Busca por vacina da Covid avança, mas Brasil corre risco de esperar

Brasil corre o risco de ficar de fora da lista das nações a terem prioridade na distribuição de uma futura vacina contra a Covid-19

Covid-19 - Brasil corre o risco de ficar de fora da lista das nações a terem prioridade na distribuição de uma futura vacina 

Busca por vacina da Covid avança, mas Brasil corre risco de esperar

Por Redação

Teste com antídoto em seres humanos tem resultado preliminar positivo nos EUA e reforça previsão de lançamento de vacina ainda em 2020, mas o Brasil não tem prioridade no recebimento, pois está fora de iniciativa internacional

Segundo país com o maior número de óbitos registrados em 24 horas, atrás apenas dos EUA, o Brasil corre o risco de ficar de fora da lista das nações a terem prioridade na distribuição de uma futura vacina contra a Covid-19. O Governo Bolsonaro, que hostilizou as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) quanto à importância do isolamento social no combate à pandemia, foi excluído de uma iniciativa internacional que busca acelerar a produção de vacina, tratamentos e testes contra a pandemia e assegurar um acesso equitativo.

Denominada "Colaboração Global para Acelerar o Desenvolvimento, Produção e Acesso Equitativo a Diagnósticos, Tratamento e Vacina contra a Covid-19", a iniciativa, lançada no fim de abril, reúne diversos países como França e Alemanha, organizações internacionais, fundações e empresas privadas. Participar dessa ação global significa ter prioridade para receber a vacina e influenciar na questão de preços e de condições de acesso às futuras descobertas.

Ontem (18), o mundo comemorou o anúncio feita pelo laboratório farmacêutico norte-americano Moderna, que informou ter tido "dados positivos" em testes iniciais de uma vacina. Segundo a empresa americana, a primeira vacina contra o novo coronavírus testada em pessoas parece ser segura e capaz de estimular uma resposta imunológica contra o vírus. Os resultados são baseados na reação das oito primeiras pessoas que receberam, cada uma, duas doses da vacina, a partir de março.

Essas pessoas, voluntários saudáveis, produziram anticorpos que foram testados em células humanas no laboratório e foram capazes de impedir a replicação do vírus. Esse é o principal requisito para uma vacina eficaz. Os níveis dos chamados anticorpos neutralizantes correspondiam aos encontrados em pacientes que se recuperaram após contrair o vírus na comunidade.

O resultado envolve um número pequeno de pacientes. A empresa anunciou que deve realizar novos testes em julho que podem envolver 600 pessoas. A Food and Drug Administration (FDA), órgão equivalente à Anvisa no Brasil, já autorizou a segunda fase dos testes. Caso os testes da segunda fase sejam bem-sucedidos, Tal Zaks, diretor médico da Moderna, afirma que uma vacina poderá ficar disponível para uso generalizado até o fim deste ano ou no início de 2021. "Estamos fazendo o possível para chegar logo ao maior número possível de doses".

O estudo clínico é realizado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, onde o Governo investiu US$ 500 milhões para essa potencial vacina. O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que aguarda a descoberta de uma vacina até o fim do ano.

Ministério

Com a falta de comando no Ministério da Saúde, que sofreu duas quedas de titular em menos de um mês, a participação do Brasil em iniciativas internacionais que buscam a cura da Covid-19 ainda é incerta.

Ontem (18), em pronunciamento online na Assembleia Mundial da Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde), o ministro interino da Saúde brasileiro, general Eduardo Pazuello, disse que "gostaria de reforçar o compromisso do Brasil em apoiar e participar de iniciativas internacionais", mas não deu detalhes.

Ele citou o estudo Solidarity, que compara tratamentos em vários países e que, segundo Pazuello, "reforça a cooperação internacional e procura garantir o acesso universal a diagnóstico, tratamento e vacinas, permitindo que salvemos vidas e voltemos em segurança ao normal, sem deixar ninguém para trás".

A relação do Brasil com a OMS piorou bastante durante a pandemia. Para se ter ideia, no último dia 30 de abril, Bolsonaro acusou a OMS de incentivar a masturbação e a homossexualidade de crianças. Bolsonaro voltou atrás e apagou o post publicado em seu perfil no Facebook minutos depois.

No texto, o presidente questionava as recomendações da OMS sobre a Covid-19 e indagava: "Deveríamos então seguir também diretrizes para políticas educacionais?" Sem citar fontes, Bolsonaro então detalhava supostas recomendações da OMS para crianças de 0 a 4 anos: "Satisfação e prazer ao tocar o próprio corpo (masturbação); expressar suas necessidades e desejos por exemplo, no contexto de 'brincar de médico'", postou.

Entrega só de 6% dos respiradores 

O Ministério da Saúde conseguiu entregar até ontem (18) somente 823 respiradores para apoiar redes de saúde no tratamento de casos graves de coronavírus.  O total representa menos de um terço dos 2.600 equipamentos prometidos para este mês e 6% dos 14.100 respiradores anunciados em abril pelo Governo Bolsonaro.

De acordo com o secretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde, Élcio Franco, o cronograma de entrega de equipamentos tem sido impactado por causa de problemas logísticos. “Ocorrem atrasos, problemas no desembaraço”.

Ontem (18), o Brasil registrou 674 novas mortes por coronavírus e 13.140 novos casos. O total de óbitos é de 16.792. Outros 2.277 óbitos estão em investigação. Já 100.459 se recuperam da doença.