Gestores apresentam ideias para problema da seca

Iguatu. A Aprece propõe algumas medidas de combate aos efeitos da seca: regulamentar a Lei Estadual de Combate à Desertificação e Convivência com o Semiárido e garantir uma dotação orçamentária para a aplicação da Política Estadual de Convivência com o Semiárido; tornar o Comitê Integrado de Combate à Seca permanente; e promover a mudança do padrão tecnológico para melhorar a eficiência hídrica tanto dos sistemas de abastecimento humano como os da irrigação.

A cobrança de prefeitos recai em ações imediatas. Para, as obras hídricas estruturantes como Cinturão e Eixão das Águas, Transposição das Águas do Rio São Francisco e canais de interligação são de longo prazo. 

A maioria dos prefeitos avalia que obras hídricas estruturantes, tais como, o Cinturão e Eixão das Águas e a Transposição das Águas do Rio São Francisco, além dos canais de interligação para os açudes e rios, demandam tempo superior a duas décadas. "São projetos importantes, mas para longo prazo", observa o prefeito de Mombaça, Ecildo Evangelista Filho. "A interligação do Rio Banabuiú e o programa de poços precisam ser revistos com urgência", diz.

A cidade de Crateús está à beira do colapso no abastecimento d´água. O açude Carnaubal, responsável pelo abastecimento, está com menos de 10% da capacidade e, se não ocorrerem nos próximos dias intensas chuvas, logo o bombeamento será feito a partir do volume morto do reservatório. Grande parte da zona rural, desde o ano passado já passa por calamidade, sendo atendida pela Operação Carro-Pipa, com 18 veículos fazendo o transporte de água para diversas localidades.

Safra perdida

O prefeito de Crateús, Carlos Felipe, lamenta a perda da safra."Até agora é total na agricultura e os animais praticamente sem alimentação, já que o milho da Conab é insuficiente e os governos federal e estadual, até agora, não têm um plano para prover água para os municípios em colapso", disse. O gestor sugere que a cidade deveria receber pelo menos duas máquinas para perfuração de poços, e que o governo federal destinasse todos os seus esforços e recursos para amenizar o quadro de calamidade no Nordeste. "Chega da palavra preocupação, usem a palavra ação", desabafa o prefeito.

A situação nos municípios do Cariri, mesmo os que não têm tradição forte em cultivo agrícola, a exemplo de Juazeiro do Norte, começa a se agravar com o quadro de seca. Segundo o prefeito Raimundo Macedo, a área rural do município é pequena, mas toda agricultável. "Isso é um problema porque afeta todos os produtores rurais", disse. "A queda na produção agrícola e pecuária afeta a economia regional".

Em Barbalha, a luta nesse momento é na modernização do sistema de abastecimento da zona rural, principalmente para estender a água das fontes até as moradias. Segundo o prefeito, José Leite, a falta de chuvas ainda não pode ser considerada, neste ano, um grande problema, por não ter sido realizado o levantamento das perdas de safra. Ele afirma que essa realidade poderá se tornar mais evidente após o Dia de São José, 19 de março.

Sem chuva, a falta de água em algumas localidades do município de Barbalha para os animais vem se agravando com o passar dos dias. "O problema realmente tem se complicado a cada semana", disse o prefeito José Leite. Há áreas na zona rural que choveu apenas de 15 a 20 milímetros. O gestor solicitou a perfuração de poços profundos.

O prefeito de Mombaça, Ecildo Evangelista Filho, disse que a reserva média de água na zona rural é de apenas 15% e no reservatório Serafim Dias que abastece a cidade é de 32%. "A situação é crítica", disse. "O governo debate a seca, mas as ações são tímidas". O gestor afirmou que nos últimos oito anos não foi perfurado nenhum poço no município por nenhum órgão público estadual ou federal. "Até agora, recebemos 230 cestas básicas doados pelo governo estadual".

De acordo com o prefeito do Crato, Ronaldo Gomes de Mattos, tanto o governo federal como o estadual não previam essa grande seca e, por isso, ainda precisam aprofundar os estudos sobre as ações a serem realizadas. A construção de novos reservatórios pode ser a saída para evitar que as comunidades atravessem dificuldades provocadas pela falta de chuvas.

Em Tarrafas, a Prefeitura planeja decretar estado de calamidade pública. Em muitos sítios, os açudes secaram. Segundo a prefeita Lucineide Batista de Oliveira, as famílias, que mantinham atividades ligadas à agricultura e à pecuária, estão sem renda, e aguardam a distribuição de cestas básicas.

"As ações e programas dos governos ainda não atendem a todas as demandas", disse. Para abrandar a situação, recentemente, a prefeitura solicitou ao governo do Estado, o envio de seis carros-pipas. "O Governo precisa investir mais na irrigação. Os nossos agricultores não podem mais esperar e estão sem condições de trabalho".

Estado de calamidade

A situação da seca nos dois maiores municípios do Sertão Central, Quixadá e Quixeramobim, é praticamente a mesma, de calamidade. Apesar de possuírem atividades pecuárias e aportes hidrográficos diferentes estão sofrendo por causa da estiagem.

Os gestores públicos dos dois municípios, o primeiro com 2 milhões de Km² de área e o segundo com 3,2 milhões de Km², avaliam a situação como crítica, e deve se agravar com o prolongamento da seca. O prefeito de Quixadá, João Hudson Bezerra, teme inclusive colapso no abastecimento de água da cidade, onde se concentra a maior parte dos 80 mil habitantes, conforme o último censo do IBGE, em 2010. Em Quixeramobim, o prefeito Cirilo Pimenta também se preocupa com o abastecimento, tanto na área urbana como na zona rural. Caso não sejam adotadas medidas emergenciais, cerca de 70 mil habitantes, pelos dados do mesmo senso, vão embora para outros centros urbanos ou morrerão de sede.

O prefeito de Quixadá, João Hudson, mais conhecido como João da Sapataria, reconhece o esforço do secretário do Desenvolvimento Agrário (SDA), Nelson Martins, com a situação no sertão do Ceará. O Governo Federal também está contribuindo. Instalou um posto de distribuição da Conab na cidade. Todavia, o gestor municipal considera ainda muito tímidas as medidas de amparo adotadas nas duas esferas governamentais.

Segundo ele, o Estado possui apenas seis perfuratrizes, duas delas estão danificadas. Se todas estivessem funcionando, poderiam perfurar 50 poços por mês, mas já existem 284 pedidos na fila do desespero. O açude Pedras Brancas, responsável pelo abastecimento da área urbana de Quixadá está apenas com 30% da sua capacidade. Se não chover, será necessário interligar a rede de abastecimento local a do açude Castanhão. No caso dos animais, mais de 30% do rebanho já morreram de fome e de sede. Sem a perfuração de poços e o aumentando da distribuição de milho será impossível manter o restante vivo. "É preciso acordar. Não deixar para última hora a assistência ao sertanejo", concluiu.

Na avaliação do prefeito de Quixeramobim, Cirilo Pimenta, as medidas adotadas pelos governos estadual e federal ainda estão muito aquém das necessidades emergências enfrentadas em todas as regiões afetadas pela seca. Apesar da maioria dos açudes e rios estarem secos, restando apenas a barragem do Fogareiro, com pouco mais de 30% de sua capacidade hídrica e outros dois reservatórios de médio porte na mesma situação, o município precisa com urgência de máquinas para perfurar poços. Sem eles o maior rebanho leiteiro do Ceará, melhorado geneticamente ao longo de décadas, corre o risco de virar couro e osso. Mais de 30% dos animais já morreu. Para piorar a situação, não há para onde levar o gado. A inspeção sanitária não permite.

"Nossos governantes estão gastando R$ 32 bilhões nos estádios, para a Copa do Mundo, mas não tem dinheiro para socorrer o sertanejo ?", desabafou.

Soluções mais eficazes

"Falta planejamento e tomada de decisão nas obras de segurança hídrica por parte do governo federal"

Adriana Pinheiro/Presidente da Aprece

"Os governantes estão gastando R$ 32 bilhões nos estádios, para a Copa, mas não têm dinheiro para socorrer o sertanejo?"

João Hudson (João da sapataria)/Presidente de Quixadá

"O milho da Conab é insuficiente e os governos federal e estadual, até agora, não têm um plano para prover água"

Carlos Felipe/Prefeito de Crateús

"É preciso um novo sistema de logística para que o milho adquirido pela Conab chegue em maior quantidade e rapidez"

Veveu Arruda/Prefeito de Sobral

HONÓRIO BARBOSA/CORRESPONDENTES
REPÓRTERES