Ceará registra 9 mortes de médicos e mais de 14 mil profissionais da saúde infectados com a Covid-19

30% dos óbitos de profissionais são de médicos e 28% dos casos confirmados são de técnicos ou auxiliares

Legenda: Dos 29 profissionais de saúde que faleceram em decorrência da Covid-19 no Estado, 9 eram da medicina, o que equivale a 31% de todas as notificações fatais. Foto: José Leomar

Escrito por Redação

Dos 29 profissionais de saúde que morreram em decorrência da Covid-19 no Ceará, 9 eram médicos, o que equivale a 31% de todas as notificações fatais. Pelo menos 14.934 agentes foram diagnosticados com a doença no Estado. As informações foram calculadas a partir da atualização mais recente do IntegraSUS, publicada nesta quarta (5). A plataforma é administrada pela Secretaria de Saúde (Sesa) e acompanha o avanço da infecção.  

A categoria é a terceira em número de casos. Foram 1.441 médicos infectados pelo novo coronavírus, atrás dos casos em técnicos e auxiliares de enfermagem (4.294) e enfermeiros (2.144). Nos médicos, no entanto, a infecção é mais fatal: a taxa de letalidade da profissão é de 0,6%, a mais alta entre os agentes sanitários do Estado. Isso significa dizer que um em cada 160 infecções em médicos cearenses evoluiu para óbito, bem maior do que registrado em outros profissionais de saúde. Em técnicos de enfermagem, maiores infectados pela doença, a Covid-19 é fatal a cada 613 técnicos acometidos pela doença, o que corresponde a uma taxa de letalidade de 0,18%.

A Capital, epicentro da pandemia na Região Metropolitana do Ceará, é a cidade com maior número de profissionais mortos pelo novo coronavírus do Estado, com 12 óbitos desde o primeiro registro em agentes sanitários, no dia 10 de abril. Fortaleza também é o município com maior quantidade de médicos perdidos para doença, com 5 mortes. 

Atenção 

Especialista em Gestão Hospitalar, a médica e professora universitária Fernanda Colares explica que as atitudes tomadas pela unidade de saúde são fundamentais para o controle da doença na equipe. “O acompanhamento desses profissionais é essencial, principalmente durante a rotina de atendimento. O que os principais estudos mostram para gente é que os contágios acontecem nesses espaços de retirada de equipamentos”, conta Fernanda, que gerencia um hospital na rede privada de saúde em Fortaleza.

Seguir um protocolo de saúde, adiciona Fernanda, permite adequar os profissionais à medida que a pandemia avança. O treinamento da equipe é necessário para adaptação. “Explicar através de material gráfico e vídeos, os protocolos para cada EPI, como usar de acordo com cada atividade e identificar os fluxo de locais adequados para paramentação”, informa a médica. Principal proteção de agentes de saúde, os Equipamento de proteção individual (EPI) precisam ser trocados com frequência. 

Cuidar dos profissionais de saúde em vulnerabilidade para a Covid-19 é outra medida para evitar o avanço da infecção em ambiente hospitalar. “No hospital onde trabalho direcionamos as pessoas consideradas grupos de risco para outras atividades. Eles foram encaminhados para funções de suporte, locais não tão expostos”, indica. Fernanda reforça que os cuidados com a equipe na linha de frente não se restringem aos profissionais de saúde. “Na linha de frente temos também os recepcionistas, os maqueiros, os profissionais que realizam exames como tomografia. Todos precisam de atenção porque são as pessoas que têm contato direto com esses pacientes”, completa. 

De acordo com a Sesa, cada unidade de atendimento é responsável por desenvolver um protocolo sanitário específico, no entanto, há recomendações gerais da Pasta, entre elas: o uso dos Equipamentos de Proteção Individuais (EPI’s), manutenção de distanciamento físico mínimo e higienização adequada.  

A técnica da Vigilância Sanitária do Estado, Jane Cris Cunha, explica que o órgão realiza fiscalizações nas unidades para verificar possíveis irregularidades. "Neste ano, já fiscalizamos em torno de 200 estabelecimentos de saúde. De todas as denúncias que a gente recebe, 60% vem do setor público e 40% do privado", afirma.

Auxílio

Desde maio os profissionais de saúde diagnosticados com Covid-19 e seus familiares podem solicitar auxílio financeiro à Secretaria de Saúde. Podem receber o benefício aqueles agentes que atuam na rede estadual, sejam autônomos ou cooperados, que estejam afastados do trabalho por até 30 dias. Caso o afastamento seja inferior ao limite, o pagamento será proporcional aos dias ausentes. 

A quantia recebida varia por profissão. Técnicos de enfermagem e profissionais de nível médio devem receber um salário. O benefício para os agentes com nível superior de ensino é de três salários mínimos para os não médicos e quatro salários mínimos para o médico. Em caso de morte por Covid-19, serão pagos 10 salários mínimos à família, cônjuge, dependentes ou pais do profissional. O auxílio é repassado pelo Fundo Estadual de Saúde (Fundes), criado pelo Governo do Ceará. 

Para solicitar o benefício por contágio, o profissional deverá preencher o formulário disponibilizado pela Sesa, com informações pessoais e bancárias, além de acrescentar atestado médico. Os dados serão validados junto à direção da unidade de saúde onde a pessoa trabalha.

Em caso de casos de morte pela doença, os familiares podem entrar com pedido de seguro. Além das informações do profissional que faleceu em decorrência do novo coronavírus, anexar os dados do solicitante. Entre as comprovações necessárias nestes casos estão a documentação comprobatória do grau de parentesco, bem como o atestado de óbito. 

A população também pode se informar e tirar dúvidas sobre os benefícios pelos números (85) 31015147 e 31015267. O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 17 horas

Recorrência

No começo de julho a Sesa informou, através de nota, que seis profissionais de saúde do Ceará, quatro médicos e dois técnicos de radiologia, voltaram a apresentar sintomas da doença depois da alta do primeiro episódio e testaram positivo para o vírus pela segunda vez. 

Todos os casos considerados no estudo tiveram testes do estilo RT-PCR, por biologia molecular, com resultado positivo nos dois momentos observados, além de exames negativos que permitiram a alta após o fim da primeira infecção. Especialistas do Comitê de Operações em Emergências (COE) da Sesa decidiram adotar o termo “reversão positiva do teste virológico” para aqueles que voltarem a apresentar exame positivo para o vírus e “recorrência de quadro clínico” para quem, além do novo teste positivo, passou a reapresentar sintomas.

A Secretaria comunicou no documento que “os achados evidenciados no estudo desses casos necessitam de investigação mais detalhada”.

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