PROPOSTA POLÊMICA: Projeto do Museu do Mar pode ser resgatado no Ceará
A “arquitetura arte” de Oscar Niemeyer expressa nos traços que mesclavam elementos modernos e barrocos, fazendo das suas obras verdadeiros monumentos que, além do Brasil, embelezam cidades de vários países mundo afora, também passou pelo Ceará. Ainda que de maneira acanhada, o legado do arquiteto centenário se materializa em duas obras e no projeto do Museu do Mar, na Praia de Iracema, em Fortaleza.
Uma das obras é o prédio da extinta TV Manchete, localizado na Avenida Antônio Sales esquina com a Rua Barbosa de Freitas, a outra, trata-se da famosa Casa Johnson, de propriedade do empresário norte-americano, Herbert Johnson, na Avenida Beira-Mar, construída em 1942, abrigando hoje o Hotel Mareiro.
Após a reforma, a construção ainda conserva traços do projeto original assinado pelo arquiteto-artista que conseguiu “produzir símbolos nacionais”, afirma Marcondes Araújo Lima, arquiteto e urbanista, que também é professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Diferentemente do edifício da extinta TV Manchete do Rio de Janeiro, o prédio de Fortaleza não apresenta características próprias das obras de Niemeyer, marcadas pela exuberância das formas. No caso, o edifício no Ceará foge totalmente ao estilo do arquiteto que promoveu o nome da arquitetura brasileira para o resto do mundo.
No entanto, o projeto é atribuído a Niemeyer, que chegou aos 104 anos fazendo o que mais gosta na vida: brincar com as formas, ao criar espaços em que, muitas vezes, a concepção estética se sobrepõe à funcionalidade. Mas é dessa maneira que Niemeyer constrói não apenas seu nome, mas promove o Brasil, além de contribuir para popularizar a arquitetura.
Independentemente da classe social e do grau de instrução, poucos são os brasileiros que não associam o nome de Niemeyer ao criador de Brasília.
O arquiteto cearense Fausto Nilo fala sobre “a casa modernista”, como era conhecida a residência de Herbert Johnson, fabricante de cera de carnaúba que chegou ao Ceará por volta de 1935, com o objetivo de pesquisar sobre as potencialidades da palmeira, símbolo da resistência do povo do Nordeste. Lembra que a casa possuía uma rampa, que após a reforma, fica no meio da recepção do hotel.
Fausto Nilo considera Niemeyer um nome “fundamental, um dos maiores arquitetos do mundo”. Seu reconhecimento, sobretudo após a construção de Brasília (1956/1962) fez com que muitos arquitetos viessem de outros países para conhecer a cidade-modelo. “A influência na nossa geração dos anos 1970 foi fundamental”, afirma Fausto Nilo. O cearense considera Niemeyer um gênio que serve de inspiração ética e profissional. “Devemos demais a ele pela contribuição para modernizar o Brasil”, avalia.
Museu do Mar
Uma obra de Niemeyer que não saiu do papel. Assim pode ser definido o projeto do Museu do Mar, desenhado pelo arquiteto em 2003, aos 95 anos. Ele concebeu a obra em forma de diamante, que seria construída na Praia de Iracema, com entrada na altura do espigão da Avenida Rui Barbosa.
O projeto foi feito durante o governo de Lúcio Alcântara (2003/2007) com o objetivo de mostrar a relação do homem cearense com o mar. Com forma octogonal, a área total do equipamento é de 4,5 mil metros quadrados e o “diamante”, em vidro, teria 65 metros de diâmetro e 20 metros de altura.
“É um projeto muito bem feito”, define Lúcio Alcântara, que diz não saber informar por que a obra não seguiu em frente. O projeto já continha os cálculos para sua execução, no entanto “uma série de obstáculos impediu que fosse executada”.
Pirambu
O ex-governador lamentou o fato de o Ceará não contar com a obra projetada por Niemeyer, acrescentando que houve muita reclamação à época e que quiseram transferi-la para o Pirambu.
“O projeto original previa a construção no espigão da Rui Barbosa, conta. Na parte central, ficaria o museu semelhante ao formato de um diamante”, diz, comparando a obra ao Museu de Arte Contemporânea (MAC), construído pelo arquiteto, em Niterói.
“Tenho ainda o projeto comigo. Acho que até a licitação chegou a ser aberta”, recordou, admitindo que a não realização foi “uma das coisas me deixaram triste”. Lúcio contou ainda sobre a presença do projetista de Niemeyer, José Carlos Süssekind, que ao sobrevoar a cidade para achar o local mais apropriado para a construção, escolheu a Praia de Iracema.
Retomado
Segundo a Assessoria da Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra), a proposta do Museu do Mar nasceu da demanda de se criar um espaço para incentivar o desenvolvimento de atitudes preservacionistas, estimular a reflexão sobre a relação dos grupos humanos com o mar, histórica e contemporaneamente, além de valorizar o patrimônio cultural dos povos do mar.
A intenção era que o projeto se tornasse um ícone cultural e turístico de Fortaleza. Ele está finalizado, com estimativas de custos em torno de R$ 27 milhões. Segundo a assessoria, o projeto deverá ser retomado pelo atual governo.
IRACEMA SALES
REPÓRTER
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