Cepa do coronavírus de Manaus deve dominar País em breve, apontam estudos

Sequenciamento do vírus feito no Japão e amostras do Amazonas, foram constatadas semelhanças

Legenda: Enterro de vítimas da Covid-19 em Manaus, em 22 de janeiro - Foto: MARCIO JAMES / AFP

Escrito por Redação

A variante tem maior poder de transmissão e pode infectar pessoas que já tenham imunidade por outras cepas

A nova cepa do coronavírus originada em Manaus foi responsável pelo colapso registrado na capital amazonense em janeiro e deve se espalhar por todo o Brasil em um mês, conforme pesquisadores que estudam a pandemia no país. As informações são do jornal O Globo.

O infectologista Marcus Lacerda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Amazonas, afirmou que a nova variante já está em outras regiões do país e deve se tornar dominante. "Em cerca de um mês já deve prevalecer sobre outras no monitoramento", disse.

A variante conhecida como P.1 foi identificada primeiramente no Japão, após quatro passageiros de Manaus que desembarcaram em Tóquio terem sido diagnosticados com Covid-19. O sequenciamento  do vírus feito no Japão foi comparado com os sequenciamentos de amostras do Amazonas colhidas entre abril e novembro e foram constatadas semelhanças.

Um artigo de um grupo de estudos internacional composto por Universidade de Oxford, King's College, Universidade Harvard e USP, publicado nesta quarta-feira (27), indica que a variante é responsável pela segunda onda em Manaus. 

O estado do Amazonas sofre com um forte aumento de casos da Covid-19 e sobrecarga no sistema de saúde público, com falta de oxigênio em hospitais e transferência de pacientes.

O ministro de Saúde, general Eduardo Pazuello, é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de conduta omissiva na crise. 

Maior poder de transmissão 

Em setembro de 2020, o mesmo grupo publicou um artigo sobre a possibilidade de Manaus já ter atingido a 'imunidade de rebanho', quando uma parcela grande da população já foi infectada e a imunidade barra a disseminação. No início da pandemia, Manaus também foi intensamente atingida pela doença e teve que enterrar vítimas em valas comuns.

A nova variante, que já corresponde a 91% dos casos de Covid-19 em Manaus, quebrou a possível proteção coletiva. Os cientistas afirmam que a variante é mais transmissível, o que torna a cepa mais prevalente, e pode ser capaz de infectar pessoas que já tenham adquirido imunidade. 

O Ministério da Saúde confirmou um caso de reinfecção pela nova variante no Amazonas. Uma paciente foi diagnosticada com a infecção pela primeira vez em 24 de março, e no dia 30 de dezembro, nove meses depois, obteve o segundo diagnóstico positivo da Covid-19 pelo exame RT-PCR.

Os pesquisadores também trabalham com a hipótese de que Manaus não tenha atingido a imunidade coletiva após a primeira onda da doença. 

As viagens interestaduais, a falta de medidas restritivas e  o fraco isolamento social em todo o país são responsáveis pelo espalhamento da variante em todo o território brasileiro, explica o pesquisador Mateus Lacerda. 

A Fiocruz está desenvolvendo uma versão do teste RT-PCR que possa diferenciar essa variante do coronavírus de outras. Outra pesquisa da Fiocruz-Rio investiga se a imunidade adquirida pelas vacinas também neutraliza a nova cepa. 

São Paulo já confirmou três casos da P.1 e destinou um hospital para o tratamento de pacientes infectados com a cepa. 

O Reino Unido e outros países suspenderam a entrada de voos chegados do Brasil devido à nova variante.  

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