Defeitos genéticos ou imunológicos podem explicar gravidade da Covid-19 em alguns pacientes, diz estudo
Pesquisador realiza testes no Centro de Inovação Avançada de Genômica da Universidade de Pequim, na China
Mutação genética e anticorpos podem impedir a ação do interferon tipo 1, molécula da primeira linha de defesa do corpo.
Por G1
Pesquisador realiza testes no Centro de Inovação Avançada de Genômica da Universidade de Pequim, na China. Defeitos genéticos ou imunológicos podem explicar gravidade da Covid-19 em alguns pacientes, segundo estudo publicado nesta sexta-feira (25)
Defeitos genéticos ou imunológicos podem ser a explicação para o fato de alguns desenvolverem formas graves da Covid-19, de acordo com dois estudos divulgados pela revista "Sicence".
Segundo o consorcio internacional Covid Human Genetic Effort, que publicou os artigos, essas duas falhas em pacientes graves de Covid-19 os impedem de produzir uma molécula imunológica da primeira linha de defesa chamada interferon tipo 1.
A descoberta pode ajudar a explicar porque alguns pacientes ficam muitos doentes ou morrem enquanto outros são pouco afetados ou assintomáticos, informa o jornal britânico "The Guardian".
Após sequenciar parcial ou integralmente os genomas de 659 pacientes com Covid-19 em estado grave e os de 534 pessoas com infecções assintomática ou leve, o consórcio descobriu que os pacientes com casos graves eram mais propensos a ter um tipo de mutação que os deixa incapazes de produzir o interferon. Embora cada mutação seja rara, elas ocorreram em 3,5% dos casos graves.
VEJA TAMBÉM: O que são os interferons, ‘soldados na linha de frente' da luta do corpo contra o coronavírus
O segundo estudo envolveu cerca de mil pacientes em estado grave com Covid-19. Eles descobriram que pelo menos 1 em cada 10 carregava anticorpos que bloqueiam a ação do seu próprio interferon. Esses "autoanticorpos" não foram encontrados em pacientes assintomáticos ou leves.
Combinados, os dois tipos de erro são responsáveis por cerca de 15% dos casos de Covid-19 com risco de vida.
O imunologista Jean-Laurent Casanova, que dirige o consórcio, declarou ao jornal britânico que suspeita que a genética humana acabará explicando a maioria dos casos graves, porque o consórcio só procurou mutações em 13 dos mais de 300 genes relacionados ao interferon tipo 1 até agora. Muitos outros genes, incluindo aqueles não relacionados ao interferon, podem afetar a resposta de uma pessoa ao vírus.
O interferon tipo 1 é uma molécula produzida pelo sistema imunológico assim que a infecção é detectada. Se essa defesa de primeira linha for eficaz, a pessoa pode nem mesmo se sentir mal. Caso não seja, pode dar ao corpo tempo para montar uma resposta imunológica mais direcionada ao vírus em questão, envolvendo anticorpos e células imunes.
Sem o interferon, os pacientes graves de Covid-19 contam apenas com este segundo mecanismo de defesa, que pode levar vários dias para atingir a força total, dando ao vírus Sars-CoV-2 uma vantagem inicial para se multiplicar e danificar os tecidos do corpo.
Comentários