Em conversa com Cid, ex-ministro da Defesa chama Bolsonaro de 'ingrato' após isolamento nos EUA: 'Ele não fala nada'
General Paulo Sérgio é um dos 37 indiciados pela Polícia Federal por suposta participação no plano de golpe de Estado
Por - Eduardo Gonçalves — Brasília - 28/11/2024
O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, abre oficialmente a 15ª Conferência de Ministros de Defesa das Américas (15ª CMDA), no Centro de Eventos e Convenções Meliá Brasil 21, em Brasília. — Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil Local: Brasília-DF
Um dos 37 indiciados por suposto envolvimento no plano de golpe de Estado, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira demonstrou descontentamento com o ex-presidente Jair Bolso-naro por ele não ter respondido aos seus contatos após deixar o país em direção à Flórida (EUA) no fim de 2022.
"Mando mensagem pro PR, mas ele não fala nada, apenas encaminha o de sempre. Chega a ser ingrato, mas tudo bem", disse o general em mensagem enviada ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em 19 de janeiro de 2023. Naquele momento, os atos gol-pistas de 8 de janeiro já haviam ocorrido, o presidente Lula estava empossado no cargo, e Bolso-naro permanecia isolado nos Estados Unidos — sem previsão de volta ao Brasil.
"Vamos em frente. Quais são os planos dele, volta quando? Estamos aqui, acompanhando tudo e defendendo sempre o PR. Abraço! Selva!", acrescentou o ex-ministro da Defesa. As conversas interceptadas aparecem nos relatórios da PF sobre a trama golpista.
Alguns dias antes, em 2 de janeiro de 2023, Cid havia enviado uma notícia a Nogueira, demons-trando preocupação em ser preso por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. O general tentou tranquilizá-lo:
PF reuniu indícios que conectam o ex-presidente Bolsonaro às articulações com teor golpista de impedir a posse do presidente Lula
"Bom dia amigo! Vai acreditar em tudo que mandam??? Um dos maiores erros do PR foi acreditar muito nas mídias sociais!. Estamos juntos!", escreveu ele, ao que Cid respondeu:
"Eu tenho que me preparar para todas as LA (linhas de ação) que o inimigo possa tomar".
O general concordou e se colocou à disposição: "Concordo Amigo! Eu também! Conte conosco". Nogueira ainda não se manifestou após o indiciamento.
Segundo o relatório da PF, que foi tornado público nesta semana, o ex-ministro da Defesa atuou para pressionar os comandantes das Forças Armadas a aderir ao plano golpista de manter Bolsonaro no poder e impedir a posse de Lula. Conforme as investigações, a trama não vingou porque o chefe do Exército e da Aeronáutica se recusaram à proposta.
Em depoimento prestado à PF em março deste ano, o brigadeiro Baptista Junior, ex-comandante da Aeronáutica, confirmou que foi convocado por Paulo Sérgio Nogueira para uma reunião no Ministério da Defesa no dia 14 de dezembro de 2022 na qual foi lhe apresentada uma minuta com teor golpista.
"O depoente disse que fez o seguinte questionamento ao Ministro 'Esse documento prevê a não assunção do cargo pelo novo presidente eleito?'. Baptista Junior afirmou que, após sua indagação, PAULO SÉRGIO ficou calado, e diante disso entendeu que que haveria uma ordem que impediria a posse do novo governo eleito. Em seguida, o depoente relatou que disse ao Ministro da Defesa que não admitiria sequer receber o documento e que a Aeronáutica não admitiria um golpe de Estado. Em seguida, retirou-se da sala", diz a PF.
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2024/11/28/em-conversa-com-cid-ex-ministro-da-defesa-chama-bolsonaro-de-ingrato-apos-isolamento-nos-eua-ele-nao-fala-nada.ghtml
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