Transplantes crescem no primeiro semestre no CE

Novos números refletem mais vitórias na realização de transplantes nos primeiros seis meses do ano no Ceará. Segundo a Central de Transplantes do Estado, de janeiro a junho deste ano, foram realizados 608 procedimentos de sucesso, 33 a mais do que em igual período do ano passado, que registrou 575. Um dos destaques deste avanço foi o coração. Enquanto no primeiro semestre de 2011 foram feitos 11 transplantes, neste ano já contabilizamos 17, um aumento de 54% de cirurgias.

A cabeleireira Fátima Nepomuceno, 59 anos, mãe de três filhos, foi uma das beneficiadas com um transplante de coração, em janeiro deste ano. Hipertensa, ela nunca controlou a sua alimentação por achar que não corria riscos. Mas, de repente, no ano de 2010, sofreu um infarto do miocárdio. Então, começou o sofrimento. "Uma semana após o infarto, fui diagnosticada com o coração crescido, derrame no pericárdio, água na pleura, problemas na tireoide e diabete. Me submeti a um cateterismo e coloquei um stent", relatou.

Ela conta que passou dois meses internada no Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (Hospital do Coração de Messejana), mas, devido à gravidade do quadro, foi indicada a fazer o transplante de coração. No dia 7 de janeiro, a cabeleireira passou por cirurgia, mas o órgão foi rejeitado. No dia seguinte, o coração de um homem de 37 anos salvou a vida de Fátima. "Nasci de novo. Tive muita sorte. Sou muito grata a essa família que fez essa doação. Sou doadora e tenho orgulho em dizer", ressalta.

Para o coordenador dos transplantes de coração do Hospital de Messejana (HM), João Davi de Souza Neto, o aumento do número de transplantes de coração é algo natural referente ao grande serviço da unidade. Conforme ele, durante o ano passado, foram realizados 25 transplantes do órgão no Ceará, e a expectativa para este ano é de 40 procedimentos. "Acredito que, com esse balanço semestral, o Hospital de Messejana seja a unidade do Brasil que mais tenha realizado transplantes. Até o fim da semana, a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) deve divulgar os resultados", diz.

A coordenadora da Central de Transplantes, Eliana Barbosa, explica que o crescimento no número de transplantes no Ceará está diretamente ligado ao aumento de doadores. Segundo ela, no primeiro semestre do ano passado, o Estado registrou 16,6 doadores efetivos por milhão da população. Já neste ano, de janeiro a junho, são 20,8. O que equivale a um aumento de 25,3% na quantidade de doadores em relação ao ano passado.

Eliana acredita que esta evolução está aliada ao bom trabalho da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott).

Conforme Eliana Barbosa, foi devido a essa iniciativa da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), juntamente com a divulgação positiva da mídia e as campanhas, que a negativa familiar de doações no Estado diminuiu consideravelmente.

De acordo com a Central de Transplantes, de janeiro a junho de 2011, o Estado registrou 40% de negativa familiar, ou seja, quando os órgãos deixam de ser doados porque a família não permite. Já neste ano, esse número caiu para 33%. "Este resultado é bastante positivo e mostra uma sensibilização por parte da população", destaca.

A coordenadora ressalta que a parceria com a Defensoria Pública do Estado, firmada desde dezembro do ano passado, também colaborou para o crescimento das doações. Segundo ela, casos como, por exemplo, de doadores que não possuem documentos, ou que têm apenas um companheiro ou companheira sem união estável, que antes demorariam dias ou meses para serem resolvidos na Justiça, são solucionados em horas.

Ainda segundo Eliana, 24 transplantes foram feitos neste ano no Estado através dessa parceria. "A Defensoria Pública oferece atendimento 24 horas. Isso não existe em lugar nenhum do Brasil", destaca.

Doe de Coração

Conforme Eliana, a campanha Doe de Coração, lançada em 2003, pela Fundação Edson Queiroz, tem sido uma das maiores impulsionadoras desse crescimento, pois vem ressaltado a importância de salvar vidas por meio das doações de órgãos.

"Os meios de comunicação aliados às campanhas sempre dando notícias positivas esclarecendo as dúvidas da população são de fundamental importância para o aumento das doações. Não haveriam doadores se não existissem campanhas", diz a coordenadora da Central.

A campanha Doe de Coração consiste em um movimento efetivo de conscientização realizado anualmente por meio da veiculação de peças publicitárias nos principais meios de comunicação, como TV, jornal, rádio e internet, distribuição de camisas, cartilhas e material promocional de apoio, além da realização de palestras com profissionais especializados.

KARLA CAMILA
REPÓRTER dn