de que o óleo de coco tem efeitos benéficos — afirma Sacks. 

Ainda segundo o especialista, embora o ácido láurico seja geralmente referido como um ácido graxo de cadeia média, esse rótulo é equivocado.  

— Em vez do número de átomos de carbono em uma gordura, o que conta é como a gordura é metabolizada no corpo. O ácido láurico se comporta como um ácido graxo de cadeia longa, o tipo que promove a aterosclerose. Além disso, o óleo de coco tem dois outros ácidos graxos de cadeia longa (mirístico e palmítico) e todos os três têm um efeito prejudicial às artérias nos níveis de colesterol no sangue — conta Sacks.  

Uma informação do óleo de coco é indiscutível: ele pode aumentar os níveis sanguíneos de colesterol HDL, que há muito tempo acreditam que protege contra doenças cardíacas. No entanto, nenhum benefício claro do colesterol HDL para a saúde foi comprovado.  

— Estudos genéticos e drogas que aumentam o HDL ainda não apontaram uma relação causal entre ele e as doenças cardiovasculares. O HDL é composto por uma enorme variedade de subpartículas que podem ter ações adversas ou benéficas. Se houver, não se sabe quais alimentos ou nutrientes que aumentam o colesterol HDL e o fazem de maneira a reduzir a aterosclerose — explica Sacks. 

As pessoas que acreditam nos benefícios do óleo de coco também gostam de citar o fato de que várias populações indígenas — incluindo polinésios, melanésios, cingaleses e indianos — consomem grandes quantidades de produtos de coco sem sofrer altas taxas de doenças cardiovasculares. No entanto, a maioria dessas pessoas tradicionalmente comia polpa de coco ou creme de coco espremido como parte de uma dieta pobre em alimentos processados e rica em frutas e vegetais, tendo o peixe como principal fonte de proteína. Eles também são muito mais ativos fisicamente do que os ocidentais típicos. 

Mesmo que isso esteja mudando agora, uma equipe de pesquisa da Nova Zelândia relatou que com as importações de alimentos não saudáveis, como carne enlatada, fast food e ingredientes processados, houve um aumento nos casos de obesidade e de pessoas com problemas de saúde.  

A equipe revisou 21 estudos sobre o consumo de óleo de coco e chegou à conclusão de que consumir produtos derivados da fruta que contêm fibras, como polpa e farinha, em uma dieta rica em gorduras poliinsaturadas e ausente em calorias excessivas de carboidratos refinados, não representaria um risco de problemas cardíacos. Mas os pesquisadores não encontraram evidências que pudessem justificar a substituição do óleo de coco por outros óleos vegetais insaturados. 

— Se você gosta do sabor, em quantidades limitadas, tudo bem, mas não é de forma alguma um superalimento. No entanto, se você quiser usar óleo de coco no cabelo ou na pele, não há problema — aconselha Nestle.  

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