Butantan negocia venda de 15 milhões de doses paradas de CoronaVac para consórcio Covax e países vizinhos, diz Dimas Covas
Instituto Butantan deve distribuir doses de Coronavac estocadas para países da América Latina
Por Vitor Ferreira, GloboNews e TV Globo — São Paulo
Doses que não foram compradas pelo Ministério da Saúde vencem em agosto de 2022, e instituto negocia venda a Argentina e Chile, entre outros países.
O diretor-geral do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou nesta terça-feira (7) que a entidade negocia a venda de 15 milhões de doses da vacina Coronavac que estão paradas no estoque da entidade para países sul-americanos ou a inclusão delas no consórcio Covax Facility, co-liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os 15 milhões de doses são de um lote extra produzido pelo Butantan, que não foram comprados pelo Ministério da Saúde nem pelos estados, já que a CoronaVac não faz mais parte do Plano Nacional de Imunização (PNI).
Segundo Dimas Covas, o lote, que vence em agosto de 2022, já está em negociação com países como Argentina e Chile, por exemplo, e não serão perdidas.
Parte dos voluntários participou da pesquisa da CoronaVac em Porto Alegre — Foto: Cristine Rochol/PMPA
“Essas doses serão utilizadas, certamente, dentro do prazo de validade e até bem antes desse prazo de validade, não tenho duvidas disso e temos esse compromisso com o Brasil e com o mundo”, afirmou.
A inclusão da CoronaVac no consórcio Covax, segundo Dimas Covas, está sendo negociada através da Organização Panamericana de Saúde (OPAS).
Butantan tem 15 milhões de doses de CoronaVac sem previsão de uso
De acordo com o diretor do Butantan, as doses da vacina estão paradas por conta de uma formalidade no registro do lote no Ministério da Saúde.
“Essas vacinas serão utilizadas e serão utilizadas muito rapidamente, nosso esforço é nesse sentido. Essa formalização ao ministério foi para a formalidade de registro de que nós ainda não tínhamos uma manifestação formal, fizemos a oferta, houve o registro, e agora nós podemos, seguramente, fazer a melhor destinação para essas vacinas”, declarou ele à GloboNews.
Outra opção do Butantan é doar as vacinas para países amigos do Brasil, mas especialistas entendem que o instituto não pode fazer essa doação sem o respaldo do governo federal.
Para isso, é preciso uma articulação com a representação nacional no exterior, ou seja, o governo federal deve ser a pessoa jurídica de direito público responsável pela doação internacional.
Simpósio e variante ômicron
Nesta terça-feira (7), o Instituto Butantan realizou um simpósio sobre a Coronavac com a participação do presidente do laboratório chinês Sinovac, Weidong Win, e a vice-presidente e líder de pesquisa e desenvolvimento da empresa, Yallling Hu.
No evento, a Sinovac disse que já estuda uma nova versão da CoronaVac que vai combater também a nova variante ômicron.
O laboratório chinês afirmou que tem se dedicado a isolar o vírus, partindo de amostras de pacientes de Hong Kong, para poder iniciar os testes de anticorpos neutralizantes. Depois, pretende realizar um ensaio clínico para examinar a eficácia do imunizante. A previsão é que todo esse processo leve pelo menos três meses.
“A mutação é bastante instável no momento e ainda estamos trabalhando na neutralização cruzada da atividade causada pelo coronavírus”, explicou Yalling Hu.
“Acho que em um futuro próximo vamos precisar de mais trabalho para avaliar a eficácia das vacinas contra esta variante e, talvez, ir mais além para avaliar a cobertura da vacina que temos hoje”, complementou.
Sinovac anuncia que fará versão da vacina CoronaVac contra a variante ômicron
Weidong Win afirmou que ainda há muitas incertezas em relação à ômicron, sua taxa de mutação e a possibilidade de escape das vacinas. Mesmo assim, já existem evidências de que a CoronaVac é eficaz contra a nova cepa, segundo o executivo.
“Esperamos ainda mais colaboração para o desenvolvimento mais rápido de imunizantes para novas variantes ou para vacinas de reforço, e temos certeza que com parcerias como a do Butantan vamos ser capazes de enfrentar a Covid-19”, declarou Weidong Win.
Doses paradas no Butantan
A CoronaVac, produzida pelo Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, começou a ser aplicada na população brasileira no começo deste ano, e era a única disponível no país. Posteriormente, outras três vacinas passaram a fazer parte da campanha nacional: AstraZeneca, Pfizer e Janssen.
De janeiro a setembro, 100 milhões de doses da CoronaVac previstas em contrato com o Ministério da Saúde foram entregues e distribuídas aos estados, mas o Butantan também produziu um lote extra de 15 milhões de doses entre julho e agosto. São essas doses que estão sem destino. A validade desse lote vai até agosto de 2022, segundo o Butantan.
15 milhões de doses da CoronaVac estão sem destino, em São Paulo
O Ministério da Saúde afirmou que segue as negociações para novas aquisições apenas com a Pfizer e a AstraZeneca, escolhidas por já terem registro de uso definitivo no país.
A produção da TV Globo também perguntou aos 26 estados mais o Distrito Federal se há intenção de compra do imunizante, diretamente do instituto. Todos -- inclusive São Paulo -- responderam que não têm interesse, porque já receberam doses suficientes do Programa Nacional de Imunização (PNI).
A epidemiologista e ex-coordenadora do PNI, Carla Domingues, destaca que a vacina teve um papel fundamental na diminuição de casos graves e óbitos. Mas no cenário atual, com o avanço da vacinação com outros imunizantes e sem aplicação da dose de reforço, pra ela, o uso da CoronaVac fica limitado.
"Se nós tivéssemos registro para utilizar nas crianças, acredito que teríamos uma ótima vacina. Porque nós conhecemos que vacinas inativadas são muito importantes pra utilização no público infantil. Então nós precisaríamos ter esse registro para que a pudesse já avançar na vacinação, principalmente das crianças de dois a cinco anos de idade", disse Domingues.
O gerente geral de medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, afirma que a vacina ainda não foi autorizada para aplicação em crianças por falta de documentos complementares. Um deles é o estudo de imunogenicidade, que deveria ter sido apresentado em janeiro. O prazo já foi prorrogado para março, e agora está previsto para janeiro do ano que vem.
"É um estudo em que se acompanha ao longo do tempo o que a gente chama de titulação de anticorpos. A gente precisa acompanhar o quanto esse tipo de anticorpo fica presente no organismo ao longo do tempo. Para crianças, está faltando apresentar um estudo que tenha relevância estatística e significativa, mostrando que realmente tem um resultado que demonstre proteção pra essa população", afirmou Mendes.
O representante da Anvisa destaca que não existe nenhuma questão de segurança que possa colocar em risco quem tomou a CoronaVac, mas é preciso acompanhar a efetividade dela ao longo do tempo.
Em nota, o Butantan destacou que a vacina é eficaz. Sobre os documentados solicitados, o instituto afirmou que fechou um acordo com a Sinovac para que análises complementares sejam realizadas. As amostras estão em trâmites legais para envio e análise no padrão requerido pela Anvisa, de acordo com o instituto.
A TV Globo questionou o Ministério da Saúde sobre a possibilidade de compra deste lote de vacinas para doação para outros países, mas o ministério reforçou apenas que trabalha agora com os contratos com as outras fabricantes: Pfizer e AstraZeneca.
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/12/07/butantan-negocia-venda-de-15-milhoes-de-doses-paradas-de-coronavac-para-consorcio-covax-e-paises-vizinhos-diz-dimas-covas.ghtml
Comentários