USP avalia 6 mil grávidas para estudar relação entre Zika vírus e microcefalia

Gestantes sem sintomas serão acompanhadas em Ribeirão Preto (SP). Estudo deve apontar período de maior risco a mulheres, diz pesquisador.

USP inicia estudo que pode comprovar relação de zika vírus com a microcefalia (Foto: Gabriela Castilho/ G1) Gabriela CastilhoDo G1 Ribeirão e Franca A Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (SP) anunciou na quarta-feira (3) que começou a estudar a relação entre os casos de infecção do zika vírus e de microcefalia na gravidez. Coordenador da pesquisa, o virologista Benedito Lopes da Fonseca estima que 6 mil grávidas sem os sintomas da doença serão acompanhadas durante a gestação. Segundo o professor, o projeto deve ser concluído no final de 2017 e faz parte do desenvolvimento de um exame de sangue que associa a malformação do cérebro do bebê ao vírus ao detectar anticorpos do zika em materiais coletados na mãe e na criança. É um estudo pioneiro no Brasil, porque a maior parte começa com a grávida com microcefalia. Neste, nós vamos seguir as saudáveis para definir quantos bebês tiveram malformação cerebral" Benedito Lopes da Fonseca, virologista Desde que a captação das participantes começou, na segunda-feira (1º), 30 amostras já foram coletadas. "É um estudo pioneiro no Brasil, porque a maior parte começa com a grávida com microcefalia. Neste, nós vamos seguir as saudáveis para definir quantos bebês tiveram malformação cerebral", disse Fonseca. Investimento de R$ 500 mil A pesquisa, em parceria com o município e o Estado, tem um investimento estimado em R$ 500 mil e avalia exclusivamente gestantes do município que não tenham os sintomas do vírus e que sejam atendidas pelo Sistema Único de Saúde. O convite para participação voluntária é feito na primeira consulta do pré-natal. A gestante que aceitar passará por exame de sangue mensal, assim como no momento do parto, para detecção de todas as doenças que causam microcefalia: zika vírus, dengue, toxoplasmose, sífilis, rubéola, herpes e citomegalovírus. Segundo o coordenador do projeto, caso esteja infectada com o vírus, a paciente será encaminhada ao Hospital das Clínicas da USP (HC-RP). Em caso de detecção de microcefalia, a gestante será levada ao ambulatório de medicina fetal do HC-RP, onde passará por tratamento e observação. O virologista afirma que os resultados não serão imediatos, visto que as seis mil gestantes serão acompanhadas em períodos diferentes. “Pelo menos 15 meses é o tempo que eu vou levar acompanhando os pacientes. Depois, eu preciso fazer todos os testes, que devem ser pelo menos seis mil”, disse. Dados inéditos Apesar de o trabalho ser desenvolvido para estabelecer a relação causal entre as doenças, Fonseca diz que o estudo também trará informações inéditas sobre o zika vírus, tais como o período de maior risco para a paciente e em qual mês a microcefalia é causada - caso a associação seja confirmada. Segundo o virologista, o estudo realizado por sua equipe informará, inclusive, se a infecção assintomática prejudica o feto. "A gente também vai poder mostrar, no final do estudo, a real porcentagem das grávidas que tiveram zika e que vão ter microcefalia", acrescentou. Zika e dengue Fonseca não descarta a hipótese de que, em meio aos casos confirmados de dengue em Ribeirão Preto - com 927 registros desde o início do ano e quase cinco mil em todo o ano passado - estejam presentes casos de zika vírus. "É possível que este número estimado pelo secretário [de Saúde de Ribeirão Preto] tenha muitos casos de zika ao mesmo tempo, porque as doenças têm uma manifestação clínica muito parecida", apontou.

destaque7